Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

 

 

 

Um esboço de Leonardo da Vinci, página do editor

 

 

Webston Moura

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna: 


Alguma notícia do autor:

   
 
Culpa

 

Raquel Naveira

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Allan R. Banks (USA) - Hanna

 

 

 

 

 

 

Webston Moura

 

 


De saias

 
 

pouco ou quase nada

entendo

se de saias

vem o pensamento

como um fogo

ou um lago

dito mulher,

este todo sentimento

abarcando

meu

nome

(que

parece

me conter)

que

grita

e

ama.

 

 

 

Nilze Costa e Silva

 

Eliane Accyoli Azevedo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

John William Godward (British, 1861-1922), Belleza Pompeiana, detail

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sandro Botticelli, Saint Augustine, Ognissanti's Church, Firenze

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 
 

Clauder Arcanjo
 


 

Encontros imprecisos, de Webston Moura

 

pardais aveludam o nascente
há pedras orvalhadas no terreiro
Webston Moura

 

Recebo pelo correio, presente do escritor Dércio Braúna, mais um lançamento poético do meu chão cearense. Desta feita de um filho de Morada Nova: Encontros imprecisos: insinuações poéticas, de Webston Moura, Fortaleza: Imprece, 2006.

Webston nasceu em Morada Nova, cresceu em Limoeiro do Norte e, atualmente, reside em Russas, interior do Ceará.

Ao folhear o tomo, a informação: "A presente obra foi selecionada no II Edital de Incentivo às Artes da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará - 2004/2005." "É o governo cearense dando chances aos novos talentos que se encontram fora das igrejas literárias da capital alencarina." - pensei.

Dividido em três partes: Primeiro Passeio, Segundo Passeio e Terceiro Passeio, a obra é um todo homogêneo, apesar de conter uma ligeira diversidade temática. Impera o despojamento rimário, em versos, quase todos, construídos com sentenças livres, aparentando uma independência enganosa, mas que, na verdade, ao final, moldam um mosaico singular e bem estruturado: "cios de mim se procuram/ o primeiro passo voa abismo/ o inesperado dormia na fenda"; "quisera tracejar ostras em cortinas/ e tudo é barro ainda sem forma/ um náufrago é um guia às avessas/ dias urgem cabisbaixos/ meu tino alisa miras no cotidiano".

Fragmentário, sim, como é comum aos vezos do universo jovem, ainda em crise de assunção lírica e refém dos profundos embates, tão afeitos à 'redenção' criadora: "as intestinas lutas se acossam/ pausa no chá verde-cidreira/ a infância ri em sua infância/ medos e desejos afiam estratégias"; numa espécie de lógica póstera.

Algumas vezes, impera, na poética de Webston Moura, uma profusão de vocábulos herméticos, ora bem-postos, ora sob o signo perigoso da "sapiente erudição" ("toda agonia acinzenta o organismo/ anodinias desalargam tremoceiros...").

Suas construções mais soltas falam melhor do seu eu interior, das suas inquietações filosóficas, do seu encontro, inquieto e amargo, com o impreciso da vida: "não se mexe no solar das borboletas/ nomes apodrecem nas paredes".

O poeta se denuncia, quando se anuncia nos desvãos de "Caliças": "e sou eu forma disforme na maré de bilhas/ uma pessoa em identidade e lugar local/ eu e meus ganchos de evadidas pronúncias/ sou olhando o espelho e comendo arroz/ penso no lastro do poço fundo/ cultivo dragões e nomes de pessoas/ estou aqui entre os (des)semelhantes/ minhas caliças amalgamaram-se com amores/ minhas palavras são o que conseguem".

No metapoema "Alma de lacrau", Moura assume, como se por entre dentes, ares de sugestiva contenção: "o poema e eu em trens sem trilhos/ nenhuma data rezinga na solidão de agora", pois bem sabe ele, como vaticina em "Crostas", que "o mínimo no dizer é para gatilhos rápidos/ (...)/ é no mármore que não esquecemos/ coisas do poema empoeiram a despensa". Sem falar em "Sábios saibros": "grito até o grito vir pra dentro/ água dura em triste dia tanto fala que tropeça".

E, assim, em meio a um caudal poemático excêntrico, Webston Moura navega em oceanos de "Um mapa-múndi" bizarro e sentimental, fincando âncoras repletas de amarras novas e raros disfarces: "meus incensos de velame ascendem às corujas/ ao ar estão os olhos de outras medusas/ entro no quarto e deito minguante/ há rugas felizes nas pouquices dos caibros/ em mim entram o puir e o conjugar/ estou em pejos e desatinos irreverentes/ meu mapa-múndi transvasa imprecisões".

Em "Quase-rubro", "o silêncio está pessoa há tanto tempo/ as roupas não usadas cultivam poeira/ dentro das paredes dorme a água remota...".

Existe um ar de imprecisão nesses versos inaugurais de Webston Moura, há um jeito de quem se finge perdido para debulhar melhor os seus achados, num dédalo sem fim, na "noite onde os mitos fazem festa". Incauto, o leitor frui por entre tais mormaços, como a querer "dormir em contra-senso no siso do calor/ cantar o crepom dos insetos em meio às chuvas/ esquecer as mãos molhadas de vinagre sobre o rosto/ deixar que os remos digam os rumos do vagar...".

É preciso ter arte e magia para "assimilar confrontos e conformidades de hidras/ ter gaguez para disjungir discursos mortos", e o novo aedo Webston compõe "um traço torvo", sem embargo, belo e singular, onde "inclui necessária turbulência", e, quando assim o traduz, acata "o recato e o estrupício na mesma caneca" poética. Em bendita nutrição de palavras, colocando "óleo nas dobradiças enferrujadas", posto que "o corpo da musa colore a rua antiga".

Somos cientes de que "andamos iracundos/ num mundo guenzo", e Moura confidencia-nos: "tenho a resina das tardes/ me resenho em minhas sombras", "estou nos vincos dos pássaros", "cresço na pulsão do mundo/ onde muitos sentem fome/ de comida e de paisagem".

Estreia assim deve ser festejada, sempre, "antes que os relógios/ parem/ e os sonhos/ pereçam". Nos poemas de Webston Moura, reluz "O sol de dentro", fulgor apenas acessível aos bafejados pelo deífico sopro da Poesia: "solidão indeseja claustros para si/ misérias enlouquecem o eros dos seres/ oceanos se bastam a si sem arrogâncias/ uma pessoa para dentro se dobra/ fora de si um sol revela reminiscências/ nanicas palavras sonham asas/ o cotidiano em mistério se vive/ hormônios drapejam tédios". Encontros (im)precisos no debute literário de um valoroso vate: "o poeta e seu lápis de pão ázimo/ com azougue nas têmporas/ e um cavalo nas veias/ atenta contra a afasia geral/ que esteriliza o imaginário".

 

 

Direto para Clauder Arcanjo

 

 
 

 

 

 
Elizabeth Marinheiro

Início desta página

Edna Menezes