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Fabio Rocha

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Albrecht Dürer, Mãos
 
Alguma notícia do poeta:

Poesia:

  1. LoBoS 

  2. A Magia da Poesia 

  3. Escrever 

  4. O dia certo 

  5. Solidão 


Ensaio, resenha & comentário:

 

 

 

 

 

Jornal do Conto

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Titian, Three Ages

Fabio Rocha


 

Solidão
 
 

Não estou só.

Há ácaros em minha pele,
insetos escondidos em meu quarto,
células estranhas em meu sangue,
vírus em animação suspensa no ar
e sua forte presença
em meu coração.

 

 

 

 

 

 

Michelangelo, 1475-1564, Teto da Capela Sistina, detalhe

Fabio Rocha


 

LoBoS
 
 

E a coruja observa.
Na calma noite fria
Ela, quieta, espia.

Cai a neve molhada
Sobre cada pegada
Do menino sozinho.

Uivos se ouvem longe.
E a lua se enche
De um medo absurdo.

O pequeno caminha.
Vai alheio a lua
E a sorte sua.

Os lobos se aproximam.
Os caninos cintilam.
O rosnar é só um.

O maior é cinza.
Devagar, se aproxima
Do garoto parado.

O rapaz se ajoelha.
Calmamente, sorri.
Há algo errado ali.

O animal nada entende
E como se fosse gente,
Certa pena sente.

É então que o lobo
De olhos amarelos
Se deixa acariciar.

E o menino, devagar,
Um galho caído no chão 
Se põe a pegar.

Seu grito é sobre-humano,
Ao atingir o lobo no crânio.

Corre a alcatéia apavorada,
E a criança tem sua fome saciada.

A coruja olha displicente
O garoto partindo, na paisagem inerte.
Nem triste, nem contente.

 

 

 

 

 

 

 

 

Da Vinci, La Scapigliata, detail

Fabio Rocha


A Magia da Poesia
  

A magia da poesia
é encher a lua vazia,
aproximar o tempo distante,
chorar nos ombros da alegria,
eternizar um mínimo instante.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Alessandro Allori, 1535-1607, Vênus e Cupido

Fabio Rocha


 

Escrever
 

Meu corpo se enche de emoções dementes
como uma taça sob torneiras intermitentes.

Se não fosse a poesia
para onde ela transbordaria?

 

 

 

 

 

 

 

 

Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova, detail

Fabio Rocha


O dia certo
 
 

No dia em que a mulher de negro 
me cobrir com seu xale, 

na hora em que a escuridão 
inundar o vale,

não reguem com lágrimas o capim:
não estarei ali. 

E coloquem sobre mim
o anjo que não fui. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), Reflexion, detail

 

 

 

 

 

 

 

 

Fabio Rocha


A lírica de Soares Feitosa

 

Soares, irmão da palavra,

 

Megulhei em sua lírica com a sede dos secos de letras :)

Talvez pelo meu momento atual, apreciei principalmente o Abismo em três dias: incerteza, insônia que se finaliza em cinza e em poesia quase concreta, com a enumeração dos sentimentos e «Atés» deslizando para o extremo da página, como que partindo.

O chocolate quente do Adolescíamos me fez voltar à minhaTiziano, Mulher ao espelho infância, na casa da avó materna, com a mesma máquina Singer, mas sem uma Mirtes — quase que eu choro aqui antes do ponto final.

A simplicidade de Perdidos & achados, a meu ver, é o seu maior mérito. Os vocábulos populares, a poesia sem querer os louros da glória "diocionárica", a conversar informal com Mestre Antônio.

O todo de sua poesia pareceu-me precisa e preciosa, sem cair na armadilha do poema curto-hermético que não diz nada, nem no poema longo-hermético que dura — e como dura! — e também nada diz.

Da Vinci, Madona Litta_detalhe.jpgO Do belo-belo é um dos meus preferidos... Tanto que já está na seção de Mestres/Poemas de amigos, do meu site. A beleza das paisagens quebradas pela ironia dos dois dentes, que acabam se tornando mesmo belos como instinto de mãe nos faz questionar o que é o Belo.

Abraços do

Fábio Rocha