Edições Cururu®
Coleção Fac-símile
um
novo conceito em
bibliofilia
Hoje,
1º de junho de 2004, retornou ao meu escritório o poeta Dimas
Macedo. Comentamos sobre a primeira experiência que se faz na www
com vistas ao livro fac-similar. Sim, um sucesso, veja aqui uma
amostra: a página de abertura de Cantos de Lúcifer, do poeta José
Alcides Pinto:
O
melhor é que o livro inteiro está sem poeira alguma, o que não
impediu o poeta Alcides de dar um monte de espirros achando que o
papel era velho...
Amigos
meus podem-se assustar com a escolha do primeiro livro da coleção,
um livro do cão-demônio. É e não é. Como se fosse As
gatas de boa viagem, em que o leitor imagina
encontrará as maiores belezas de dois-pés, mas são gatas-bichanas
mesmo, de quatro patas e rabo bem longo, de abanar e ameigar. Pois
bem, poucos livros são tão belamente místicos como o Cantos de
Lúcifer. Vá lá, meu caro leitor, até o Décimo Oitavo Canto,
mas por favor apronte o coração... e os joelhos.
Pássaros
e malhas
Li,
no tempo antigo, acho que numa Selecta Latina, a historinha de um
pintor que seria tão bom que o vaso de frutas que pintara e colocou
no alpendre, vinham os pássaros bicá-las. Pois o outro pintor,
concorrente, disse-se tão melhor que pintaria uma tela por sobre as
frutas, a esbarrá-los. E assim foi feito.
Então,
eu "via" aquela briga imaginária, o rasante dos
bem-te-vis, golinhas, canários amaralos, azulões e bigodeiros —
nem sei se em Roma há esses passarinhos, acho que não — a se
espatifarem na tela do segundo pintor. Não lembro nome das
"feras"; não sei se um tal Apeles, pintor e presepeiro,
estava no rolo, presumo que sim. Um doce de leite a quem me
refrescar a historinha inteira, seu vaso de frutas, as
telas fictas, seus
pássaros verdadeiros e seus pintores fabulões.
Ou,
historinha algo parecida, quem quiser ler outra, basta clicar na
efígie de Saramago — os passarinhos de São Tomé.
Pois
aí está, o poeta Alcides Pinto feito um bodete novo, espirrando ao
amareloso do papel... Sim, os projetos são infinitos: a verdadeira
Biblioteca em aberto para o mundo. Conheça
aqui a sensacional equipe do Jornal de Poesia! Basta clicar.
Os
limites
Quem
falou em limites? Com equipe tão vasta, o JP não aceita limites.
Terminei de colocar on line as Pontes, de José
Alcides Pinto. Estou em contacto com Deus e o Mundo à procura das
Horas Marianas, o livro de bolso de Antônio Conselheiro. E, como
quem procura uma agulha, a buscada dos Livros de Leitura
(1º a 4º), de Felisberto de Carvalho. Gilmar de Carvalho me disse:
«Patativa estudou neles!» Os livros de Felisberto de Carvalho
faziam toda a didática de um Brasil tipicamente rural, até os anos
cinqüenta, do séc. XX. Hemos de encontrá-los, Brasil e livros. Quem souber, me
conte. Ah, antes que me esqueça, na próxima semana, na íntegra,
fac-similares, as edições de O Pão, da Padaria Espiritual,
Virgílio Maia que emprestou.
Os livros de Felisberto, quem sabe deles? Também os de Erasmo
Braga, nada a ver com o parceiro de Roberto Carlos.
Em
tempo: os arquivos do tipo zip, salve-os em seu computador. Depois,
é abrir bem na calma. Ler, imprimir, riscar e ler de novo. Depois,
mande encadernar, mas, a rigor, nem precisa, que estarão permanentes
nesta Biblioteca de Alexandria, o seu Jornal de Poesia.
Na tela,
para ler, se necessário, utilize o recurso da lupa para aumentar a imagem. Fale
com o seu neto... os meninos de dez anos sabem tudo.
E
o Câmara, quede o Câmara?
José Mindlin, o bibliófilo? Ainda não,
mas será! Avisado e convidado. E o
José Bonifácio Câmara? Fico morto de vergonha de estar morto o
meu
amigo Câmara numa hora destas. E o meu pai e o tio padre,
Leitão; e o
outro tio, poeta, Adaucto Gondim que, todos ausentes, não deu tempo
de lhes mostrar coisa alguma. Sim, esta é mais uma "historinha" de júbilo e
de saudades, sempre. A mãe deu tempo, que ficou por uns dias a
mais (1912-1994), poucos, que não muito. Ela viu. Mas foi pouco. É sempre pouco.
A madrinha, à esquerda, Ana, com o menino pequeno, Francisco, ela ficou um pouco mais -
1922-2002. O menino virou um velhote, 19.1.1944, este eu aqui,
traquinando. Por enquanto... enquanto Ele for servido.
Louvados
sejam!
Soares
Feitosa
Enquanto isto,
acaba-se uma Biblioteca que bem poderia ser integralmente
fac-similada:
2.6.2004
TENDÊNCIAS/DEBATES
A destruição
de uma biblioteca
MARCO ANTONIO VILLA
No século 7, a célebre biblioteca de
Alexandria sucumbiu definitivamente após mais um incêndio. Em São Paulo, a
Biblioteca Mário de Andrade não precisou de nenhum conquistador para ser
destruída: bastaram os últimos dois prefeitos e a gestão de Marta
Suplicy. Hoje, a Mário de Andrade vive o momento mais grave de sua
história. Abandonada pelo poder público municipal, está à mingua, sem
funcionários para os serviços essenciais, raros bibliotecários -pois
grande parte se aposentou nos últimos anos- e com o prédio em situação
precária. A única intervenção do governo municipal foi a realização de uma
pequena obra na praça Dom José Gaspar, meramente decorativa -tanto que o
monumento em homenagem ao poeta simbolista Cruz e Souza, destruído desde
2002, continua jogado no jardim que cerca a praça. Porém o prédio que
reúne o acervo de mais de 300 mil livros -grande parte doada, apesar de
hoje não existir nenhum setor para receber bibliotecas- continuou
intocado.
A Mário de Andrade vive o momento mais grave de sua história.
Abandonada pelo poder público municipal, está à mingua
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A crise da biblioteca vem desde a gestão
Paulo Maluf. Depois de uma grande reforma no final do governo Luiza
Erundina, o prédio foi reinaugurado às pressas, no final de 1992, pouco
antes da eleição municipal. Para Maluf, nunca uma biblioteca foi
prioridade, muito menos a Mário de Andrade. Durante sua administração
foram transferidos para lá muitos funcionários da Secretaria da Saúde que
não aderiram ao PAS. De uma hora para outra, atendentes, auxiliares de
enfermaria, funcionários burocráticos dos hospitais foram transferidos
para um ambiente distinto: em vez dos doentes, tinham de cuidar dos
livros. Os serviços da biblioteca continuaram funcionando precariamente
e não foi comprado sequer um livro para o acervo. Nos quatro anos
seguintes, os problemas foram se agravando: o acervo continuava
desatualizado e necessitando de conservação, os equipamentos estavam
deteriorados, as vagas dos aposentados não foram preenchidas, o prédio,
devido à pressa na entrega da reforma, apresentava graves problemas
hidráulicos e elétricos. Esperava-se que, na administração do PT, tudo
fosse mudar. Doce ilusão. Um dos primeiros atos do então secretário da
Cultura, Marco Aurélio Garcia, por incrível que pareça, foi a proposta de
fechar a biblioteca, o que não ocorreu graças à mobilização dos
funcionários, que realizaram um "abraço ao prédio". Acreditava-se que tudo
não tivesse passado de um engano do secretário, que desconhecia a riqueza
do acervo da biblioteca, por não ser um consulente daquele espaço. Mas, se
não havia recursos para manter a biblioteca, havia para fundar o Colégio
de São Paulo, à semelhança do Colégio de França, criado por Francisco 1º,
tendo como local a própria biblioteca. Puro marketing para imortalizar a
prefeita como uma protetora das artes, uma Catarina 2ª tupiniquim,
infelizmente sem um Diderot. Contudo a atividade-fim da biblioteca, o
atendimento dos consulentes, foi, apesar dos esforços dos funcionários,
piorando a cada dia, pela absoluta falta de recursos. Em 2004, a situação
chegou a um ponto intolerável. O setor de cabines, reservado aos
pesquisadores, que funcionava sofregamente, foi simplesmente fechado. Logo
em seguida mais uma péssima notícia: o setor de livros raros, que só abria
no período da tarde, também foi fechado. Para quem não conhece, o setor de
raros tem um importante acervo e, dependendo da área, é indispensável para
inúmeros pesquisadores nacionais e estrangeiros. Mas a lista de
problemas continua: as máquinas leitoras de microfilmes vivem quebradas;
quando funcionam não podem tirar cópias, pois falta papel ou falta toner.
O acervo até hoje não foi informatizado e nem sequer existem banheiros
abertos para o público em quantidade suficiente. Devido à ausência
generalizada de funcionários, o horário de todos os setores que ainda
funcionam deve ser reduzido, indo na contramão das políticas de
bibliotecas em todo o mundo, que cada vez mais ampliam os horários de
atendimento: algumas ficam abertas 24 horas. E, pior, nos três anos e meio
de gestão do PT não foi comprado nem um mísero livro, o que iguala a
triste marca cultural da dupla Maluf-Pitta. Diante desse quadro, é
natural que os pesquisadores tenham abandonando a biblioteca. A solução
foi buscar outro local, em São Paulo ou em outro Estado -especialmente a
Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Todavia é inexplicável o silêncio
complacente de todos aqueles que utilizaram os serviços da biblioteca e
que agora assistem calados à sua destruição. Uma política emergencial de
conservação e ampliação do acervo, de recebimento de doações de livros e
revistas, de unificação do acervo -pois parte está em Santo Amaro-, de
reposição de funcionários e pleno funcionamento de todos os setores da
biblioteca antecede qualquer programa de reforma, por mais importante que
seja. E mais: a Mário de Andrade tem de voltar a ser uma biblioteca de
referência e de visitação pública.
Marco Antonio Villa, 48, historiador, é professor do
Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos e
autor de "Jango, um Perfil (1945-1964)" (editora
Globo).
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