Maria
Azenha
Século XXI ao longe!
De aqui de Portugal saúdo-vos ó todas as máquinas,
Século XXI ao longe!Estrelas extáticas!
Cidade com todos os movimentos por fora dos portões do
[absoluto!
Todos os vaivéns de Apolo para os cárceres privados
Todas as lixeiras monumentais pululando comigo,
Todas as orgias báquicas lá ao fundo dos muros,
Toda a erecção abstracta na literatura dos poetas
Toda a pulsação histérica! das raízes, das árvores, das pedras,
Todos os versos-símbolos roçando-se contra a força de Newton,
Todas as meretrizes-gestos aos concretos da alma,
Meus versos, meus pulos, meus urros!
Minhas sensações maiores em fuga para os símbolos!
Saúdo-vos! Saúdo-vos enfim deste solo!
Abram-se-me todas as portas!
Abram-se-me todas as janelas do passado!
Grande Carnaval de sensações cariocas,
Corpo e alma na contiguidade do Universo,
Ó sempre moderno e eterno átomo dos Cantores Transfinitos
Na voz universal dos poetas!
Por tudo isto vos saúdo.
Por tudo isto vos transmudo
Na consanguinidade da Terra e para a literatura do futuro.
Quero escrever agora sem intervalos nesta unidade moderna!
Quero escrever sem símbolos para a música das máquinas.
Quer ficar aqui, na impossibilidade de consubstanciar o mundo.
Quero passar e berrar e fazer literatura a todos os gritos.
Quero soltar os ventos e ir parar a todos os sítios,
Ser arremessada, atirada contra os muros, como as coisas que
[já estão longe,
E têm a força para além do infinito.
Ir por fora e por dentro a todos os momentos de tudo,
Por fora e por dentro de todas as fraternidades,
Mãos-dadas, palmas, sindicatos, comércios,
Estrelas extáticas no meu cérebro!
Século XXI ao longe!
Quantas vezes beijei o teu retrato!
Quantas vezes te marquei de Transfinitos!
Quantas vezes Rousseau, Picasso e todos os génios
Que estão para além de ti!
Ah, quantas vezes uma ânsia me ficou...
Alma-chave!, Alma-fera!
Alma-seta para todos os meus gestos carnais do passado,
Para todos os meus espasmos contidos!
Quantas vezes eu te bati!
Tu, carregado de limites!,
Século XXI ao longe! e a Cidade do Futuro!
Fora os políticos! Fora os literatos !
E os mercadores fáceis da literatura!
Fora com tudo!
Tudo isso é letra suja que mata
E esbarra com o espírito.
Deus é o sentido plurívoco do Universo.
Deus é o sentido antigo, motor-escada para o progresso:
Nave, grito, astrolábio,
Robot de todas as metafísicas!
Tudo numa grande corrida, numa grande indústria,
Numa grande marcha para a cidade no espaço.
Enfim, abstractamente, tudo rodando para cima de tudo
E fazendo um ruído disperso.
A alma é só una.
A alma é só una!
Por isso é a ti que endereço esta Carta Democrática,
Ë para ti que eu salto para cima de todas as ânsias inquietas
e confusas:
Círculos máximos, paralelos,
Panfletos de Futuro sobre os muros,
Paradeiro certo, ó grande libertador do cárcere das mulheres,
E não só!
Tua alma é nave!
Tua alma é ponte!
Não há apenas o sonho! Há a vida também!
E talvez uma outra terra para todos os propósitos incompletos,
Cortejo de mim,
Avé, salvé!
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Gargalhadas com mandíbulas colectivas,
Braços de memória em uníssono nas vigílias,
Tatuagens com coágulos nos cachimbos
Velhas a fumar Tempo!
....................................Quando são dois e é só um a
unidade,
Quando são três e continua a ser Um.
Quando são muitos e a unidade permanece.
Quando a inteligência é o princípio superior do Universo.
Por tudo isto vos saúdo,
Por tudo isto vos transmudo na voz universal dos poetas!
Por tudo isto, século XXI ao longe,
E a Cidade do Futuro!
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