André
de Sena
entrevista
Soares Feitosa
1. André de Sena: Como surgiu a
idéia de criar uma homepage que conglomerasse escritores de todo o
País? Existe alguma tentativa anterior, que você conheça?
Soares Feitosa: No início,
junho de 1996, a Internet não trazia praticamente nada em língua
portuguesa. Uns dois poemas de Pessoa e nada mais. Poesia de língua
inglesa, francesa, espanhola e até italiana, sim, havia bastante,
mas da lusofonia, nada. Foi este o motivo de tentar mostrar para o
mundo que por cá, lusófonos, havia alguma coisa a mostrar. Era um
projeto muito modesto, Castro Alves e mais alguns
gatos pingados, digamos, uns trinta poetas. Mas a coisa foi tomando
gosto, isto é, dando gosto! Disse: vamos aos 100. Logo em seguida,
aos 1.000. Era uma corrida pela quantidade. Se você me perguntar
quantas páginas seriam gastas para imprimir o Jornal de Poesia,
presumo que umas 500.000. Um mundo de ensaios, muitos poemas, livros
inteiros! Pessoa inteiro, Castro Alves inteiro. E todos os dias
cresce e cresce. Agora estou lançando o livro em fac-símile, uma
experiência ímpar no mundo.
2. André de Sena: Como é feita
a manutenção da homepage? Dá muito trabalho?
Soares Feitosa: Muito
trabalho! Vivo dentro do computador. Estou aleijado das duas mãos.
Dia e noite, noite e dia; dias santos, domingos e feriados.
3. André de Sena: Quantos
escritores estão cadastrados atualmente? Quem você
destacaria?
Soares Feitosa: O Jornal de
Poesia não retira poeta algum do ar. Eu mesmo não descarto
ninguém, mas se você perguntar a quem "carto" ou
encarto, a resposta é: Castro Alves, na terra; NSJC, no céu. Ah,
os meus amigos, que são todos excelentes poetas! Inclusive você.
4. André de Sena: Há muitos
paraibanos participando do projeto?
Soares Feitosa: Sim, da mesma
forma que piauienses, gaúchos, mineiros. Sem nenhum
"nepotismo" regional.
5. André de Sena: Como as
pessoas interessadas podem participar?
Soares Feitosa: No início,
corri atrás da quantidade. Depois, andei buscando a qualidade. Mas
qual? Prefiro deixar este quesito, qualidade, por conta de sua
excelência, o Leitor. O requisito hoje é a amizade, no sentido
mesmo de eclésia, de igreja, igrejinha, a panela dos meus
amigos. Faço questão de ter o endereço postal do participante. É
que o email, com tanto vírus que há, fica desatualizado. Também
é a maneira de ganharmos um calor que só o papel e tinta — a
velha carta e seu envelope, com os selos e carimbos — podem dar.
Depois, o autor troca de email, os leitores ficam procurando o
endereço para corresponder, e eu com a cara para cima. Faço, pois,
questão de ter o endereço postal dos meus amigos.
6. André de Sena: Qual o
número de acessos mensal do Jornal de Poesia?
Soares Feitosa: Não faço a
menor idéia, nem quero fazer. Melhor assim. O Jornal de Poesia não
tem contador de visitas. Os amigos diriam que é pouco, que merece
muito mais. Os inimigos? Que tanta visita só poderia ser mentira.
Então, para não contrariar nem a uns, nem a outros, nem eu mesmo
me preocupar com isto, prefiro, igual ao bom-marido, não saber. Sei apenas que o Jornal
de Poesia é site nº
1 do Google. Se você digitar, no Google ou qualquer outro buscador
mundial, qualquer nome da poesia
lusófona, a primeira referência é, regra geral, o Jornal de Poesia. Isto basta.
Tenho culpa, sim! A dedicação absoluta durante oitos anos, de
chuva ou de sol. Há um tipo de crítica
que o leitor bem intencionado costuma fazer: o JP não traz
um comando de buscas, um índice de poemas, um índice maior por
temas. Eu digo que o JP não é um sítio de achamentos, mas de
perdição, onde o leitor vem buscar Maria e encontra Joana e troca
por Joaquina mas não desgruda de Tereza. A verdadeira apologia do
“serendipty”, o achamento do não-buscado, melhor que o buscado.
Um índice detalhado poria abaixo esse risco, esse prazer.
7. André de Sena: Existe alguma
filosofia que norteie o Jornal de Poesia? Ou ele é aberto a todos
os gostos e estilos?
Soares Feitosa: Como disse,
sua excelência, o Leitor, é o grande "filósofo" do
Jornal de Poesia. Mas não posso deixar de ressaltar a
operacionalidade, nada de bonequinhos saltitantes, de musiquinhas de
atrapalhar, de figuras que vão abrindo e fechando, forçosamente
atrapalhando texto. Há o predomínio absoluto do texto, bem
paginado, bem espacejado, bem arejado, ótimo também para imprimir.
Momentos há em que nem eu mesmo acredito seja o filho de velha
minha mãe, acostumado com cercas, facas, bodes e chiqueiros, quem
faz esse tal de JP. Desculpe-me, mas não consigo ser modesto: o Jornal de Poesia
é bom de navegar! — imenso e rápido. Sim, as páginas antigas,
sobretudo as dos amigos, reformato-as para um visual mais claro. Os ícones - pinturas de clássicos e fotos de
poetas -
funcionam como uma integração, uma circularidade: basta clicar, que
vai dar noutro poeta, noutro e noutro e... noutros. Veja a foto do lado,
é o "véio Thiago" — assim o chamo, com o maior carinho
—, esse estupendo poeta, Thiago, Estatuto do Homem, de Mello.
Se você clicar na foto, vai cair na página dele, é claro, e lá uma
série de outros ícones, de outras fotos, para outros poetas,
infinitos poetas. Inclusive o
seu retrato, meu caro André de Sena, já está correndo de mundo
afora, nas páginas de outros autores. No JP, é claro! É isto
mesmo, os amigos aqui são tratados a brigadeiro e pipoca de
micro-ondas. E água gelada. Em caneco de alumínio. Por favor, sirva-se! E se
assente. Pergunte mais o que quiser.
8. André de Sena: Há
repercussão da página no estrangeiro?
Soares Feitosa: Impressionante!
Os povos de língua portuguesa são mais de 200 milhões. Ainda que
o analfabetismo campeie solto, há muita gente lendo por aí afora.
Por outra, os migrantes (Portugal, Brasil e África) estão em toda
parte. No Canadá há uma bela colônia lusófona, sem falar nos
Estados Unidos e Japão, literalmente "invadidos" pelo
desemprego no Brasil.
9. André de Sena: Em sua
opinião, como serão os livros no futuro?
Soares Feitosa: O futuro que
sempre tiveram! Botar um debaixo do braço e ler bem na calma,
anotando, riscando. É assim que leio. Agora mesmo ali debaixo de
minha rede deve haver uns vinte! A Internet, antes de acabar com o
livro de papel e tinta, pelo contrário, só o prestigia. A internet
é a vitrine, a anunciação, de tudo que é livro. O livro será,
por todo o sempre, o objeto insubstituível. A venda de livros,
depois da internet, aumentou. Nunca se leu tanto! As salas de chats,
ainda que algumas de franca putaria, fazem-se pela leitura. E pela
escritura. Uma escrita ligeira, é certo, mas é escrita. E leitura.
Um novo hábito. Sou a favor. Da leitura. Da putaria? Também! Mas,
creia-me, nunca andei nos tais chats. Mas é de pura falta de tempo.
10. André de Sena: Quais os
sites relacionados à literatura que você mais indicaria?
Soares Feitosa:
Recomendo todos aqueles que estão na seção de links do Jornal de Poesia
- são os sites dos meus amigos. Esta, a lei, «Mateus,
primeiro os teus!». Mas não me pergunte quem assinou tal lei,
nem em que diário oficial foi publicada. Sei apenas que está
vigente! E como está.
11. André de Sena: Quais são
seus atuais projetos literários? E como o público interessado pode
adquirir seus livros de poesia?
Soares Feitosa:
Nunca
vendi livro de poesia. Nem pretendo. Sempre os dei de graça.
Pretendo lançar um livro de porte agora em 2004, a distribuir em
grande festa e farra aos meus amigos. Acho uma péssima idéia
isto de os poetas fazerem lançamento de livros para vender. Quem
é que compra?! Melhor que dessem os livros, inclusive que para quem
não quisesse receber! Despachá-los aleatórios no correio. Soltá-los
zonzos nos bancos de praça, nos balcões de farmácia e jogo de
bicho, na igreja e no cabaré. Não! No cabaré, não, que é um
"produto" que acabou há muitos anos. O de dona Leila, uma
senhora muito distinta, na Maraponga, aqui em Fortaleza, super
elegante, acho que fechou há mais de 30 anos. Abaixo a venda de
livros de
poesia!
Acho uma grande bobagem isto de os
poetas imaginarem que podem vender milhões em livros. Não, não vende! Melhor que
o poeta cuide da vidinha dele, dando aulas, cortando lenha, fazendo
qualquer coisa, mas sem essa de que vai ficar rico com poesia.
Recebo muitas cartas de jovens poetas pedindo orientação.
A primeira coisa que digo, com todo carinho, evidentemente, é: «Como estão suas notas?! Vá estudar!
Vá trabalhar! Faça um concurso, mande
currículos, plante um roçado! Faça um curso de geometria!» Sim,
de geometria! Segundo o velho Platão, não há conhecimento (nem
Poesia!) fora da Geometria. Estou certo de que o ideal é a convivência do devocional com o obrigacional
— há bons exemplos na História e na grande Literatura.
Até desconfio que esteja conseguindo: apesar de aposentado, 35 anos
de Fiscal do Imposto de Renda (concursado!),
tanjo um escritório
de advogados que me toma
as outras 24 horas do
dia. E lá, no meu
trabalho, o prazer é o mesmo daqui, tão bom
quanto! Creia-me não trabalho só por dinheiro; aliás, na hora em
que estou elaborando uma petição, um embargo ou um agravo, não
posso pensar em dinheiros. Como se fosse outra pessoa, é certo, o advogado, que meus
clientes até se espantam quando ouvem falar no poeta. Sim, o mesmo
susto dos meus amigos, poetas, quando
aparecem
no tal escritório de advogados! A festa? É de não ter tamanho!
Sirvo-lhes água gelada, bolachinhas e rapadura. É da lei que os
convide ao
amoço! Veja
as fotos: à direita,
acima, o senhor advogado; à esquerda, o webmaster do Jornal de Poesia em plena
atividade. Ambos porém, apenas o Chico José de dona Anísia. Se isto é possível? Claro que é! A matéria está
aqui, basta clicar: Email a um jovem poeta. Como
se fossem, numa só pessoa, estes "entes", abaixo: (i) o bode e (ii)
as mãos em oração, este belíssimo quadro de Albrecht Dürer. Mas
não faz nenhum mal, ainda que bode/ mãos-em-oração, a tentação
de ser pé-de-pau — juazeiro.
Destas sequidões. E de todo o resto — da chuva, noite e sol,
tanto faz. Depois
veja aqui sobre o
projeto fac-símile!
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