Terezinha Carvalho de Morais
Estudos & catálogos — mãos de Soares Feitosa
Quatro paredes, um gole d'água, um galo calado, umas pontas quebradas, um
riso esquecido, uns papéis amassados, uma cadeira amarela e naquele amarelo
não tingido a priori de mim encolhida, embebida, alimentando-me da tarde e
da introspeccão embriagadora nas horas das quatro – era só um dia de sol,
de sertão, de feijão, de abril e de poesia, e de carta. De carta?! Sim, de
carteiro e tudo com correspondência timbrada: JP. No amarelo em mãos
reconheci o meu corajoso nome, era para mim (fiquei azul de curiosidade).
Como um amarelo viajado poderia ter sido enviado para mim? Como descobriram-me
neste invólucro de poesias, sonhos e cajus? A tarde recolhia-se e abraçava
a noite. Quem me descobriu? Quem? Foi ele, sim foi ele! O vaqueiro que faz
sua sorte, o dono das mãos que tecem as manhas e que sabe fazer arte na vida,
aquele que ver ferrar o boi dos sonhos de menino, a voz daquele que aboia aos
ventos, o dono do perfume que banha a aurora e que lê o mundo com a empiria
dos sábios. Sim, foi ele, o meu amigo, um amigo sim que presenteou-me
surpresas e palavras colhidas dos tempos, um amigo desconhecido e hábil
que ofereceu-me o cálice da doce sensação de ser descoberta. Eu tinha um
amigo e nem sabia. Sim ele era, ele era um amigo-poeta. E o amarelo?! E o
azul?! E o fim de tarde?! Tingiram-se todos de cores: de soares, de
feitosas, de terezas, de marias, rúis, virgílios, rosas e de poesias.
Valeu mesmo! Queria oferecer-lhe amigo-poeta algo de pincelada minha mas
não sei se devo e fica a interrogação se desejarias algo assim tanto tempo
engavetada no sonho de menina junto com os grilos, os aninhos, os sonhos e
o cheiro de café de lenha da simplicidade das horas.
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