Alceu
Brito Correa
Poesia "Arte sã"
EPICICLO traz, inicialmente, uma interessantíssima contradição: é o primeiro livro
solo de um autor já bastante conhecido na literatura brasileira.
Alceu Brito Corrêa, mineiro, residente em Brasília, é contista,
artista plástico, mas, principalmente, poeta atuante, membro de
diversas entidades culturais e possuidor de vasta obra. No entanto,
até agora, encontrava-se ela dispersa e espalhada por antologias nacionais
e estrangeiras (Brasil, Portugal, Itália), sites, jornais e revistas impressas.
Se, por um lado, esta postura mostra um pouco do perfil do poeta que apostou na
ação coletiva da poesia, por outro, revela também a impossibilidade, até hoje,
de um estudo mais aprofundado de sua produção literária, através de uma visão
de conjunto abrangente.
Para preencher esta lacuna, surge EPICICLO, imprimindo, como
o título prenuncia, uma espécie de movimento circular expansionista
ao arrebanhar tudo o que já foi feito, não para voltar às origens,
mas para mais se expandir em outros círculos. E, assim, seus
“pensamentos com garra” propagam-se pela terra, pelos céus e pelo
ar,
“afogando o assim seja
em cada copo de cerveja”
“escondendo a Lua Nova”
“beijando o espaço vazio”
atingindo alvos certeiros:
o “astro de TV que não se
crucifica, no máximo desliga-se”,
os “filhos de esquinas tão estéreis”,
as “bailarinas sem músicas”,
os que “não doam lágrimas”,
e a “tanta gente, de rostos invisíveis,”
que apenas “vive por viver
recordando por recordar
o silêncio da própria vida”,
incapaz de perceber o “poeta passar seguindo seu próprio féretro”.
Uma poesia que se dirige,
portanto, “à multidão que existe nele”, em nós, e em todos que,
acreditando na força da palavra, sempre
“preparam o dia
para um novo salto”.
Leila Míccolis
Poeta, escritora de cinema, teatro e TV
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