Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

Kátia Drummond

katiadrummond@netcabo.pt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia da autora:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), Mignon Pensive

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), Reflexion

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904) - Phryne before the Areopagus

 

 

 

 

 

Kátia Drummond


 

Bio-bilbiografia


Kátia Drummond. Brasileira, radicada em Sintra, Portugal. Casada com o designer gráfico e artista plástico Cláudio Paulo. Mãe de Brisa Drummond (Publicitária/Escritora, na Suécia), de Sávio Drummond (Biólogo, Poeta, Músico/Baixista), e de André Bernard (Violonista, Arranjador, Compositor e Cantor/Ver o Link).

Filha de artistas, Kátia Drummond descende do poeta Antônio de Castro Alves, dos escritores Ariovaldo Matos e Almir Matos, e do filósofo marxista Giocondo Gerbase Dias.

É socióloga, formada pela Universidade Federal da Bahia–UFBA. Morou em Bruxelas, Londres e Paris, onde estudou e trabalhou. PHD em “Ciências Sociais”. Especialista Sociologia Urbana. Doutora em “Comunicação e Marketing”. Especialista em Planejamento e Estratégia em Marketing.

Foi pianista clássica, tendo passado pelo Instituto de Música da Bahia e pelo Seminário de Música da Bahia. Venceu vários festivais musicais, no Brasil e fora, com peças como: “Rancho Pra Quem Vem de Fora”, “Anjo-Àtoa”, "Encontro", "Paris em Mim” etc. Em Paris, estudou e cantou na Discophage/Rue des Écoles, em parceria com Marcelo, violonista e cantor do Quinteto Violado.

Obras Poéticas:
 

• “Lucidez Profana/”Poemas. Selo Editorial Letras da Bahia.

• “Exército de Anjos”/Poema. Selo Editorial Letras da Bahia.

• “Lotus Vermelho/Poemas”. Com apresentação do Lama Padma Samten. Alusão ao Budismo Tibetano do qual é seguidora.

Obras Técnicas:
 

• "Marketing Eleitoral. Planejamento e Ação". Bahia, Brasil. A primeira mulher brasileira a escrever uma obra dessa natureza.

• "Marketing Turístico e Cultural no Amazonas". Amazonas, Brasil.

• "CEFORH. O Desenvolvimento Sustentável Ajudando a Construir o Novo Amapá". Amapá, Brasil.

Obras em Criação e Editoração:
 

• “A Senda do Ser.” Conto fantástico, também para cinema.

• “Buda Sou Eu”, de iniciação ao Budismo, numa leitura dialético-sociológica.

• "Fado Brasileiro". Poemas escritos em Portugal.

• "Campanha Eleitoral. Criação e Ação." Sobre o Marketing Eleitoral. Dirigido ao mercado brasileiro e internacional.

Atividades Profissionais:
 

• Socióloga. Consultora de Marketing. Copywriter e Webwriter. Com passagem em diversos Governos e Empresas Privadas.

• Implantou o "1º Curso de Extensão: “Marketing Eleitoral. Planejamento e Ação, na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia-Brasil. Com base na obra da sua autoria, com o mesmo nome: “Marketing Eleitoral. Planejamento e Ação".

Atividades em Portugal:
 

• Diretora de Comunicação e Marketing, Copywriter e Webwriter do estúdio: “Kátia Drummond & Cláudio Paulo Marketing + Design”, com sede em Sintra, Portugal.

• Consultora de Comunicação e Marketing, Copywriter e Webwriter da empresa portuguesa “Far Publicidades e Promoções”, com sede no Monte Estoril, Cascais, Portugal.

• Consultora de Comunicação e Marketing, Copywriter e Webwriter da empresa portuguesa “ZGS Telecomunicações e Informatica”, com sede em Buraca, Amadora, Portugal.

• Correspondente na Europa da Revista Electrônica “Cronópios. Literatura e Arte no Plural”.

• Produtora na Europa, juntamente com Brisa Drummond (Lund/Suécia), do violonista, compositor, arranjador e cantor André Bernard. E do biólogo, compositor, arranjador e baixista Sávio Drummond.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Kátia Drummond


 

Depoimentos sobre a autora e a obra:




1. Por Carlos Anísio Melhor
Especialista em Literatura (UFBA). Escritor e Poeta.


Nos poemas de Kátia Mattos Drummond o tempo flui sobre o leito do ser: como o rio de nossa infância, como a brisa nos cabelos adolescentes, a leve umidade do amanhecer e minúsculos gafanhotos. Ou velhas árvores, ninho matinal de vozes. E, à noite, o tácito silêncio das estrelas. Perpassa nele todo o ritmo da infância - o paraíso perdido do nunca mais.

Assim, Kátia Drummond surpreende o Tempo em sua mágica singeleza:

Com meus cabelos de milho
e meu corpo de algodão
no meu tempo de criança
eu era que nem o vento
e atravessava o tempo
sem tirar os pés do chão.

Vê-se que a infância no texto poético é aquela pátria perdida de que fala Novalis (A infância é a pátria da alma). O tempo da infância desdobra-se em a lucidez com que ela fala no Homem e Natureza, como um prolongamento natural advindo no processo da reflexão consciente, quando se instala a maturidade. Kátia Drummond, é de bom aviso, não se perde em partidarismos ideológicos, via ecologismos, quando o verde por mera denúncia se divorcia do homem numa visão estetizante. Homem e Natureza fundem-se organicamente em uma unidade totalizadora e holística. Nada existe separado. Tudo participa do tudo. São os campos virgens, antes do parto sanguíneo da madrugada, com flores de apenas luz ou águas núncias da liberdade no espontâneo correr. Jardins e quintais cúmplices de namorados. Impossível é retornar-se ao tempo da infância:

Quando a última flor
do último jardim morrer
beija-me, beija-flor
que eu vou virar um jardim
cheio de flor pra você.

Navega sem porto a lucidez poética de Kátia Drummond: sagra então novas ilhas. A região da nudez total do Zen. O vazio pleno. Vê com olhos limpos as coisas tais quais elas são, sem mancha alguma de humano: planta luminosa que floresce na noite dos sentidos. Assim a autora capta num rapto, no êxtase, o real verdadeiro, a talidade, e, "por cause", densamente poético:

Eu vi a menina
no meio do mato
olhar para um lado
olhar para o outro
tirar a calcinha
e sem-vergoinha
bem abaixadinha
fazer cocozinho.

Um mestre Zen não assinaria porque é Zen.

Carlos Anísio Melhor.
Salvador, Bahia, Brasil.

 



2. Por Edilene Mattos
Acadêmica. Escritora. Pesquisadora. Doutora, especialista em Literatura Brasileira (UFBA/USP).


A natureza ainda não se recolheu e o vento insiste em regressar em pleno verão. As janelas tremem, o outono já deveria ter chegado? Não, ainda é cedo. É preciso aproveitar a presença (mesmo imaginária) do sol para escrever sobre a luminoso e tão simples conto-poesia de Kátia Drummond.

Leio, releio, e sinto uma espécie de sossego que já não se usa mais. Uma doçura inefável! Ah! Este ardoroso texto, esta paixão feita de fatos que podem ser considerados até banais, mas onde se dá a experimentação da alegria e da tristeza - a hora exata do jogo das alegorias.

Ao abrir seu arquivo - Paris - a autora retira dele prazeres e sofrimentos, e assim faz todas as coisas passarem pelo coração. Codificando de imediato seu universo, faz da palavra um aprendizado feérico, sem desperdício. É, pois, do reencontro com o mundo, mas sob o influxo da imaginação criadora, da lucidez e do delírio, da razão e da desrazão, que nasce a criação de Kátia Drummond.

Sábia, Kátia entende muito bem o poder do discurso vivo. Sábia, Kátia percebe o fascínio da palavra. Porque a palavra é seu principal instrumento. Essa palavra que é, em verdade, um mediador entre a mulher (que conta/canta/encanta) e sua experiência.

Kátia Drummond, mulher do seu tempo, e dos que virão, é um estado de inspiração permanente, sempre vigilante e atenta aos pormenores. Tudo o que imaginou, sentiu, sonhou, ganha força através de uma consciência "ingênua" que não é guiada pelo intelecto: "Não vem do intelecto/ Vem da alma/ Não vem dos livros/ Vem do coração." E os fantásticos relatos de onírica realidade abrigam a experimentação do real pelo conto em forma de poesia, que pode soar estranha, porque a experimentação representada tornará sempre perceptível uma dupla realidade: subjetiva e objetiva.

Aprender a viver é que é viver mesmo, dizia J.G.Rosa. A autora captou muito bem esta lição do mestre e traz à tona o mundo lúdico de vivências ricamente acumuladas no plano do sentimento, capaz até de provocar suspiros de saudades do tempo vivido, capaz de manter intocável o momento atual e capaz de fazer revelações de um tempo que virá: "Eu poetizo e conto a vida sem limites."

Narcisicamente, Katia sai de seu casulo, olha-se ao espelho, desnuda-se, reflete-se e encontra-se em Paris, identificando-se com a cidade dos seu sonhos, metamorfoseando, graças a sua sensibilidade aguçada para a captação do sentimento, essa emoção cristalizada, que é a fonte geratriz do seu texto.

Lúcida e lúdica, Kátia Drummond cria um espaço, e não por acaso, de encontro e similaridade entre essas qualidades nem sempre tão próximas. Coladas, aliadas, a consciência e o jogo marcam presença em seu fazer poético, onde o social e o individual reclamam sempre para si o sentimento do mundo. E aqui, Paris, é seu principal e apaixonado representante.


Edilene Mattos.
São Paulo, SP, Brasil.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

Winterhalter Franz Xavier, Alemanha, Florinda

 

 

 

 

 

Kátia Drummond


 

DIVINO AMOR

Para todas as mães.


Quer seja do orgasmo a sintonia
e da fecundação a alegria,
não sei se é maior a dor do parto
ou a dor de entregar ao mundo a cria.
E é tanto, é tão profundo o sofrimento,
que o corpo-mãe vem a sentir por dentro,
que a aventurança da maternidade,
face a incerteza da vida lá fora,
à compaixão de mãe vira um tormento.
Ao coração de mãe vira maldade.

Ó Deus! Quizera nunca ter engravidado.
Nem mesmo nunca um dia ter parido.
Pois ter um filho e seguir rumo à morte,
deixando-o à deriva, à própria sorte,
é bem pior que um dia ter nascido.
Se em nome deste meu amor divino
eu bem pudesse reverter o tempo,
virar a roda-viva do destino,
e transformar, enfim, o saia em entre,
eu recolhia todos os meus filhos.
E, um a um, guardava no meu ventre.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jacques-Louis David (França, 1748-1825), A morte de Sócrates

 

 

 

 

 

Kátia Drummond


 

CARTA A BRISA


Querida filha Brisa,
A primavera portuguesa já chegou!
Infelizmente, ela veio bem antes de você.
Mas... não faz mal não.
Enquanto você não vem,
eu cá estou a regar todas as flores.
E quando as flores murcharem,
eu as colherei sem machucá-las.
Delicada e ternamente as soprarei,
e as lançarei nas asas do vento.
E quando o vento voar,
elas brotarão nas brancas nuvens.
Fique sempre atenta às nuvens, viu?
Vez em quando, favor olhar pro o céu.
E quando o céu amanhecer todo florido,
lembre que foi sua mãe, daqui de Portugal,
quem enviou essas flores pra você.
Com algumas delas, enfeite os cabelos.
Com outras, perfume seu corpo.
Quando as nuvens desvanecerem-se,
continue lembrando de mim.
Mesmo que o sol esteja mais quente
e que o céu esteja todo azul.
Não espere até a próxima primavera
para que nos encontremos.
Pois cá estou morrendo de saudades,
e a primavera pode não voltar.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ingres, 1780-1867, La Grande Odalisque

 

 

 

 

 

Kátia Drummond


 

MATER DEI

Para André Bernard,
meu filho de alma gitana.



Você brotou. Em mim, nasceram luzes.
O breu do universo se desfez.
Eu, radiosa, iluminava tudo.
Como as estrelas no meio da noite.
E como o sol encandescendo o mundo.
Amei você pela primeira vez.
Seu coração ruidoso, no meu corpo,
pulsava em mim. Eu era a Mater Dei.
E ao te sentir o corpo, buliçoso,
fazer folia junto ao corpo meu,
lacrimejei meu riso venturoso.
Pela segunda vez, então, te amei.
Enquanto a tua vida me expandia,
algum mistério novo acontecia.
Até que em mim, o amor feriu-se em dor.
Entre a tormenta que em mim doía,
eu, transbordando dor e alegria,
senti meu sangue quente a escorrer.
E do meu sangue, vi você nascer.

II
Virei Nossa Senhora, a mãe do mundo.
E fiz do Deus Menino o filho meu.
Segui teus gestos, a cada segundo.
Mãe-de-leite zelosa, fartas mamas,
ao ver meu sangue transmutado em leite,
e ao ter você, bezerro, no meu peito,
senti dos Budas todos os nirvanas.
Vivi a plenitude do deleite.
O de ser vida. Ser o alimento.
Senti uma transformação maior por dentro.
Vi que era mais que a Mãe. Eu era Deus.
E foi então que fiz um juramento:
jamais deixar sofrer os filhos meus.
Do meu sangue, fiz teu alimento.
Do meu corpo, fiz teu cobertor.
Teci para você um belo ninho.
E como faz a ave ao seu filhinho,
abri-te as asas, dei-te o meu calor.

III
Segui teu tempo de crescer e de voar.
Sempre ao teu lado, como um animal,
cumprindo o meu instinto, visceral,
acompanhei-te a cada caminhar.
Vi você, pastor, tocando flauta.
Você, anjinho, tocando bandolim.
Adormeci ao som da tua gaita.
E a vida quis te separar de mim.
Percorri mundo, qual uma cigana.
Você, em mim, a viajar comigo.
E a saudade, banzo de quem ama,
tatuava em meu corpo o meu castigo.
Cravejava em meu peito essa desdita.
A incomensurável dor que não reclama.
Que faz de toda mãe uma alma aflita,
a tatuar, no peito, o próprio filho.
A transformá-lo em seu mote perpétuo.
Como se o filho, esse andarilho incerto,
houvesse de seguir seu velho trilho.

IV
Acho que desertei. Saí de mim.
Cansei de padecer no desengano.
Só espero que minh’alma bucaneira,
a mesma alma que te fez gitano,
alcance te esperar a vida inteira.
Alcance te amar, vida após vida.
A cada dor. A cada despedida.
A cada ato do teatro humano.

 

 

 

 

 

03/05/2006