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                  Francisco Carvalho 
   Tríptipo
 
 
 I
 
 
 tudo o que possuis
 a alma, o pomar da lascívia
 
 
 a fome de palavras
 a sede de volúpia
 
 
 a sentença lavrada
 na poeira dos arquivos:
 
 
 tudo cabe, poeta,
 dentro de uma gaveta.
 
 
 
 II
 
 
 o olho da serpente
 passeia na treva
 o seu fulgor breve
 
 
 lambe o odor da presa
 entre folhas mortas
 
 
 mastiga as horas
 e uma ceia de besouros.
 
 
 
 III
 
 
 somos apanhados
 numa teia de mitos
 
 
 nada sabemos da alma
 e do logaritmo binário
 
 
 entre conchas e búzios
 baionetas e obuses
 
 
 a esfinge nos espreita
 nos decifra e devora.
 
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