Manoel Sória 

Manoel Sória

Não sou poeta

Não sou poeta.
Não gloso motes, não dedico tempo
a uma dama que me pediu versos...

Não singro mares.
Não naufrago, nem luto guerras
medo talvez de perder um olho...

Não morri jovem.
A saúde corre, como fonte limpa,
de água morna. Vou levando a vida.

Não, não tenho ovelhas.
Nem casal a que nele assisto
a cantar idílios com minhas Marílias.

Não faço rimas.
Nem das pobres, nem das brancas.
E sem metro.

Temo as inversões
profundas, os sons casados,
das idéias a paixão.

Não, não sou poeta.
Tenho vergonha da enfadonha rima,
das flores tristes
que já nascem mortas,
do vagar profundo
das cascatas vivas,
dos longínquos montes,
onde morre o sol.

Das lânguidas tardes,
sobre rios que vão
levando a pétala
que da flor caiu.

Da morte à espreita
aa alcova fria
do pobre poeta,
que pra fazer rima,
Mora com a tia.

Não. Não gasto a vida
com idéias fúteis,
com versos falsos
que nascendo à noite,
não resistem muito
ao raiar do dia.

Definitivamente:
Não sou poeta.


Manoel Sória (aos 17 de maio de 2004)

 

Início desta página