Virgínia Schall
Cidade viva
Nessas manhãs plenas, nessas minhas manhãs de dentro
fico a interrogar a vida, e interrogo a cidade
como uma velha paisagem esmaecendo em fotografia de sonho
a cidade assim, vista de cima , entre a floresta, o mar e as montanhas
queria rasgá-la em vôo como um pássaro branco
numa viagem ancestral anterior ao homem
E para além de mim, compreender o mistério da beleza
esculpida em silêncio como à espera
de olhos que vindos de outros mares, aqui se encantaram
e ao correr dos séculos tecem sobre ela, novos mantos
Nessas manhãs, estando assim, presa de segredos indizíveis
imersa neste cenário, tremula de êxtase e desejo
quero abrir em mim uma imensa porta
e adentrar a vida que essa cidade pulsa
roçar minha pele em suas linhas sinuosas
lamber o sal de seu halo sereno, embaçando seu contorno
penetrar seus portos, suas salas, túneis e praias
decifrar momentos e encontros de amor e encanto
Nessas minhas manhãs, sacio a sede de ver para além de tudo
em uma inexplicável leveza nascida dessa sua imagem viva
e comungo minha alma num mergulho , em suas águas me plasmo ao universo.
Poema premiado - Prêmio Raul de Leoni, UBE, Rio de Janeiro, 1995
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