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Márcia Sanchez Luz 

Thomas Cole (1801-1848), The Voyage of Life: Youth

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia da autora:

 

Márcia Sanchez Luz

 

Bernini_Bacchanal_A_Faun_Teased_by_Children

 

Albrecht Dürer, Mãos

 

 

 

 

 

Poussin, Rebecca at the Well

 

 

 

 

 

Márcia Sanchez Luz


 

Biografia:
 

Natural de São Paulo, capital, Márcia Sanchez Luz formou-se em Literatura Inglesa e Francesa. É escritora (poesia e prosa), pedagoga e tradutora de Inglês e Francês. Iniciou sua vida profissional como tradutora e redatora, tanto de manuais técnicos como de normas de documentação e projetos na área de Informática. É autora de diversos trabalhos de tradução e versão técnica nas áreas de alimentos, refrigeração e informática. Na área de Psicologia, desenvolveu um trabalho voluntário com crianças limítrofes.

Pós-graduada e Especialista em Neurociências, Educação e Desenvolvimento Infantil pela PUCRS.

É “Escritora Imortal” pela Academia de Letras do Brasil.

Verbete na Enciclopédia Escritores Brasileiros da Real Academia de Letras.

 

 

 

 

 

 

Jornal do Conto

 

 

 

 

 

Márcia Sanchez Luz


 

Coração Arlequim - capa Coração Arlequim - capa Coração Arlequim - dedicatória a SF Coração Arlequim - capa Coração Arlequim - capa

 

Para além dos guizos

 

Em tempos de fusões e hibridismos, é uma delícia ler um livro que lida com formatos poéticos rapidamente identificáveis. Por constituir-se de uma poesia que prescinde de modismos para parecer conectada com a atualidade, Coração Arlequim consegue dizer o que tem para dizer de forma clara, sem precisar apelar para nenhuma estratégia. Eis um dos diferenciais deste livro: ele é o que é, sem precisar inventar ser outra coisa. Atualmente, a clareza da mensagem poética é um atributo cada vez mais raro, e a autora destaca-se exatamente por ter uma obra acessível a diversos tipos de público, sem cair nas armadilhas do simplismo.

Os poemas da primeira parte do livro abordam temáticas diversas com leveza, mas também com veemência quando se direcionam a graves problemas sociais. A flexibilidade estilística de Márcia Sanchez Luz não se atém apenas a um formato, propiciando-nos uma leitura repleta de variados ritmos e tons: na maioria são poemas minimalistas - tercetos, trovas, haicais e poemas curtos-, embora os maiores, como Quarentaine, sejam igualmente intensos.

Para restringir-me ao mínimo de spoiler possível, anteciparei apenas dois poemas do bloco poético inicial:


Ocaso de inverno:
sol em fogo, apaixonado,
deita e apaga as árvores.

Modernidade líquida

Deu pane
no liquidificador
atômico.

O primeiro exemplo ilustrativo é um haicai com métrica 5 - 7 - 5 e kigo de inverno, ou de tarde (o kigo é a palavra que liga o poema a uma das quatro estações ou a manifestações da natureza). Frise-se a riquíssima metáfora de um poente que vai lentamente apagando a sua claridade para as árvores poderem dormir e descansar. Neste dégradé de matizes, a cena é delicada, como o gesto de carinho de um amigo ou pai amoroso. Não há tristeza, apenas beleza; o crepúsculo não inquieta, nem entristece; ao contrário, enternece, despertando em nós enorme paz interior. Uma outra interpretação deste haicai, propiciada pela conotatividade da linguagem poética, é a imagem do entardecer de um afeto que vai lentamente esmaecendo, mas que traz em si a possibilidade de ressurgir forte e belo em alguma nova manhã.

O segundo poema, escrito em um tom bastante diferente do primeiro, possui um compasso elétrico, acelerado, condizente com a nossa atual Modernidade Líquida: uma ótica impactante e gigantesca do que o mundo se transformou, misturando/ triturando/picando nossas mais significativas experiências cotidianas, diluindo perspectivas, anseios, e sentimentos sólidos - chegamos quase a ouvir o som incômodo e frenético das hélices girando em alta velocidade. O título é uma referência à teoria desenvolvida em obra homônima por Zygmunt Bauman, na qual o filósofo aborda a liquidez, o escoamento, o descarte fácil e inconsequente dos bens consumidos, originando um fenômeno que atinge não só os objetos, como também os relacionamentos humanos.

Na segunda parte de Coração Arlequim aparecem os sonetos, modalidade que a autora ama e que é considerada "démodée, fora de moda" por muitos, como se a poesia precisasse desfilar em passarelas. Como qualquer outro formato poético, o soneto é atemporal e eterno, não tem como objetivo principal vestir-se das tendências atuais ou perseguir efêmeros quinze minutos de fama (Andy Warhol já entendia de Modernidade Líquida ... ). É uma forma fixa que requer habilidade, talvez por isto mesmo seja mais fácil rejeitá-lo do que fazê-lo. Além do mais, em tempo de inclusões, exclui-lo de forma tão radical parece-me um terrível contrassenso. Aplaudo então esta corajosa iniciativa da autora de exercer sua liberdade de expressão de forma ampla, para além dos preconceitos estéticos, achismos e fugazes invencionismos.


DesenCANTO


Tu és meu sonho descalço,
meu travesseiro rasgado
nos dias frios, gelados
de outono em que mede faço

por conta do horror que passo
quando passas ao meu lado
com tua ira, com teus brados,
com teu olhar de rechaço.

Não sei se um dia terei
força e coragem de sobra
para mudar minha sina:

destino que camuflei,
pensando que fosse obra
ou ventura de menina.

Eis uma voz lírica sem pieguismo, que parte do "eu" individual para chegar ao "nós" coletivo, abrangente e múltiplo.

Originariamente, o papel dado aos arlequins era cômico, divertido, leve, engraçado, destinado exclusivamente ao riso fácil; entretanto, as posturas e atitudes deles foram sofrendo radicais transformações segundo os atores que o interpretavam, e com o tempo tornaram-se zombeteiros, irônicos, irreverentes, provocativos, satíricos, inclusive questionando a estrutura política da época, como lídimos representantes do povo em oposição à pompa e à majestade da realeza. Porém de repente, "não mais que de repente" (diria Vinicius), pergunto-me curiosa como Arlecchino terá chegado até a poesia de Márcia. Sinto que precisarei entrar mesmo que rapidamente na vida pessoal da autora, para tentar encontrar alguma resposta plausível.

Compactar em duas ou três frases o currículo de Márcia Sanchez Luz é missão impossível, nem tentarei - até porque meu intuito é outro. Digo apenas, então, que em sua bagagem, para além de escritora com vários livros publicados e já com uma consolidada trajetória literária, ela é professora e tradutora de inglês e francês, e empresária, proprietária de uma boutique de roupas na cidade onde mora. Eureka!, aí está, achei!!! Embora este último dado pareça totalmente irrelevante e supérfluo, é justamente através dele que percebo o elo de ligação da autora (consciente ou inconscientemente) com arlequim, cujo traje contém as "mil dobras de sua personagem alegórica", no dizer do filósofo e historiador de arte Didi-Huberman.A vestimenta que o personagem usa o articula de imediato à sua dimensão simbólica: os "remendos" da indumentária (no começo remendos reais, feitos para tapar os puídos e rasgões no tecido) sugerem peças do seu ambíguo jogo de duplos- algo que foi feito e refeito, montado e remontado, revelado e escondido de si mesmo e dos outros. Muito do comportamento da figura de Arlequim expressa-se/oculta-se em seu figurino, também no uso da máscara, acessório que indica certo grau de disfarce e de mistério a serem desvendados. Já estampados em suas vestes, portanto, costuram-se o real e o imaginário, a ação e a ficção.

Não é à toa que artistas de todos os tempos seguiram as pegadas que conduziram à entrada deste secreto universo arlequíneo; nas artes plásticas a lista é extensa, citarei apenas dois deles: Matheus Da Costa, com seu Arlequim/soldado urbano e Picasso, que desde 1901 interessou-se poreles, e que os amou tanto a ponto de pesquisá-los e incorporá-los em várias fases da sua pintura, inclusive no retrato do seu filho Paul Joseph, em 1924. Na poesia e na dramaturgia também são inúmeros os criadores fascinados por arlequins: nossos Ariano Suassuna, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Menotti dei Picchia, e o dramaturgo italiano Cario Goldoni, dentre muitos outros.

Não se fixem pois, prezados leitores, em um único aspecto deste personagem, bem mais complexo do que à primeira vista aparenta, pois é esta riquíssima multiplicidade sensória do Arlequim a principal responsável pela sobrevivência dele entre nós até hoje. Desconstruindo justamente esta ideia reducionista de um Arlequim somente burlesco, a poesia de Márcia Sanchez Luz o desloca para a realidade dos dias atuais, transformando o personagem fictício em ser humano vivo, ao captar-lhe não só os instantes de alegria, mas também os de tristeza, reflexão, dúvida, incerteza, solidão, contemplação e lirismo, dentro do contexto de um theatrum mundi transformado aos nossos olhos, surrealisticamente - como observa a autora-, em potente liquidificador cada vez mais desgovernado. No fundo, o presente livro nos mobiliza tanto porque somos esse Arlequim compartilhando as memórias do nosso coração, e querendo criar novas memórias mais alegres com tudo e com todos.

Leila Míccolis
Pós-graduada em Escrita Criativa;
Doutora e com Pós-doutorado em Teoria Literária (UFRJ);
escritora de livros, TV, teatro e cinema
Cândido Mota, 29/6/2022

 


Livro Coração Arlequim
Márcia Guidugli Sanchez Luz
Bradesco - Agência 0031 - Conta corrente 4-3
Chave PIX: marciasanchezluz@gmail.com
Valor: 40,00
Frete: 15,00

 

 

Ticiano, O amor sagrafo e o profano, detalhe

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Paulo Petrola, 2002

 

 

 

 

 

Poussin, The Nurture of Bacchus

 

 

 

 

 

Márcia Sanchez Luz


 

ENTRE QUATRO PAREDES

Entre quatro paredes
Esqueço-te.
Faço de mim companheira
Guardiã de meus sentidos.
Digo pra mim mesma
Que a ninguém é permitido
Violar o meu silêncio.
Meu espaço é sagrado!
Entre quatro paredes
Não tenho defeitos...
Não sou acusada
Nem fico acuada.
Violar meu santuário
É invadir-me por inteira.
Guardo-me e, portanto
Não tentes me destruir.
Entre quatro paredes
Desvendo quimeras
Transcendo esferas
Estratosferas
Biosferas
Esperas
Eras...


 

PROFANO

Profano teu corpo
Como em mim ironizo teu gozo
Regozijo-me e te desconvido
A partilhar meu prazer.


Bendigo meu corpo
Como em ti assolei-me
Entreguei-te, vendada
O que vedado estava.



Bendito momento
Em que acordo, assustada
E descubro meu corpo
Inteiro, sem mágoas.


 

O ESPELHO


No espelho antevi o porvir
Moldado em arquétipos
Repleto de tipos
A se refletirem.

Contemplei limites
Vitais ilusões
Secretas crenças
A persistirem.



Veracidades...
Versatilidades...
Várias cidades
A se extinguirem.



Integrei-me à imagem
Em alto relevo
Entreguei-me à miragem
Que agora descrevo.



Seculares momentos
Discretos rebentos
Reflexos perdidos...
Puídos!


 

TRANSFORMAÇÃO


Vejo em teus passos
Pedaços de um todo
De um tudo jogado
Em cantos, quebrado.



Sinto em teus olhos
O medo do incerto
Do tempo que passa
Da luz que se afasta.



Repassas tua vida
Com ferro em brasa
Ateias fogo, jogas água
Não te bastas.



Procura então
Em meio aos pedaços
Unir-te inteiro.



Teus primeiros passos
Vão te machucar
Vais gritar de dor
Vais querer parar.



Porém continua!
O medo vai cessar
Vais achar teu rumo
Encontrar saída
Pra essa escuridão.



Não ateies fogo
Onde o ar é leve
Onde a tarde deve
Te dar solução.


 

O SER E A MENTE


Profícua mente escancarada
Doce mente estilizada
Elitizada e profanada
Insana e temerosa
Criação do nada
Que se esconde
Em prantos.



Em cantos
Se esgueira
Espreita calada
A cada segundo
Do ser e do mundo
Seu perfeito modo de ser
Atribulada mente... solitária.


 

LAREIRA ACESA


Em frente à lareira acesa
Contemplo o fogo que aquece
E que em brasa, a madeira
Meu amor transparece.

Meu coração não te esquece
Não te perde quando sonha
Enlouquece, entontece
Fica aceso feito chama.

Feito fogo em álcool embebe
Fico afoita, doida, rouca!
Te desejo, tonta e pronta
Te apercebes, me recebes.



Defronte à lareira acesa
Aqueço meus sentimentos!
Meus pensamentos se aquietam...
Aquieto-me frente à beleza
Que me convida a sonhar...
Com sua chama
Com sua calma
Acalma meus medos
Alerta-me
Fita-me
Incita-me
Faz-me sorrir.

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), Mignon Pensive

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Vicente Freitas

 

 

 

 

 

Jornal de Tributos, o lado profissional de Soares Feitosa

 

 

 

 

Márcia Sanchez Luz


 

 
Sent: Saturday, June 02, 2007 7:04 PM
Subject: À Vista de Ti

 

Caro poeta Soares Feitosa

 

Nunca te vi, melhor que seja assim.

 

"Nunca te vi, sempre te amei" - um dos filmes mais lindos que tenho por lembrança...   esta tua frase me remeteu a ele... o quanto podemos conhecer e amar uma pessoa pelas palavras não proferidas, mas tão bem colocadas num pedaço de papel... experiências trocadas à distância, enriquecidas pelo imaginário de cada um!

 

Teus cabelos seriam trinados ao vento?

 

Sim, pois que o vento e seus mensageiros tilintam os mais diversos sons sobre eles!       

 

Nestes tempos modernos, teria lugar para um silêncio?

 

Um silêncio da voz, certamente!

Bastaria a constatação da existência além da virtualidade.

 

Abraço-te, poeta

 

Márcia

 


  Direto para À vista de ti

 

Alexander Ivanov. Priam Asking Achilles to Return Hector's Body

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Alcir Pécora

 

 

 

 

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