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			Antonio Carlos Osorio 
   
			Perguntas a várias mãos
 
 Há tanto tempo em busca daquela alegria para sempre
 Há de se manter a fé de achar ainda a thing of beauty
 Ou de construí-la.
 
 
 Más hélas! parece há muito que la chair est triste et j'ai 
			lu        [tous les livres
 
 
 Por onde afinal poderemos começar a façonar o mundo?
 
 
 Recusamo-nos obstinadamente a crer, apesar de tantas evidências
 que a vida é um passo na alfombra de um quarto
 que jaz vazio
 que a vida é um gesto inútil, como 
			disse o amigo
 na hora turva de dia já antigo
 será uma seta solta no espaço?
 entre duas trevas breve clarão?
 
 
 Le vent se lève. Il faut tenter de vivre!
 
 
 Há que resistir
 Há que resistir ao tempo
 Há que resistir ao nada em galope lancinante
 neste tropel bravio de angústias e esquivanças.
 
 
 Quando virás, demiurgo, promover a libertação?
 Onde estás Deus, que te escondes?
 Quando chegará o ponto ômega, o momento crístico, a parusia?
 Quando a cidade do povo, a nova humanidade?
 
 
 O grito selvagem do sol faz ainda a cada manhã estremecer a terra
 E as línguas largas das águas continuam amorosas a relambê-la
 não sabemos ainda, soturnos habitantes às vezes afoitos
 Quando virá o libertador
 Nem o seu nome.
 
 
 Será que um dia, e quando, os cânticos jubilares do homem
 acordarão as potências telárgicas?
 Quando afinal o estronho de tantos prantos e blasfêmias
 trará Deus de volta a tem?
 Ou aqui O criará à imagem de seu barro?
 
 
 Será que um dia a semente apodrecida de tantas esperanças
 fecundará o velho ventre de Demeter?
 
 
 Não se sabem respostas
 Nem as queremos talvez.
 Ser homem é perguntar quem sabe
 neste solilóquio máquina de tempo
 de caixas de músicas esquecidas de suas melodias
 manobradas marionetes por um saltimbanco maneta.
 
 
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