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Washington Queiroz


 


Sei que não me Amas



No entanto continuo azul,

Prússio: urso no horizonte

e violinos no coração.



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Theodore Chasseriau, França, 1853, The Tepidarium

 

 

 

 

 

Washington Queiroz


 

Andante



Ai que vontade de amar, de amar, de amar

como uma bola de sabão

que morre colorida

num dia totalmente azul!


 

 

 

Herodias by Paul Delaroche (French, 1797 - 1856)

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Lilian Mail

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Washington Queiroz


 

A Geografia dos Dias
p/ Tamires, meu filho



Esta geografia do silêncio,
a face muda / mudo
calendário - a passar, passar...
Os dias / ímpios
e os segredos invioláveis.
Meu filho tecendo nuvens
ante meu rosto mudo;
tecendo suas cirandas,
perplexo, - meu rosto mudo.

"- Pai, por que o rosto mudo?
por que o rosto mudo?"

- A geografia dos dias:
diáfana,
efêmera,
/meu rosto mudo.


 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), L'Innocence

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Neide Archanjo

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Empire of Flora

 

 

 

 

 

Washington Queiroz


 

As palavras


É preciso apanhá-las
quando orvalho e metal
explodem da glande
sob as vistas de sagitário.
É preciso.
Antes que um réptil afoito
roce a folha
e a gota caia,
é preciso apanhá-las.
Para o sono dos que dormem
com a terra,
é preciso.

 

 

 

William Blake (British, 1757-1827), Angels Rolling Away the Stone from the Sepulchre

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Regina Sandra Baldessin

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Venus Presenting  Arms to Aeneas

 

 

 

 

 

Washington Queiroz


 

O PUCURUÍ
Aos índios Parakanã


Água:                    Água:                     Água:        ultramarino lince/horizonte:
corcéis bebendo o néctar;
araras ecoando fontes.
o mito das águas fundas.
                            Perdidas auroras:
Náiade do sem fim. Perdido peixe-
boi, vário passar ao longe.
                            Vênus despertada.
                            Órion constelada.
Bêbados — abissais ângulos da madrugada — amores fenecidos.
(Como doer na madrugada dos pardais?)
                            Boto, peixe-boi
lendas a esconderem-se do limbo das palavras
no istmo do próprio organismo,
a inebriar-se de ti.
                            Em mim: saudade
e desesperança.


 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), Admiration Maternelle

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Andréa Santos

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Plaza de toros

 

 

 

 

 

Washington Queiroz


 

Onde apanhar o mais profundo do mar


Onde o mais profundo do mar?
Na espuma do seu rosto,
no sal, em lágrimas, em órion,
está o mais profundo, a face,
a faca descendo
lenta: a manhã.
Não nos seixos submersos
que guardam as ranhuras do osso
mas na epiderme que o olhar toca
está a taça — safira e musgo
margem e rio.

Onde se desfaz o mar, em beijo
e areia é que apanho nuas,
luas-espuma, as suas fossas-mistérios.

Onde o mar é mar é só espuma;
toda lágrima, toda face, recriando sempre
em espumas, nosso coração mais duro:
latejante alvo que em golpes vermelhos
soluça no que há de maior afeto entre espuma
[ e areia.


 

 

 

Michelangelo, Pietá

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Eleuda Carvalho

 

 

25/05/2006