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José Nêumanne Pinto

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Morte de César, detalhe

Em inteiro teor:


Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário:


Fortuna crítica:


 Alguma notícia do autor:

 

José Nêumanne Pinto

 

William Blake (British, 1757-1827), Christ in the Sepulchre, Guarded by Angels

 

William Blake (British, 1757-1827), The Ancient of Days

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Consummatum est Jerusalem

José Nêumanne Pinto


 

Bio-bibliografia:

 

Nascido em Uiraúna, Paraíba, Brasil, em 18 de maio de 1951
Casado, três filhos.

 


 

Carnaval em Campina Grande (braços cruzados)

O jovem Nêumanne, numa festa de carnaval, em Campina Grande,
 há alguns anos, é o de braços encruzados.


 

Jornalista:

  • "Diário da Borborema", Campina Grande, PB - Repórter (1968/69)

  • "Folha de S. Paulo" - Repórter (1970/75)

  • "Jornal do Brasil" - Repórter da sucursal de São Paulo (1975/83) 
    Secretário de redação (1983) - Chefe da redação (1984) - Repórter especial da sucursal de São Paulo (1985/86)

  • "O Estado de S. Paulo" - Editor de política (1986/88) - Editor de
    opinião (1988/89) - Editorialista (1989/91)

  • Assessor político e ghost writer do senador José Eduardo de Andrade Vieira, ex-ministro da Indústria, do Comércio e do Turismo e da Agricultura (1991/96)

  • Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) - comentarista político e
    econônomico no programete diário "Direto ao assunto" (1996-97).

  • "Jornal da Tarde" - Editorialista (desde 1996)

  • Rádio Jovem Pan - comentarista: coluna "Direto ao assunto" no "Jornal da Manhã" e na "Hora da Verdade" (desde 1996)
     

Prêmios:

  • Prêmio Esso de Jornalismo Econômico (com Maria Inês Caravaggi) em 1975, pela série "Perfil do Operário Brasileiro Hoje" ("Jornal do Brasil")

  • Troféu Imprensa de Reportagem Esportiva (com Paulo Mattiussi) em 1975, pela reportagem "Éder Jofre e o Boxe Brasileiro" ("Jornal do Brasil")
     

Escritor:

Co-autor dos livros:

  • Partidos e Políticos - Editora JB, Rio de Janeiro, RJ (1986)

  • A Constituição que nós Queremos - Editora Salamandra, Rio de Janeiro, RJ, (1988)

  • Jornalismo é... - Zenon, Associação Brasileira de Anunciantes e Associação Brasileira de Imprensa, São Paulo, SP (1997)
     

Livros publicados:

  • Mengele, a Natureza do Mal - romance-reportagem - EMW Editores, São Paulo, SP (1985)

  • As Tábuas do Sol - poemas - Secretaria da Cultura do Estado da Paraíba, João Pessoa, PB (1986)

  • Erundina, a Mulher que Veio com a Chuva - perfil biográfico - Editora Espaço e Tempo, Rio de Janeiro, RJ (1989)

  • Atrás do Palanque - Bastidores da eleição presidencial de 1989 - reportagem - Editora Siciliano, São Paulo, SP (1989)

  • Reféns do Passado - coletânea de artigos e ensaios políticos - Editora Siciliano, São Paulo, SP (1992)

  • A República na Lama - Uma Tragédia Brasileira - reportagem - Geração Editorial, São Paulo, SP (1992)

  • Barcelona, Borborema - poesia - Geração Editorial - São Paulo, SP (1992)

  • Veneno na Veia - romance policial - Editora Siciliano, São Paulo, SP (1995)

  • Solos do Silêncio - poesia reunida - Geração Editorial, São Paulo, SP (1996)

     

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Consummatum est Jerusalem

 

 

 

 

 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), A Classical Beauty

 

 

 

 

 

José Nêumanne Pinto


José Nêumanne Pinto Cultua-se em demasia a palavra. A precisão e a técnica do verso passaram a ser tão venerados que parece sobrar cada vez menos espaço para a poesia em si mesma - ou seja, o autêntico laboratório da liberdade da linguagem que é. Em plena festa da comemoração de seu 60o aniversário, o poeta e agitador cultural pernambucano Jomard Muniz de Britto detectou esse fenômeno com grande precisão, em seu poema-manifesto, cantado no recém-lançado CD Pop Filosofia, "O Poeta e suas doenças". O texto inteiro fala do fenômeno, mas há um verso que destaco para resumir o sentimento que acabo de descrever: "Nossos poetas estão adoecendo de erudição".  

Sem querer interferir no poema jomardiano, mas já inteferindo, talvez seja o caso de dizer que nossos poetas estão adoecendo de "cabralismo agudo". Não se trata de um tumor maligno, mas a doença é transmissível. Se é! Afinal de contas, João Cabral de Mello Neto é um grande poeta, o maior entre os vivos, um dos maiores de todos os tempos, deixando de lado a simplificação grosseira desse tipo de comparação. Nada mais natural que ele exerça sua positiva influência sobre os pósteros. Mas, na verdade, o atual exagero na busca da exatidão tem, de alguma maneira, engessado a prática poética brasileira contemporânea.

É por isso, e por muitas outras razões, que se deve saudar, com entusiasmo, a entrada em cena de um poeta cinqüentão e estreante, nascido no Ceará e morador na Bahia. José Francisco Soares Feitosa entra na poesia pelo cômodo oposto à sala onde João Cabral pontifica. Eis enfim, um poeta que não se contenta em ser só epígono do mestre-mor.

Terá ele entrado pela porta da cozinha, com seus cheiros e sons característicos? É possível. Seu verso é mesmo liberto e sonoro. Ele é "um poeta nordestino", como o saudou Wilson Martins, em letra de forma - um ser surgido à luz do Sol, o que endurece a lama rachada do solo, não o que beija o sal das águas marinhas. Assim o é o autor desta estrofe de "Antífona", que o grande crítico exilado na Curitiba do vampiro Trevisan classificou como sendo "uma das mais belas odes jamais escritas em língua portuguesa": "Por que era que mestre Sol/não botava todos os dias/aquela roupa nova,/da feira, talvez fosse,/da missa,/da festa de domingo?"  

Mas ele não é apenas um poeta nordestino, como o místico e ritmado Jorge de Lima, o falso simples Manoel Bandeira (na verdade, um artesão minucioso) ou o debochado Ascenso Ferreira. Também consegue ser lírico, como o foi o espanhol Antonio Machado, em "Femina": "Não lavei o corpo/pois tinha os rastros/dos teus gestos;/tinha também, o meu corpo,/a sagrada profanação/do teu olhar/que não lavei".  

Aliás, convém parar por aqui, pois não se deve sequer limitar Soares Feitosa às 254 páginas de psi a penúltima, brochura com o resumo aleatório de seu livro verdadeiro Réquiem em Sol da Tarde, de 750 páginas, todo composto no computador e do qual o autor só imprimiu, domesticamente, 257 exemplares para distribuir entre alguns eleitos. 

O baiano do Ceará Soares Feitosa é um militante da poesia contemporânea, mantendo, a duras penas, uma home page na Internet com mais de mil poetas brasileiros citados, entre consagrados e estreantes. Assim, ele se fez  transmissor da boa saúde da poesia. Embora seja, ele mesmo, um erudito, este poeta é dos bons, livre ("Ninguém  jamais se lhe amonte/ou lhe bote cangalha,/peia-de-pé ou cabresto curto"), solto e, sobretudo, são, por não ser portador da doença insidiosa da erudição.


 

Seu Chico Feitosa, 

Existe neste poema (Nunca direi que te amo) uma comunhão absoluta com a noite alta em que ele foi escrito. Trata-se de um texto noturno, embora nunca soturno. No sentido de seu brilho de vagalumes e estrelas e das supresas que as trevas costumam esconder, só permitindo se vislumbrar o que a lua mostra. Por isso,
mantenha sempre as indicações da hora e da data em que o poema foi gestado. Num gesto de amor puro, coito com palavras.

José Nêumanne Pinto - poeta e jornalista 

William Bouguereau (French, 1825-1905), A Classical Beauty

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Entardecer, foto de Marcus Prado

José Nêumanne Pinto



Ode ao pó
 

 

Açúcar é assim:
brilho vermelho na melancia,
mancha verde na uva-itália
e na maçã verde,
mas todo branco quando só
e branco inteiro enquanto pó
(força de fortes
droga de débeis).
Gelado e molenga
no sorvete de açaí;
a cara-metade do caramelo,
embebido em compressas,
tostado em fogo lento.
Há açúcar na polpa
e açúcar na papa.
Há açúcar do engenho,
de forno e fornalha.
 


Açúcar é assado:
o suor do camponês pulverizado,
sacos de cristal na prateleira,
valendo ouro no mercado,
virando merda no organismo,
bela merda,
doce merda,
...merda...
 


Açúcar é assombro:
à sombra do Hades,
as águas do Ganges;
panacéia do avesso
e dor das paixões
e cor das paixões
se esparramando, líquida,
na esclerose de minhas veias,
minhas veias velhas.
Veneno e garapa,
a mó, o mel, o mal,
a morte feito gosto
invade meu sonho,
me habita o pesadelo
num aviso de sol morno:
o passo lerdo,
o pinto casto,
o cuco morto.
E dá sinais de olho posto:
a vida breve,
a arte curta,
o gole brusco,
a cinza fria,
um dó de peito
e o pó sem fundo,
ao qual haveremos
de tornar
- todos.
 


São Paulo, manhã de 18 de novembro de 2000
José Nêumanne Pinto



 

Entardecer, foto de Marcus Prado

 

 

 

 

 

 

 

Goya, Maja Desnuda

José Nêumanne Pinto


 

Beijo no olho
 

 

O mundo inteiro que tu vês
atrás das pálpebras que beijei
é isso mesmo, menina:
um vale raso só de tédio
e um poço fundo de mistérios,
uma ave é abatida em pleno vôo
e nasce uma flor no cemitério,
um riso estala na manhã,
com o cheiro morno de café moído,
e um pranto escorre no ocaso,
como visgo mofado nas paredes.
Aqui arde o fogo da paixão sem nome
e lá estala o gelo da indiferença vã,
um sorriso de bebê paira no espelho
e um punho hostil te fere a face.
 


O mundo em pedaços que tu vês
dentro das pálpebras que fechas
é assim mesmo, mocinha:
uma bomba explode no jardim
e o ser amado se despe no chuveiro;
um cálculo duro te macera o rim
e a brisa da noite, com cheiro de jasmim;
colhes um beijo sem dono na rua
e no quarto destilas o fel desse pavor;
pulas um frevo de celebração
e choras um cadáver em cantochão;
chove forte nas palmas dos oásis
e o sol te invade as praias do deserto;
mordes o pão com enxofre da desgraça
e te embriagas com o vinho da consolação.
 


O mundo incerto que tu vês
diante das pálpebras que abrirás
é nosso mesmo, mulher:
ei-lo, o tempo esparramado no solo
e o espaço, imenso como um grão
- muita companhia , toda a solidão.
Pedes um pouco de guerra
na paz de uma canção;
entregas um gole a quem te pede água,
mas negas um naco a quem te pede um pão.
Esse mundo sem porteira ou rumo,
um saco de merda, um frasco de luz,
é um mundo velho, novo e sem segredo,
parece uma peneira, cabe num pandeiro
e bate ao ritmo de teu coração.


 

Goya, Maja Desnuda

 

 

 

 

 

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