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Casimiro de Abreu 

Andreas Achenbach, Germany (1815 - 1910), A Fishing Boat

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Alguma notícia do autor:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Franz Xaver Winterhalter. Yeda

 

Sandro Botticelli, Saint Augustine, Ognissanti's Church, Firenze

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Casimiro de Abreu


 

Nota biográfica:

 

 

Nascido na fazenda Indaiaçu, em Barra de São João (RJ), José Marques Casimiro de Abreu cedo abandona os estudos secundários, dedicando-se, por influência paterna, ao comércio. Entre 1853 e 1857, vive em Portugal. Retornando ao Rio de Janeiro, o jovem comerciante leva vida boêmia e publica, com sucesso, seu livro As Primaveras (1859). No ano seguinte, morre tuberculoso. Sua poesia, bastante popular, pouco apresenta de inovador. Conhecido como "o poeta da infância", desdobra-se em lamentos exacerbados sobre a pureza perdida. No poema “Amor e Medo”, sintetiza a insegurança adolescente frente ao sexo, o que levou Mário de Andrade a agrupa  os poetas do período sob a denominação de “geração do Amor e Medo”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ingres, 1780-1867, La Grande Odalisque

 

 

 

 

Casimiro de Abreu


 

Canção do exílio


Se eu tenho de morrer na flor dos anos
         Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
         Cantar o sabiá!


Meu Deus, eu sinto e tu bem vês que eu morro
         Respirando este ar;
Faz que eu viva, Senhor! dá-me de novo
         Os gozos do meu lar!


O país estrangeiro mais belezas
         Do que a pátria não tem;
E este mundo não vale um só dos beijos
         Tão doces duma mãe!


Dá-me os sítios gentis onde eu brincava
         Lá na quadra infantil;
Dá que eu veja uma vez o céu da pátria,
         O céu do meu Brasil!


Se eu tenho de morrer na flor dos anos
         Meu Deus! não seja já!
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
         Cantar o sabiá!


Quero ver esse céu da minha terra
         Tão lindo e tão azul!
E a nuvem cor-de-rosa que passava
         Correndo lá do sul!


Quero dormir à sombra dos coqueiros,
         As folhas por dossel;
E ver se apanho a borboleta branca,
         Que voa no vergel!


Quero sentar-me à beira do riacho
         Das tardes ao cair,
E sozinho cismando no crepúsculo
         Os sonhos do porvir!


Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
         Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
         A voz do sabiá!


Quero morrer cercado dos perfumes
         Dum clima tropical,
E sentir, expirando, as harmonias
         Do meu berço natal!


Minha campa será entre as mangueiras,
         Banhada do luar,
E eu contente dormirei tranqüilo
         À sombra do meu lar!


As cachoeiras chorarão sentidas
         Porque cedo morri,
E eu sonho no sepulcro os meus amores
         Na terra onde nasci!


Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
         Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
         Cantar o sabiá!

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Pipelighter

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Vera Queiroz

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Thomas Colle,  The Return, 1837

 

 

 

 

 

Casimiro de Abreu


 

Meus oito anos


Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!


Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor!


Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!


Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minhã irmã!


Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
— Pés descalços, braços nus —
Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!


Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!


................................


Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
— Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!

 

 

 

Aurora, William Bouguereau (French, 1825-1905)

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Teresa Schiappa

 

 

 

 

16.11.2005