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Nilze Costa e Silva

Michelangelo, 1475-1564, Teto da Capela Sistina, detalhe

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia da autora:

 

Hélio Pólvora

 

Luís Antonio Cajazeira Ramos

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Plaza de toros

 

 

 

 

 

Nilze Costa e Silva


 

Bio-bibliografia


Nilze Costa e Silva nasceu na cidade de Natal, Rio Grande do Norte, em 19 de fevereiro de 1950, mas, sem tendências para as migrações continentais, preferiu a vida mais calma que ainda se pode levar no País dos Nordestinos. Dentre as opções oferecidas pela própria região, decidiram por ela que, a partir de 1 ano de idade, que iria morar numa cidade muito amada: Fortaleza-Ceará. Verdadeiramente apaixonada por essa cidade, mora nela até hoje.

Meninou pela rua Dragão do Mar até os 13 anos, banhando-se nas águas cálidas da Praia de Iracema, em frente ao histórico bar Estoril, que mais tarde freqüentaria nas noites de boemia e onde também coordenaria o projeto Poemas Violados, roda de poesia intercalada por música ao violão da (quem diria!) sua filha Aline Costa.

Levada da praia de Iracema por seus pais, ainda olhou longe o mar, antevendo que um dia adotaria uma outra praia, dessa vez Lagoinha, recanto lindo onde gosta de ir nos feriadões para ler, meditar, orar, escrever, tomar sol e também umas cervejinhas que ninguém é de ferro, nem mesmo o poeta de Itabira.

Um dia, no colégio onde fazia o primeiro científico, Nilze Costa e Silva conheceu alguém que a encantou. Com ele casou e pariu seus dois filhos, o psicólogo Alexandre e a cantora Aline, segundo ela, "duas pérolas raras que Deus deve ter ido buscar no fundo do mar para me presentear". Desde então diz que passou a ter uma excelente relação com o Criador, "que também me deu um marido invejável, o poeta Manoel César, advogado e procurador Federal".

Para resumir, Nilze graduou-se em Administração de Empresas e exerceu sua profissão no extinto INAMPS até se aposentar. Antes disso foi diretora do Sindicato da Previdência, na área cultural, Conselheira do Conselho Cearense dos Direitos da Mulher e terminou por fundar uma ONG chamada NAVE - Núcleo de Ação e Valorização da Espécie Humana, que desenvolve ações educativas que possibilitem atitudes positivas de auto-estima, fortalecimento da condição feminina e o resgate do valor social, individual e político da infância e da adolescência na perspectiva de prevenção à violência. É Pós-graduada em Teoria da Literatura - UNIFOR, Liderança Feminina - IDAC - Rio de Janeiro; Violência Doméstica Contra Crianças e Adolescentes - LACRI - USP - São Paulo.

Com tudo isso, ainda faz parte da coordenação do FÓRUM DE MULHERES CEARENSES. Observatório do Judiciário e comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Ceará. Foi membro do Conselho Consultivo de Leitores do Jornal O POVO. Ministrou duas oficinas sobre Gênero, Masculinidade e violência Simbólica, respectivamente no Fórum Social Mundial I II e III, no Rio Grande do Sul., em 2001, 2002 e 2003.

Acredita que tem como missão participar da reconstrução do mundo, dentro de um projeto de valorização da vida, contra todas as formas de exploração e opressão das pessoas, pela emancipação das mulheres e eqüidade de gênero, pelo desarmamento integral e universal e pela soberania dos povos - em nome da sobrevivência do ser humano no Planeta Terra

OBRAS INDIVIDUAIS:

  • Viagem - Secretaria de Cultura do Ceará - 1981- contos e crônicas

  • No fundo do poço - Secretaria de Cultura do Ceará (Prêmio Estado do Ceará em 1981) - novela

  • O Velho - Secretaria de Cultura do Ceará- 1983 - romance

  • O esconderijo dos anjos - Secretaria de Cultura do Ceará - 1985 - romance-reportagem

  • Dilúvio - Secretaria de Cultura do Ceará - contos - 1986;

  • Mulheres de papel - Fundação Cultural de Fortaleza - 1990 - ensaio sobre o personagem feminino na Literatura Brasileira;

  • Sem medo da delicadeza - Edições NAVE - 2000 - Ensaio sobre a violência masculina

OBRAS COLETIVAS:

  • 10 Contistas Cearenses - Secretaria de Cultura - Fortaleza - 1981

  • Multicontos - Bando do Nordeste - Fortaleza - 1984

  • Antologia do conto Erótico - Realce Editora - São Paulo - 1992

  • O Talento Cearense em Conto - Maltese - São Paulo - 1996

  • Iracemar - Secretaria de Cultura - Fortaleza - 1996

  • Talento Feminino em Prosa e Verso - REBRA - São Paulo - 2002
     

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Picador

 

 

 

 

 

Nilze Costa e Silva



Meninos de L
iverpool

 

Num salto, em plena rua, uma sombra desce
sobre a noite que se omite
John! de novo haverá o sonho:
o sonho do reencontro
21 anos é o tempo da espera
até que o outro menino se vá
Me dói olhar o quadro
da parede do meu quarto,
onde os quatro espaçavam seus passos
na faixa reta dos pedestres
daquela larga avenida...
 

Minha saudade
consegue ser musical e ampliada
na canção que oscila
como a chama de uma vela acesa
no alvorecer de um dia de paz
A saudade ecoa
como sinos que tangem
e gemem no adolescer
dos meus dezembros solitários
Vozes são como sinos:
doem, doem, doem, doem ...
- as vozes alegres dos meninos de Liverpool
 

Na sombra turva da noite
é George quem se vai
Na parede do meu quarto
só caminham dois rapazes
estranhas criaturas
solitários pensamentos ...
Vejo agora Paul e Ringo
braços ao longo do corpo
cabelos soltos ao vento
cruzando de novo a avenida
compondo canções solitárias
numa parceria invisível.

 

 

 

Da Vinci, Homem vitruviano

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Virgílio Maia

 

 

 

 

 

Titian, Venus with Organist and Cupid

 

 

 

 

 

Nilze Costa e Silva


 

Menino trabalhador


Menino que lava carro pelas ruas da cidade
Eu te contemplo nesta tarde que se adensa
E sinto uma enorme vontade de conversar contigo
— mas nem tenho o que dizer -
Estás tão ocupado, ensimesmado em teu trabalho,
que nem me darias atenção.
Observo o movimento de tuas mãozinhas
e resolvo conversar contigo de longe.
Olha, menino, olha o céu.
O céu amanta a cidade com nuvens que anunciam a noite
As estrelas mal despontam, pálidas...
é noite de Natal, não lembra? Ou não te deixam lembrar?
Passa uma última vez a flanela molhada nessa tua alma criança
Lava as chagas do corpo que a vida te pôs
Limpa a tez escura e suja de tua existência
Fecha a torneira aberta, a te respingar, intermitente
Enxuga a lágrima que cai, quando o rosto teimoso se volta
em direção aos meninos felizes,
contemplados com os brindes de Papai Noel...
É que este não te viu!
Vives tão escondido atrás dos carros
Limpando, limpando, como queres que ele te veja?
Recolhe-te nos trapos da noite e mesmo cansado - sonha!
Menino, ouve:
È Papai Noel quem te bate à porta...
O Noel, não o pai que te deixou ao relento
Pequeno grande arrimo da vida que sustentas nas mãos
É aquele velhinho bom que não te repara as vestes rasgadas
Nem teu cabelo enlinhado e sujo.
Não é o pai que te despiu um mundo mal feito de começar como adulto
Mas aquele que te afagará, te beijará e te levará aos parques de diversão
para que te enchas de luzes
E deixará que teu olhar vaguei pelas ruas enfeitadas
E gravará em teu rosto a fotografia do êxtase, do contentamento infinito
E deixará ainda que escolhas o mais bonito dos carrinhos
Dos bate-e-voltas, dos ursinhos de pelúcia, dos robôs que se auto-iluminam
como a pestanejarem para a tua sorridente alegria
Anda menino, é hora.
Vai dormir, que sonhar é o que te resta.

 

 

 

Valdir Rocha, Fui eu

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Natalício Barroso

 

 

 

 

 

Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

 

 

 

 

 

Nilze Costa e Silva


 

Mulhermar


Amanheço, acordo
Desperto em Lagoinha
Durmo, alvoreço
Me enlevo, transpareço
Abro os olhos e sonho

Menina e mulher, mulhermar
Ando sobre dunas quentes
Que me queimam os pés
Choro ondas
Retorno à infância

Iracema menina
Lagoinha mulher
Os quatro cantos de minhas paredes
São rodeadas de mar
Meus cabelos são algas marinhas
Quando durmo e me banho de luar

Lagoinha me toma e me abraça
Me invade e me alaga
Me torna lua
Solitária e nua.


 

 

Michelangelo, Pietá

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Márcio Catunda

 

 

 

 

 

Poussin, The Empire of Flora

 

 

 

 

 

Nilze Costa e Silva


 

Vocação


Quando pequena queria ser pássaro
e não me deixaram partir
Logo após quis ser nuvem
e flagraram-me no vir a ser
Quando quis ser poeta
o pássaro voou e a nuvem evadiu-se
Hoje amadureci
E não sei mais o que quero ser no futuro.


 

 

Bernini_The_Rape_of_Proserpina_detail

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Pedro Lyra

 

 

 

 

 

Poussin, The Triumph of Neptune

 

 

 

 

 

Nilze Costa e Silva


Streptease


"De mim, tirei peça por peça:
As roupas
rotas que estavam de passado
O coração
para que não esperasse nenhum apelo
O sexo
entre silenciosas pedras de fogo
O amor
que se condenou à paixão
O sangue
pássaro vermelho jorrando assustado
As palavras
antes que fugissem pelos ouvidos
A pele
com estampas já desbotadas
Os braços
para que não mais aquecessem seu corpo
as pernas
que já não queriam me carregar nessa vida
Os cabelos
para que se renovassem como leve nuvem
Os olhos
para que não se nublassem à claridade do dia
As mãos
para que não mais buscassem o rosto desamado
O nariz
para esquecer o cheiro de imagens deslembradas
O pensamento
que me feria as madrugadas
Os ouvidos
para que não ouvissem os silêncios insones
os pés
que, ave ferida, iriam te buscar sempre...
Os dedos
que nunca desataram meus nós
o meu canto
que me desliza triste ante à luz que se esconde
e finalmente
finalmente o meu corpo
para que não se curve colhendo as conchas do tempo..."


 

 

Ticiano, Magdalena

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Majela Colares

 

 

 

 

 

Winterhalter Franz Xavier, Alemanha, Florinda

 

 

 

 

 

 

 

Um esboço de Leonardo da Vinci

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Lau Siqueira

Eleuda Carvalho

O Povo, Fortaleza, Ceará, Brasil

13.4.2007


Lembranças da cidade amada

É como voltar pra casa... Nilze Costa e Silva nasceu em Natal, quarta filha do casal Adauto e Irene, ele, militar. A primeira casa da família foi na rua Dragão do Mar, Praia de Iracema. Quando ela estava com 13 anos, outra mudança, para o Bairro Ellery. De lá, Nilze saiu para casar. Vieram, então, outros pedaços da cidade - Barra do Ceará, Parquelândia, Cocó. De tantos lugares queridos, ficaram lembranças, retalhos de ruas, brincadeiras deEleuda Carvalho criança, quintais, o primeiro beijo, banhos de mar, as intrigantes figuras marginais, a arquitetura, a escola de farda grená, mais tarde os filhos. Tanta coisa. Toda uma vida. Desses percursos, a escritora compôs seu canto de amor, em formato de crônicas, contos e poesia. O livro Fortaleza Encantada tem lançamento hoje, às 19 horas, na Livro Técnico do Dragão do Mar.

As crônicas, diz a escritora, começaram a ser feitas "há muitos anos... As pessoas foram me pedindo", recorda. Desde os anos 90, com Cláudio Pereira à frente da Funcet, para um caderno literário que celebrava o aniversário de Fortaleza. Umas crônicas também figuraram em outra revista temática, na gestão de Barros Pinho. Também foram publicadas no Jornal da Praia, de Zeno Falcão. Algumas, aqui no O POVO. E Nilze "ia escrevendo". Agora, estas e outras, inéditas, estão juntas no livro. Nilze mostra uma foto em preto e branco, um homem charmoso, bem moreno, de cócoras ao lado dos cinco filhos, sob o olhar afetuoso de uma muito bonita moça de cabelos negros: o tenente Adauto, Irene e os rebentos primeiros (depois viriam mais sete), numa paisagem que pouco mudou - os casarões da rua Dragão do Mar (sem o imponente Dragão, é claro). O livro começa bem aí, nesses primeirosNilze, foto de Alex Costa, O Povo, 13.4.2007 anos de infância e Fortaleza.

Aonde foi a casa da família, uma fábrica de gelo. A rua José Avelino é onde se encontravam os quintais das casas, e as crianças brincavam, as meninas faziam dramas. Manjou, pular macaca e jogar bila era na calçada da Johnson´s, sempre sob os cuidados de dona Irene. Ali por perto, viviam Maria Cabelão, Zé Tatá e Elvis Presley, criaturas que serviam à sem-vergonhice dos homens do lugar. Quando a menina tinha que passar em frente à casa da Cabelão (que tinha "um cabelo preto, liso, enorme, dessa altura assim"), dona Irene dizia: "- Não olha, não olha", e fazia a menina descer da calçada. Nilze sempre dava um jeito de brechar. "Quanto mais proibido, mais curiosidade a gente tem". Ali por perto, também vivia o leso Irmão, um esmoler, a doida Cotia e a "figura fantasmagórica do Mister Hull".

Fortaleza se abria aos poucos para a menina da praia. Praça da Estação, da Lagoinha, dos Leões. O Passeio Público, a praça do Ferreira - "ainda peguei o Abrigo Central", recorda. "Tudo faz parte do meu mundo... Logo que casei, fui morar na Barra do Ceará, onde se vê o pôr do sol mais bonito da cidade. Depois, Bairro Ellery, Parquelândia. E agora estou morando no Parque do Cocó, com uma janela maravilhosa, a mais linda do mundo". É pelas trilhas deste pedaço raro da cidade que ela faz caminhadas, espia as garças brancas, as árvores centenárias do mangue. Em suas crônicas, Nilze alia memórias, novas e recentes, e informações históricas sobre Fortaleza. Mas o que ressalta não cabe nos livros.

A louca Vassoura, por exemplo, um dos personagens que marcaram sua adolescência. Era uma doida, que vivia entre a Estação e a praça José de Alencar, tacando pedra e dizendo nomes feios no pessoal que lhe berrava o apelido detestado. Uma noite de chuva, Nilze esperava o ônibus e ouviu, vindo sob um pedaço de plástico, a voz: "Pelo que eu sofri, eu já devia ser santa". Era a Vassoura, entanguida de frio. Uma lembrança amena, o Hugão, que morava na rua Tigipió, a cara tisnada de preto, vestido com suas vestes de rainha do maracatu Leão Coroado. "Pra mim, um artista fabuloso, e era meu vizinho! No domingo de carnaval, ele se arrumava. A gente ficava olhando até ele dobrar na Capitania dos Portos". Outro personagem da sua infância foi a parteira, dona Raimunda, de voz grave, quase de homem. Dona cegonha...

"Falo de alguns pontos históricos da cidade", diz. "Mas o monumento principal é a gente calorosa, bem humorada e poética de Fortaleza. Já me disseram, mas todo mundo quer ser poeta em Fortaleza. Respondo: e o que é que tem? Conheço outras cidades, outros países, mas um povo com este entusiasmo, com esta alegria de viver... O cearense sabe driblar as dificuldades, conviver com os problemas e ser feliz. Não sei se este bom humor vem do clima, da praia, da nossa história. Mas temos este jeitinho, esta capacidade de ser flexível, esta gentileza. Uma cidade que elege um bode como um de seus heróis! Está lá, empalhado no Museu do Ceará, isto é mais do que uma estátua!", fala Nilze, espichando o mote para outra crônica. Ou conto. Ou novela. Foi com uma que ela estreou em livro. Abençoada por ninguém menos que Moreira Campos, que escreveu o prefácio de No fundo do poço - que ganhou o I Prêmio Estado do Ceará, em 1981.

Nilze faz parte do grupo Poemas Violados, união de poetas e escritores que divulgam sua arte em recitais. O grupo, criado em 2001, costuma apresentar-se no Centro Cultural do Bom Jardim. Nilze também é fundadora do Nave - Núcleo de Ação e Valorização da Espécie Humana, formado em 1998, e integra a Rebra - Rede Brasileira de Escritoras. Também atuou durante muitos anos nos movimentos feministas. "Sempre tive um envolvimento muito grande com as questões sociais, as questões da mulher", afirma. O livro também traz estas inquietações da escritora, ao elencar breves comentários sobre algumas emblemáticas mulheres do Ceará. A apresentação de Fortaleza Encantada será do poeta Dimas Macedo, com sons de sax do artista Temóteo Germano. Sons, palavras e lembranças que começam e terminam na beira do mar.
 


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