Álvaro Seiça
Apontamento bio-bibliográfico:
Ainda peixe pequeno marulhando nas águas vaginais, decidiu romper as
redes e soltar-se graúdo. Rasga aquele ventre sôfrego a 25 de
Outubro de 1983 na Ria de Aveiro, vivo braço de Portugal.
Houve tempo de infância saudosa e fantasia de catraio. Depois...
depois veio o anzol da consciência de ser mesmo peixe e o arrepio. A
água começava a turvar. Então, como robalo fresco querendo escapar,
rumou suavemente para a corrente quente da palavra. Vinda de onde?
Continua a não saber...
Nas voltas das viagens foi tropeçando na publicação de alguns poemas
aqui e ali, nas Terras de Revista tal e tal, e no livro Fuligem do
Tempo, nas Terras da Editora Corpos. Entretanto, esperando a chegada
da 3ª maré, deu cambalhota em direcção ao rio e aterrou na Exposição
de Peixe Individual de Fotografia e Poesia em Aveiro e Leiria.
Após os milhares de barcos pesqueiros que tem visto ansiando por si,
vai petiscando na obscuridade que, talvez um dia, se mostre amizade.
Lisboa, 1 Março 2004
Álvaro Seiça Neves
|