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Vânia Moreira Diniz


 

Fascínio


Meus olhos se fecham,
Minhas mãos procuram
Meu corpo treme
sensações se multiplicam...
À procura do teu amor,


A vida parece extinguir-se,
Lucidez fugindo docemente,
na alucinação do prazer,
Desejo intenso e ilimitado,
Doçura a nos libertar.


Troca de carícias,
A povoar a alma de sonhos,
Nossos corpos a pedir carinhos,
Sensualidade provocante
em luxúrias poderosas.


A penetração enlouquecedora,
Orgasmo a liberar o prazer,
O encanto e o fascínio,
Oferecimento sedutor,
gemidos eloqüentes
Paixão!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Andreas Achenbach, Germany (1815 - 1910), A Fishing Boat

 

Vânia Moreira Diniz


 

No dia que te conheci


No dia que te conheci tudo na vida brilhava,
Eu olhava o mundo com expectativa e esperança,
Sem contudo imaginar o delírio imenso
Que seria a tua presença inigualável.


No dia que te conheci a noite era clara e estrelada,
Eu ostentava no olhar jovem faíscas de sedução,
E costumava contemplar as estrelas com indiferença,
Como se o mundo pudesse girar ao meu redor.


No dia que te conheci não imaginava,
Como era linda, doída, imaterial e delirante uma paixão,
E sorria do modo encantador com que me olhavas,
Sem avaliar o peito dolorido em amor incontido.


No dia que te conheci ainda acreditava
em príncipes e fadas e gostava de imaginar
sonhos pueris e rostos inexpressivos,
a refletir-se em minhas fantasias noturnas.


Quando te vi, fixei o teu rosto e meu coração saltitava,
Eu só não saberia adivinhar que a paixão iniciava,
Seu lento e progressivo desenrolar exuberante,
E transmitia no seu calor estranho a mensagem desejada.


No dia que te conheci,comecei a enxergar o mundo sem entraves,
Meu coração acelerado anunciou uma emoção forte e [desconhecida,
E me perguntava o que poderia estar acontecendo de tão potent
Parecendo que um desejo consumia e uma emoção dominava, [incoerente.
No dia que te conheci...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Caravagio, Êxtase de São Francisco

 

Vânia Moreira Diniz


 

Esplendor


Quando te abraço nas horas do amor,
E sinto a plenitude a me dominar,
Não existe mais qualquer possível dor,
Só meu coração vibrante a acelerar.


Enquanto me beijas ardentemente,
Línguas a se entrelaçarem em efusão,
Sinto a vida brandir tão simplesmente,
Nas emanações dessa vigorosa paixão.


Não existem nem céu nem terra,
Lua, estrelas ou até constelações,
Planícies, rios lagos ou serras,
Nesse momento de tantas emoções.


Tudo se esconde para vivermos,
O mágico espaço de tempo no amor,
Para que em loucura desejemos,
Até mesmo a ânsia que se faz esplendor.


Tudo é luz diáfana e fascinante,
A contornar nossos corpos eletrizados,
Enquanto na magia dos corações amantes
Somos conduzidos ao éden maravilhados.


E te sinto aos gemidos alcançar o prazer,
E a escuridão me envolve deleitosa,
Não tendo consciência para descrever,
A imensa aura que me conduz impetuosa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Titian, Venus with Organist and Cupid

 

Vânia Moreira Diniz


 

Quem sou eu?


Quem sou eu que não me enxergo,
Nessa luz rasa e fracamente difusa,
Quem sou que não me encontro
E nunca entendo o que se passa?


Quem sou eu a caminhar pensativa,
Procurando entender minha alma,
Penetrando em sinuosos caminhos,
E tentando não cair naquele abismo?


Quem sou eu que não compreende,
Esse momento estranho tão rude,
A agredir meu sentimentos,
Quem sou eu afinal?


Quem sou eu a olhar no infinito,
Procurar nas estrelas a minha luz,
Pedir a lua que me devolva os segredos,
E me deite na areia da minha praia?


Que sou eu, que procuro o inexistente,
Pede que aqui ele me busque,
Indicando-me a estrada sinuosa,
Que nem sei por onde passa?


Quem sou eu, que não me reconheço,
Não entendo o que digo ou faço,
Entre mistérios não me atento,
E assim entre quedas prossigo?


Quem sou eu? Quem sou eu,
Que não me reconheço?
Que de longe contemplo,
E digo para sempre que não quero?


Quem sou eu sem tamanha lucidez,
Cujo olhar não atinge nem penetra,
O horizonte que antes eu via,
E me parece tão estranho e distante?
Quem sou eu?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Consummatum est Jerusalem

 

Vânia Moreira Diniz


 

Plenitude


Enquanto nos desnudamos,
Afogueados em profundo desejo,
Tuas mãos a acariciar-me,
Minhas mãos a te procurarem,
O abraço aconchegante e prazeroso,
O beijo que encontra nossas bocas
A se desejarem em agonia,
Meus lábios úmidos colados aos teus,
Nossas línguas ansiosas a se falarem,
Já nem temos noção do que nos cerca.
Enquanto nos tornamos único ser,
Almas sonhando os mesmos sonhos,
Corações a bater em uníssono
Corpos a se fundirem em alucinação,
Coxas a se entrelaçarem em ânsia,
Músculos tensos de tanto desejo,
Procurando o supremo prazer,
Só pensamos no nosso amor.
Enquanto saciamos a sede mútua,
Nesse amor louco e estonteante,
Oferta inexplicável e maravilhosa,
Querendo expulsar tanta saudade,
Vamos adentrando os caminhos,
Devagar e misteriosamente,
Encontrando nessa completa fusão,
O paraíso , gemendo de paixão,
A concretizar o sonho em plenitude

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Entardecer, foto de Marcus Prado

 

Vânia Moreira Diniz


 

Convite


Dominada pelo teu apaixonante olhar,
Tudo à minha volta rodava,
Mas por tua palavra resolvi esperar,
Enquanto meu coração ansiava.


Já não me entendia, tudo era suspense,
Nos minutos em que flutuava perdida em ti.


Caminhavas para mim sem noção,
Absorvido pelo sedutor momento,
E avaliando o tamanho daquela sensação,
Não existia mais espaço nem tempo.


Já não me entendia, tudo era suspense,
Naquele instante em que esperava por ti.


Parada, pressentia uma névoa a espairecer,
Cobrindo-me como um manto de emoção,
Dificultando-me e interceptando a razão,
E o violento sentimento só a crescer.


Já não me entendia, tudo era suspense,
Naquela hora em só me concentrava em ti.


No abraço a envolver-nos não acreditei,
Naquele torpor delicioso e inesperado,
Abri meus olhos e inconsciente presenciei,
A nuvem cobrindo meu olhar paralisado.


Já não me entendia, tudo era suspense,
E só conseguia, louca unir-me a ti,


Depois o espaço se fechou ao nosso redor,
A doçura senti em meus lábios entreabertos,
E parece até que já sabia de cor,
O tamanho do mundo que me era oferecido.


Já não me entendia, tudo era realização,
E só conseguia perder-me em ti.


Nada importava naquele instante,
O desejo fora transformado em prazer,
E em infinita proporção semelhante,
Só cabia a certeza do que era viver.

 

 

 

 

 

 

24.08.2005