Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

Lilian Gattaz

 

liliangattaz@hotmail.com

Alessandro Allori, 1535-1607, Vênus e Cupido
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia & conto:


 

 

Crítica, ensaio, resenha e comentário:

  •  

 


Fortuna crítica:


Uma notícia da poeta, página em publica: 


 

do interno para o externo, do inscrito para o excrito, aprendi com o poético exercício da psicanálise e pela intimidade que desde muito cedo travei com as letras,que é lá no avesso, onde a vida começa, que a palavra nasce; e lidar com ela é um delicado trabalho de escolher sílabas como se escolhêssemos grãos reconhecendo uma vida própria em cada um deles.
escrevo simplesmente porque estou viva e por isso é que mexo com as letras, divirto-me com elas, provoco suas rimas insinuo predicados, evoco memórias de hoje de manhã porque o tempo é agora e cada letra que colho, cada sílaba que acolho, algo de espetacular vejo acontecer na minha vida
escrever é essa emoção de acrescentar sílabas à minha biografia [Maio de 2007]

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Velazquez, A forja de Vulcano

 

Hélio Pólvora

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

 

 

 

 

 

Claudio Willer


Mar de de Dentro

Em um dos poemas deste Mar de Dentro, há uma ilha submarina. Trata-se de algo impossível conforme nossos parâmetros e categorias de conhecimento, pois uma ilha submersa simplesmente não é ilha, deixa de ser o que é. Quatro versos antes, é ilha continente, outra impossibilidade: ou haveria um continente, ou então uma ilha. São locuções contraditórias, e sua autora sabe muito bem disso: entre uma e outra dessas imagens, menciona o segredo guardado/ no mais perfeito oxímoro – valendo lembrar que os oxímoros são as junções de antagonismos, de entidades contraditórias e fisicamente ou logicamente impossíveis, a exemplo de ‘calor do gelo’ ou ‘escuridão do sol’.

E assim, nesta estréia em livro, depois de já haver comparecido como autora em boas antologias e premiações, Lilian Gattaz vai desafiando o princípio da identidade e não-contradição, que é o fundamento da lógica e da interpretação do real na tradição ocidental desde Parmênides e Aristóteles. Não sofre do que Octavio Paz, em O Arco e a Lira, denomina de horror ao “outro”, ao que é e não é ao mesmo tempo, ao observar que, enquanto o mundo ocidental é o do “isto ou aquilo”, o oriental permite-se afirmar, sem reticências o princípio da identidade dos contrários. Exemplifica com esta passagem de um antigo upanishada: “Tu és mulher. Tu és homem. És o rapaz e também a donzela. Tu, como um velho, te apóias num cajado... Tu és o pássaro azul-escuro e o verde de olhos vermelhos... Tu és as estações e os mares.”

Trechos como este, e tantos outros, de relatos míticos, livros sagrados de outras civilizações e poemas contemporâneos, reiteram – ainda citando Paz – que a oposição entre isto e aquilo é, simultaneamente, relativa e necessária, mas que há um momento em que cessa a inimizade entre os termos que nos pareciam excludentes.

Em sua poesia, Lilian Gattaz aspira a não menos que isto: à superação das antinomias, ultrapassando limites e chegando à liberdade plena: tu que me vês liberta; e, nessa condição, sem tempo ou espaço sem roteiro/ sem segredos ou filosofias. Por chocar-se com o real imediato, a busca de superação das antinomias por vezes se expressa em um registro dramático, como em Santo Seio: trago em meu peito/ uma agonia de último trago/ – a do último gole é a que trago – / o desassossego de fundo de cálice/ em todos os gritos calados; ou, em poemas como Desafeto I e Ruptura da Estrutura, no modo irônico. Já em outras passagens, a poeta percorre, volante versátil de passagem, um mundo antropomorfo e sensual, sua ilha subjetiva. Vai nos oferecendo representações do corpo como mundo, microcosmo de todas as coisas existentes no universo: tu que me sabes toda/ que me vês estradas/ pontes cruzadas/ abismos/ valas vales recibos, pois sou sonhos sonhados – e assim vai abrindo um amplo leque de possibilidades expressivas, um infinito no qual o sol se pôs em mim/ e geramos a noite, e que contém o mar de dentro.

Muito desta série de poemas poderia ser musicado, por seus evidentes valores prosódicos – mas a poesia de Lilian Gattaz já é música: arranca do meu corpo já tocado/ o som que esse meu corpo possa ter. Esses sons geram novos sentidos através de permutas, pois, textualmente, escrevo porque escrava da palavra: de um modo pessoal, assim parafraseia a conhecida afirmação de Octavio Paz, O poeta não se serve das palavras: é o seu servidor.

Poetas não usam a linguagem para finalidades instrumentais, a serviço do útil, mas a respeitam; querem-na plena. Os procedimentos de Lilian Gattaz, ao valer-se de correspondências sonoras, permutações, recomposições anagramáticas que geram duplos sentidos e subentendidos – e se a clareza do marfim te polariza/ paralisa esse teu toque simplesmente – correspondem ao que o ensaísta português António Cândido Franco, no esclarecedor Poesia Oculta, chama de cabala fonética, entendida como expressão do rumor subliminar, fonético mas também semântico, que subjaz como diferença, alteridade e ocultamento. Pertencem à ordem desse rumor subliminar, transmitido através da poesia, as vozes que se ouve na ilha ao mesmo tempo submersa e continental do Mar de Dentro. São os alicerces da construção de uma nova linguagem – nova, e também arcaica, uma linguagem verbal (novamente citando Poesia Oculta) em que a palavra deixa de estar associada às práticas sociais secularizadas, [...] para passar a estar associada a um poder mágico, refundador imediato da realidade.

Essas vozes também correspondem aos sons de uma festa, convidando o leitor à celebração da conciliação entre linguagem e corpo através da poesia: sento-me à mesa do teu corpo vinho. Caberia como epígrafe de Mar de Dentro esta frase de Roland Barthes: Não há outro significado primeiro da obra literária senão um certo desejo: escrever é um modo do Eros.

 Direto para a página de Willer

 

 

Tiziano, Mulher ao espelho

Manoel Ricardo de Lima, 2003

 

 

 

 

 

 

 

 

Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

 

 

 

 

 

Renata Pallottini


Mar de de Dentro

[orelha]

 

A poesia de Lilian Gattaz está toda contida em sua própria definição de palavra, que é a sua própria definição de vida: escrever porque é, não apenas importante, mas indispensável, vital.

E essa intenção, essa proposta de vida está perfeitamente justificada no produto final, uma poesia de alta qualidade.

Lilian trata o Amor como alguma coisa que está alem do Bem  e do Mal, alguma coisa que, não importa o sucesso ou a infelicidade do empreendimento, continua a ser essencial.

O tratamento dado aos temas é extremamente bem feito, bem construído, e seu resultado induz a dizer que Lilian Gattaz está entre as melhores e mais pertinentes vozes femininas surgidas nos últimos tempos.

 

 Direto para a página de Renata

 

 

 

 

 

 

 

4.6.2007