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Edson Cruz

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Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova, detail

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Alguma notícia do autor: Edson Cruz, poeta e editor do sítio de literatura, Cronópios

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Natércia Campos

 

Eleuda Carvalho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Allan R. Banks (USA) - Hanna

 

 

 

 

 

 

Edson Cruz

 

 


 

A vasta nuvem

há muitas espécies de flores
árvores, ervas em série e tamanhos
no planeta inundam todas as cores

por mais que haja perdas e ganhos
o abraço do céu se ergue no mundo
e a chuva deságua por sobre os rebanhos

por mais que te chames Raimundo
comungas da mesma aflição
enquanto alguns param, outros estão no gerúndio

às vezes tu dizes o sim, outras preferes o não
mas como tudo é tão vário
bebemos da mesma água e clarão

talvez seja mesmo tão raro
encontrar rimas em tamanha profusão
ou quem sabe seja mesmo a única solução.

 

 

 

Vera Queiroz

 

Astrid Cabral

 

 

 

 

 

 

 

 

Winterhalter Franz Xavier, Alemanha, Florinda

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Um esboço de Leonardo da Vinci

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Lau Siqueira

 

 

 

 

 

 

Micheliny Verunschk

 


 

 

A Guisa de Posfácio

 

Quando a imagem é nova, o mundo é novo, é o que afirma Bachelard sobre as imagens de poesia que habitam os lugares e os cantos mais escondidos (e que, por isso mesmo, são os mais surpreendentes). E é esta a escolha de Edson Cruz em Sortilégio, seu livro de estréia: dizer o espaço pela via de imagens que não apenas o presentifica mas, sobretudo o renova.

Outeiro criado de acúmulos/tegumentos enrijecidos/essências exteriorizadas. É o que diz Linguagem, poema que abre o livro e que de certo modo dá a tônica da obra. Os lugares que a poesia de Edson diz assaltam o leitor pelo jogo de interiorização/exteriorização. O lugar está lá, em sua materialidade, com as coisas que o definem, e se num momento é concha, no momento seguinte é vôo, sobressalto. Ou o contrário, como em Sambaqui:

 

em meu samba sarnambi

cabem todas os restos:

é meu recanto de desterras

chão de joão-ninguém

depositório de meus erros

 

O lugar é dentro, é recanto e recôndito, mas em seguida o susto, o vômito:

 

o que fazer então

com as palavras?

depositá-las aqui

vomitá-las

como se vomita

uma língua.

 

Assim, pode-se dizer que há um movimento, que os lugares se movem num devir que é aquele que rege as sobreposições e desdobramentos. Nesse sentido, o poeta renova também justaposições e substantivos pouco usuais, de modo pontual, o que, para além da economia, é sinal de maturidade. E, demiurgicamente novos sentidos surgem e saltam dos poemas como sapos, e tomam vôo como as libélulas é o caso de lamelibrânquios e gonfotérios, palavras que sugerem uma fauna única para os lugares criados por este Sortilégio.

O livro divide-se em em quatro partes. A primeira, Sambaquis, como o próprio nome revela, é um acúmulo de olhares sobre o mundo natural e da escrita, mundos que na poesia de Edson Cruz se interpenetram e promovem transformação mútua: algo assim tão/inatural/ que chega a ser/outra natureza.

Na parte seguinte, Parabolês, poemas mais longos traçam lugares da memória e do imaginário e, como num crescente parecem preparar o final, o fechar da porta, que em nenhum momento significa o encerramento do livro. Aí é que ele começa.

A segunda parte, intitulada Quaternário, abriga (como o nome já indica) quatro poemas em que tempo e velocidade são os liames para o tema do eterno retorno, do “círculo eterno”. Essa liga é realizada com uma fina ironia e alguma dose de confusão e perplexidade, o que confere ao leitor um desconforto, a sensação de que o caminho a ser seguido não era o da volta. Entretanto o seguir em frente se prefigura como suicídio pois o abismo é certo. Nada a fazer, a não ser completar mais uma volta: carro engolindo/a pista//paradoxo de Zenão//torres ficando/para trás// um motor em combustão//faísca iluminando/ a infância/ um ursinho bem bobão.

 

Em Suíte com Graça para Voz Solo, poemas minimalistas dão um toque de leveza. Aqui, Bashô e Pessoa se encontram numa contemporaneidade que é dádiva apenas dos poetas em:

 

a solidão

Bashô

em mim

 

E em um dos momentos em que a poesia é flagrada despudoradamente nua e bela:

 

lá em casa

o menino Jesus

 

com os meninos

tinha caso

 

Nesse Sortilégio, Edson Cruz revela uma poesia madura, conduzida com maestria. Não, não se trata de um aprendiz de feiticeiro. É mestre, e opera magia com as palavras.

  


 

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Micheliny Verunschk

 
   
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

31.8.2007