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Maria do Socorro Cardoso Xavier


 

Alada
 


Sinto
uma saudade
não sei de onde
não sei de que
 


algo no ar...
 


na atmosfera alada
tempos de antanho
alhures
inconsciente regressivo
semblante
entre o chorar e o sorrir
tangível e transcendental
ao mesmo tempo
busca Infinita
Amor!
 

 

 

William Blake (British, 1757-1827), Christ in the Sepulchre, Guarded by Angels

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Manoel de Barros

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jornal de Tributos

 

 

 

 

 

Maria do Socorro Cardoso Xavier


 

Poema à mulher


Mulher, partícula divina
Canto natural e etéreo
Envolves -te não mais
Naquele medieval trêmulo mistério
Amordaçada em lúgubres castelos;
hoje, lanças -te à ação,
novos caminhos conquistas,
Desdobras-te em situações, atividades,
Quefazeres tantos,
Sintetizas dores e alegrias do mundo,
És o indefectível elo universal
Que em tudo e ápices momentos cintilas;
 


És do amor fonte perene
Ao fulgor da paixão animas
os semblantes pálido e adormecidos,
Com um olhar puro, complacente
Querendo-os ajudar, do torpor tirar,
com sorriso terno, gesto anônimo
fazendo-os vibrar com a sonoridade
das vagas;
 


Reverdece os campos ressequidos,
cobre-os de flores e frutos,
O teu anelo é tal vigor,
Em participação com o mundo
Crias, dialogas, à verdade buscar,
Que em incansável labor
No lar, escola, educação, ciência e tudo
também com a umidade cálida de uma lágrima
Faze-o desenvolver e transbordar.
 


És o rastro indelével do tempo
Que nem o furor do vento
Consegue apagar
Os laivos transcendentais do teu pensar
Em forma de bailar,
Na mais violenta procela
Ouve-se insistente, em som longínquo
A voz de uma eterna mulher
Pedindo ao grande mundo
Apenas um melhor mundo
De amor, progresso e paz
Onde todos encontrem o intrínseco lugar
E o vento, sem seus volteios de leva-e-devolve,
Imploras que ele arraste para bem longe
As poeiras turvas do sem amor
 


Há similitude de tua beleza com a da rosa,
Mas és inda mais que ela
Amas, lidas, sofres, choras e sabes perdoar
Àqueles corações enrijecidos
Pelas turbulências da vida, quantas
tropeçar muitas vezes
Jorrar acre lágrimas te fez,
Apascentas, compreendes os sofreres
E redimes quem te fez chorar;
 


Porque teu sentir é placidez,
Em vivências de incertezas e vitórias,
Consciente na tentativa de acertar
E subir os píncaros de muda glória
 


Abrigas brancos, dourados, verdes,
laboriosos ninhos
Sem teus aromas e brilhos confundir,
A frágil feminilidade de ti própria
Em encantamento, sublimes momentos
És dos poetas fulgurante musa
Dos companheiros suave agasalho;
e múltiplos valores, tantos
Pelos séculos, a história testemunhou;
 


Do enleio profundo do teu ser, irradia
O dinamismo indômito das ondas
do mar, dos rios
A fé inquebrantável de um profeta,
A pureza inviolável de uma flor,
A ternura de plumas em suave brisa
a beijar os cabelos de uma criança,
O amor universal de um redentor,
A esperança de um alvorecer
Aliado à paz de um por de sol,
 


E nesse deslumbramento trepidante
de pérolas e areia derramadas,
surges ao mundo valor insubstituível
Equilíbrio, harmonia, silêncio e paz universal!
 

 

 

Da Vinci, La Scapigliata

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José Nêumanne Pinto

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Da Vinci, La Scapigliata, detail

 

 

 

 

 

Maria do Socorro Cardoso Xavier


 

P Á S S A R O  A C U A D O


O pássaro voava alegre
pelos prados e Campinas
de repente uma balieira travessa
quase acertou-lhe
fez-lhe mudar o caminho
ficou tonto
ficou ferido
ficou acuado
não ouviu-se mais o seu canto
de livre, de feliz
ficou triste
muito triste
com a frieza
a agressão do ser humano.
 

 

 

Octavio Paz, Nobel

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Fernando Py

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova, detail

 

 

 

 

 

Maria do Socorro Cardoso Xavier


 

P O E T A
 


O poeta é como o amor
Fala uma linguagem singular
Não tem pátria, religião e cor
Dilata longínquas fronteiras
 


Que o poeta nada tenha
Mas não lhe falte
O vocábulo da emoção
A transposição do sentimento
Com beleza e alma
Recôndito do seu ser
Universo também de outros seres
 


A poesia é aquela mágica
Que faz o feio ficar bonito
O cego ver
O mudo perante o mundo falar
A terra conhecer o céu
Faz da realidade mais crua
Um universo aberto
com mil possibilidades
de estrelas iluminadas
Mesmo nas trevas
Da mais escura noite.
 

 

 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Antigona

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Millôr Fernandes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), Reflexion, detail

 

 

 

 

Maria do Socorro Cardoso Xavier


 

D I A L É T I C A


Nada neste mundo
é tão exato assim
nenhum ser humano
possui a fixidez da múmia
se estamos vivos
o sangue corre
em nossas veias
quente
ora frio
 


E assim vamos
construindo
destruindo
ao mesmo tempo
a cada dia
esta é a lei da dialética.
 

 

 

Caravagio, Extase de São Francisco

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Maria Maia