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César Vale

John Martin (British, 1789-1854), The Seventh Plague of Egypt

Poesia :


 Ensaio, crítica, resenha & comentário:

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Grief of the Pasha

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Picador

César Vale


 

Poeta é aquele que desmente as leis anatômicas e filosóficas,
vivendo do princípio vital de uma única entranha - o coração.
A poesia não tem presente. Ou é a esperança ou a saudade.

(Camilo Castelo Branco)

 

Não faz muito, conheci Soares Feitosa, para felicidade minha. Poeta, profeta e sábio - no enfeixe - gênio. Tal como faz em alguns poemas, sirvo-me do Latim: Gens, gentis = Gente - Gentil - Gentileza - Inteligência - Genialidade. A mão generosa do destino colocou-me diante do poeta e a mão do gentil-homem conduziu-me à sua casa e ao computador. Ali eu vi o embrião de uma obra que, ao nascer, espantará o mundo. Tive este privilégio no mesmo instante em que conhecia o Soares Feitosa. Depois, as coincidências do que, em comum, havia entre nós que nos conhecíamos. Adiante, uma visita, e a outra coincidência, destas que nos espantam e produzem em nós arrepios, dos pés até cabeça. É que o personagem de uma reportagem minha era o mesmo da sua obra embrionária, estava ali à nossa frente a foto do jornal e a fotografia original, tudo batendo certinho. Confesso que nesse dia eu gelei.

Depois, o livro de Erasmo Braga, Padre Geraldinho, Nova-Russas, telefonemas e, por último, em minhas mãos - RÉQUIEM TEM SOL DA TARDE - belíssimo livro de poesias com o qual estreia e se consagra no mundo das letras. Volto um pouco no tempo para dizer que havia lido antes, vinte vezes, ou mais, e, outras mil, ainda hei de ler - OS ÓRFÃOS - trabalho que prefaciou o livro de Juarez Leitão sobre a vida de seu tio Padre Leitão, vigário de Nova-Russas, já falecido, e que, também era "primo-tio" do poeta.

Como os sons daquelas alboradas do seminário que tanto busca ouvir repetidas e não consegue o poeta; nem depois de ouvir todos os clássicos e nem após todas as procuras por todos os caminhos possíveis, não os terá de volta. Como os cabelos molhados da moça, são fios de lembranças. Não mais voltarão os sons, pois que se diluíram entre versos e poemas, viajaram, ganharam o mundo, passearam pela História, foram à Grécia, à Roma, à Gália, à Germânia e à Lusitânia. Homero, Virgílio, tribunos, generais - Camões, todos ouviram os sons daquelas alboradas nos seus versos. Feitosa tem a dimensão de todos, poeta universal que é. Aderaldo, Zé da Luz, Zé Limeira, Otacílio, Patativa, Gerardo Mourão, Euclides da Cunha, Conselheiro, Beato Lourenço, Padre Cicero, são o povo dos seus versos.

De Homero ao Patativa, que distância haverá? Distam um do outro um pensamento voando na correnteza do vento. Vento novo expulsando o vento velho da cisterna. Chuva lavando as telhas. Águas guardadas, medidas e abençoadas. Açudes gigantescos no meio da rua. Orós, Assuã. Urupemba penetrando pontinhos de luz, Cantareira, a besta do Tatim, os biscoitos do padre a rede o mosquiteiro (feito altar e o Lello Universal, tudo coisas do padre... e os olhinhos do preá!...

Canta poeta... Teu canto é ardente e sublime... Canta teus bichos, teu chão e teus pés de pau... Canta as dores, não, chora as dores das nossas crianças que interrogam se no céu tom pão. Chora essa inocência, mas, fala, ainda mais bonito, da coragem dos nossos meninos machos, curtidos na rua e na favela, curtidos no sol das esquinas, subindo no balde pra alcançar o parabrisa e ganhar um trocadim... Canta os meninos de Canudos - homens-meninos ou meninos-homens engatilhando a “mannlicher”, clavinote de talento, combatendo a soldadesca do governo.

Viaja poeta... Vai à Grécia, ao mundo das Ciências e das Filosofias ... Dialoga com Sócrates, Aristóteles e Platão e beija por mim a alma desse Santo. Manda-te, depois, pra França e põe-te entre Voltaire e Diderot, mostra-lhes o FORMAT CÊ DOIS PONTOS, completa tua volta ao mundo e, depois, volta aqui pra contar tuas andanças e navegações. Vem aqui pro Canindé, nosso Canindé... É lá que mora o Santo maior - o Francisco, que protege o Francisco da dona Anísia, o Francisco do Padre-mestre, o dos padres do seminário. Santo forte que guarda e protege tuas raposas, os macacos, o macaco que te mordeu no aquileu, teus cachorros, teus gatos, teus jumentos irmãos de leite teu cavalim, os canários de canto e briga, os cupidos e o inocente coraçãozinho do beija-flor, do beija-flor e de tudo quanto há de passarim, assim mesmo como foi escrito, passarim.

Fica aqui, poeta, cantando a Esperança... remoendo a Saudade.

 




Soares Feitosa, 2003

Leia a obra de Soares Feitosa

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Picador

 

 

 

 

 

 

 

Entardecer, foto de Marcus Prado

César Vale


 

Velho Seminário


Vetusto casarão! Velho Seminário!
De mim guardas um fio da existência,
Os ossos de minha fé e crença
Que sepultei no teu sacrário.

Passos tímidos da minha adolescência
Palmilham do teu chão o Santuário,
Inda pedem Latim e Dicionário
P'ra construção de uma Sabença.

— Devolve à minh'alma o conforto,
Que o Passado em mim quase já morto
Chora todas as saudades.

— Me deixa retornar ao pó da Natureza
E preso à urna da Tristeza
Viver contigo a Eternidade.
 

Entardecer, foto de Marcus Prado

 

 

 

 

 

 

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Maura Barros de Carvalho, Tentativa de retrato da alma do poeta

 

 

(19.06.2023)