Estudos &
catálogos — mãos
Dos
leitores
Rodrigo
Marques
Subject: Testemunho
táctil-ocular
Estava
no escritório de Soares Feitosa quando o correio chegou com o
livro Recordel de Virgílio Maia. Vi Feitosa abrindo o
envelope e
retirando estranho papel
de couro de bode, leu para mim o pedido de prefácio. Em seguida
passou os dedos curtos por sobre a textura do couro e abriu a esmo
o livro de Virgílio:
O
dia vai começando
e
diante d’Ele me calo.
No
seio da escuridão
se
escuta assim um abalo:
toda
a caatinga estremece,
pois
mais parece uma prece
o
primo cantar do galo.
"Tem-se
que ter sorte ao abrir um livro - disseram-me".
O
livro ficou por alguns dias no escritório, mas logo desapareceu.
Passado um mês - mais ou menos, Recordel retornou sob a
forma de Estudos & Catálogos - Mãos, contendo quase
tudo que, durante o tempo em que trabalhei no escritório,
comentamos (eu, Feitosa e o advogado Rogério Lima): o júbilo, a
matança do porco, as mãos, a festa, o cururu, a poesia, a festa,
o retorno do filho pródigo, a festa.
A
minha primeira impressão foi de achar que tudo pode e deve ser
escrito, pois o texto de SF, pensando bem, não passa de uma
lista, mas disposta de uma forma tal que o leitor não deixa de
revisitar o seu catálogo pessoal, suas recordações, seus
estudos. Logo, tudo pode ser escrito, desde quê...
Fui
o primeiro (acredito) a ler o texto em voz alta, iniciando,
naquele instante, o debate vivo que se pode ver no livro-prefácio
Estudos & Catálogos - Mãos, primeiro rebento das Edições
Cururu, que se ganha, de repente, pelo correio ou pela
Internet.
Com
o circuito de comentários e com a distribuição artesanal,
Feitosa conseguiu resolver o problema do livro de Virgílio: o de
ser apenas um. Com o prefácio, Recordel tornou-se duplo;
com os comentários, triplo; com o Jornal de Poesia, sem margens.
Só
a Arte, Sr. Leitor, só a Arte!
Rodrigo
Marques
Francisco
Francijési Firmino
Poeta
Soares,
Fiquei
tão maravilhado com a sua escrita que até tive vergonha de ter-lhe
mandado o que escrevi.
Não
quero lhe dizer nada enjoativo e que pareça demagogia, mas você me
proporcionou momentos de muito prazer com a sua escrita.
Francijési
Maria
da Graça Almeida
Poeta,
A
certeza da tinta que de sua pena desliza tem magia e alumbramento.
Deixa
um rastro no papel, cujo percurso é a própria vida, com as
doações e as maravilhas que só podemos encontrar na bênção dos
imortais.
Maria
da Graça Almeida
Fernando
Matos
O
IMPOSTO DO AMOR
Para
o tributarista
Soares
Feitosa, depois de ler
Estudos
& Catálogos - Mãos
Quem
disse que o amor tem insumos?
Gera
crédito, gera débito, afins, cofins, sem fins.
Está
inscrito n’Ela, o amor é imune.
Não
há medida que o modifique, o transforme,
Nem
que seja provisória, MP.
O
Amor não é imposto, nem posto; chega, achega-se,
Aliás
está escrito na Lei d’Ele, a maior:
Amá-Lo
sobre todas as coisas.
O
amor não é no lucro presumido, é real,
Não
pode ser medido, nem cobrado,
Não
há o que ganhar, nem o que perder,
Perdões.
Absolvido, remido, anistiado.
Não!
Parcelar, não pode!
Sem
outros cálculos, palavra de engenheirio
há
de ser íntegro, intacto.
Madrugada
de 18 de fevereiro de 2004
Astrid
Cabral
Meu
caro Soares Feitosa,
Que
bom receber um presente vindo de você! Li com extremo deleite Estudos
& Catálogos — Mãos. Além de bom poeta, você é um
prosador primoroso. Tem raro domínio lingüístico e o olhar
voltado para o essencial telúrico, tão ameaçado pela abusiva
urbanização do Brasil contemporâneo. Para mim esse mundo rural do
Nordeste arcaico é fascinante, e o retrato que você em poucas
páginas nos dá é conciso e perfeito. Se vivo, Mário Andrade
bateria palmas.
Ao
produzir literatura da melhor, você também faz sociologia.
Pergunto: Emile Durkheim, ao tratar da divisão do trabalho,
examinou com tanta argúcia esses dois universos distintos onde
atuam as mãos do homem e as mãos da mulher? Se examinou,
certamente não se valeu da linguagem literária, pois esta é que
"ferra" para sempre a lembrança. O prefácio alvoroça
seus leitores para conhecer o Virgílio cearense, manusear-lhe as
novas geórgicas.
Astrid
Lucius
Matos
Por
que não dizer? Muito obrigado! Fiquei contente ao saber que chegou.
Li,
mas nem todos os comentários. Fui até o fim. Pensei: será que ele
é rico?! Todos que querem participar do Jornal de Poesia recebem um
‘troço’ desses? As fotos estão coloridas!
Na
semana passada, quantas edições foram enviadas? Não seria
prático tê-las on-line? Com certeza! Mas que palavras
poderia escolher para transfigurar o que senti quando chegou? E o
meu nome, na capa, escrito a mão, de tinta preta? Não. Se fosse
n-line, não!
Confesso:
nem li o prefácio! Abri bem no meio e comecei a ler. Assustei-me.
Fotos?! Cadê os... os... os poemas?! Fui para o fim. Continuei
lendo. Acho que peguei a conversa pelo meio! Tive que voltar para a
página 1 e só então perceber que era um prefácio. Se não fossem
a nota e os vários comentários, imaginaria um trecho de algum
livro seu.
Sou
simples e humilde nos modos. Não tenho o dom da escrita, das
palavras. Mas espero que entenda a minha ignorância: se for um
prefácio, um chamariz, será julgado bom se conseguir despertar o
desejo de quem lê. Cabe ao leitor julgar a obra. Ele não gostará
de tudo, ‘ou não’, como dizem os sábios baianos. Quase todos
comentam o seu prefácio como uma obra de arte, desejando ler o tal
livro. Pela receptividade, talvez, deseje agora lançar um livro com
outros prefácios seus.
Iniciei
o meu argumento com um se, a lógica exige um então.
Se for um prefácio, um chamariz... Então podem os prefácios serem
tão conhecidos e comentados quanto os livros que os hospedam?
Se
sim: que beleza! Quando vai sair?!!! Se não: Este programa
executou uma operação ilegal e será fechado. Se o problema
persistir, entre em contato com o seu fornecedor.
Muito
obrigado por esta edição!
Lúcius
Matos.
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