Maria J Fortuna
O tempo II
O tempo desata as rédeas da vida
Que cavalga veloz
Retira as presilhas do vento
E desmancha as tranças
Douradas e negras
De um rosto de mil faces
Em cujos olhos residem
O profundo
O mutável
Ó eterno
E que mãos sutis possui o tempo!
Com tal sutileza
Com tal singeleza
Toca
Cada coisa em cada um
E tudo se transforma
Como chamas em boca de forno
Alquimia do ser
Que tudo quer ter
Inútil aspiração!
O tempo cumpre
E tudo leva
Sem deixar vestígios
Nas pregas do seu vestido invisível
Não deixa pegada alguma
Dos dias, meses, anos vividos
Roupagem de contas
Que o homem inventou
Para cobrir sua nudez mortal
Belo Horizonte, 03.02.1993
|