Rodrigo Naves, Carlos Felipe Moisés e Viviana Bosi falam sobre a vida e obra do poeta de Taquaritinga em Odes Mínimas para José Paulo Paes, evento na Casa das Rosas, que ocorre às 19h30 de hoje. Até o fim do mês, a Companhia das Letras manda para as livrarias duas obras: Poesia Completa e Armazém Literário (leia mais no box ao lado).
Nos anos 90, ele lançou uma autobiografia - Quem, Eu? Um Poeta Como Outro Qualquer (Atual) - na qual fim e começo se confundem. Sua vida parece simples. Nasceu em 1926 e mudou-se para Curitiba em 1944, onde estudou química e colaborou na Joaquim, revista de Dalton Trevisan. Estreou com O Aluno (1947). Voltou a São Paulo em 1949. Entrou na Squibb, uma indústria farmacêutica. No início dos anos 60, foi para a editora Cultrix, onde se aposentou, momento coincidente com a amputação da perna em 1985. Sofria grave problema circulatório.
Em Prosas Seguidas de Odes Mínimas (1992), ele dedicou um poema À Minha Perna Esquerda. "Longe/ do corpo/ terás/ doravante/ de caminhar sozinha/ até o dia do Juízo. (...) Os maus passos/ quem os deu na vida/ foi a arrogância/ da cabeça/ a afoiteza/ das glândulas/ a incurável cegueira/ do coração." Não pode haver vaidade naquele que percebeu seu lugar no mundo: a de um corpo sujeito às agruras do tempo destrutivo. Ele tinha a literatura para se proteger contra o sem-sentido. "E a coisa do sem-sentido, como o jogo lúdico com as palavras, está na base da poesia", diz Vilma Arêas, organizadora de Armazém Literário.
Apesar da saúde frágil, Zé Paulo viveu 72 anos. "A Dora o manteve vivo, o forçava a fazer exercícios e dietas", diz Naves. José Paulo Paes se casou com Dora em 1952 e a ela dedicou Cúmplices (1951) e um amor simples como "a água e o pão". Montaram uma casa em Santo Amaro que foi ganhando a feição dos donos: a da simplicidade.
Nos mais de 10 anos seguintes à aposentaria, dedicou-se exclusivamente a escrever e traduzir (ele traduzia francês, italiano, inglês, espanhol, grego e latim sem dominar os idiomas).
Na estréia literária, a introspecção e a memória prevaleceram. Depois veio a fase da produção mais impessoal, com a qual alcançou a maturidade. Ele respondia ao momento histórico - a violenta e obscura ditadura militar. "economiopia/ desenvolvimentir/ utopia/ consumidoidos/ patriotários/ suicidadãos" (Seu Metaléxico, poema de Meia Palavra). "Ele tinha obsessão pela brevidade extrema, é um traço de estilo com o qual manteve as verdades a igual distância", diz o crítico Carlos Felipe Moisés. A precisão e concisão se revelaram plenamente nos epigramas, composição na qual foi mestre, marcados pela ironia sutil.
"José Paulo Paes era não apenas grande poeta, crítico, ensaísta e tradutor, era um belo e surpreendente ser humano", diz Moacyr Scliar. "Humor na poesia? José Paulo Paes, sem dúvida", completa. No fim da vida, escreveu para crianças e permitiu-se um lirismo maior, como se nota em Socráticas (2001), livro póstumo.
Os poetas são aqueles que ficam ali no caminho, a incomodar, e que muitos querem varrer da vista. "Com sua obra, JPP revelou injustiças e erros, fez pensar", diz Carlos Felipe Moisés. Hoje há um poeta no caminho, a pedir calma e amadurecimento. Ele se chama José Paulo Paes.
Poesias e Ensaios
POESIA COMPLETA: Companhia das Letras reúne, em 512 páginas e a R$ 59, a obra poética de José Paulo Paes: O Aluno (47); Cúmplices (51); Novas Cartas Chilenas (54); Epigramas (58); Anatomias (67); Meia Palavra (73); Resíduo (80); Calendário Perplexo (83); A Poesia Está Morta Mas Juro Que Não Fui Eu (88); Prosas Seguidas de Odes Mínimas (92); A Meu Esmo (95); De Ontem Para Hoje (96); e Socráticas (01). A apresentação é de Rodrigo Naves.
RMAZÉM LITERÁRIO: 23 ensaios organizados por Vilma Arêas mostram, em 312 págs. e a R$ 47, a crítica criativa e intuitiva de JPP, que tratou de Machado a Frankenstein.
Frases De JPP
"A literatura é uma das formas mais elevadas de dar sentido à vida, de lutar contra o absurdo existencial"
"Geralmente, a prosa entra por um ouvido e sai por outro. A poesia não: entra pelo ouvido e fica no coração"