Xenia Antunes
Caro
Soares,
Recebi
e agradeço o envio do Estudos e Catálogos - Mãos. Desculpe
a demora em responder, mas estou (estamos todos) às voltas com uma
praga de vírus (esse é brabo) e tenho que ter cuidado triplicado
com tudo o que entra e sai, além dos
procedimentos de rodar antivírus duas, três vezes por dia (já
recebi uns 600 e-mails, barrados pelo AVG, felizmente). Fora o
trabalho, que é muito, nada de férias.
Eu
fico "de cara" - é, só na gíria mesmo pra expressar -
com a sua produção! E vai escrever bem assim na ...cê sabe onde!
É
uma honra partilhar escrituras com você. E ler o que você escreve
é uma dádiva neste mundo literário tão medíocre.
O
Jornal de Poesia é essencial, vida longa! Além disso, o seu
trabalho de divulgação dos outros poetas e escritores é de uma
tremenda generosidade, coisa rara!
Quando
puder envie algo pra publicarmos na revista A Confraria, vai
ser um luxo!
Um
grande abraço,
Xenia
Brasília
(Fev/2004), chovendo, chovendo... e o Lula voando, voando...
Rita
Brennand
Sent: Friday, February 06, 2004 10:44 PM
Subject: Meu silêncio
Francisco
meu, por favor não repare meu silêncio. Ele é a minha
homenagem, minha gratidão.
Leio
tantas vezes, tantas vezes leio, só me resta o corpo intenso, a
carne trêmula,o arrepio da alma.
Gilberto Alves Jr
Poeta
Soares,
Permita-me
fazer uma leitura menos teórica do "papé". Além disso,
vale dizer que é a leitura de alguém que não tem saudade de todas
as coisas que você narrou, mas, talvez, vontade de conhecê-las
algum dia. Alguém da cidade, muito da cidade. Até demais.
As
mãos, a forma rústica e ao mesmo tempo doce como elas são
desenhadas nas suas linhas, e nas entrelinhas, ficam na mente. O
couro do boi, meu avô tinha um como tapete na sala, eu me lembro
bem disso. E é o único contato que eu ja tive com couro de boi.
Mas
o universo do qual você fala é, para mim, outro mundo, o que torna
a obra muito mais interessante. Vai sendo uma descoberta atrás da
outra. O único contato com queijo que eu já tive: vê-lo no
supermercado, embalado. Com o leite, em caixinhas longa-vida.
A
impressão que dá é que a gente esquece que o leite vem da vaca,
que alguém cuida da vaca, que a vaca come pasto e tudo isso no
campo. A impressão que dá é que as caixas de leite dão em
arvores, e são colhidas e levadas para o supermercado. As duas
histórias seriam iguais para mim; eu nunca vi uma vaca dando leite,
tanto quanto nunca vi uma arvore de leite longa-vida.
Assim,
esse universo novo e diferente vai sendo aberto, jogado na minha
cara, de uma forma que causa muita estranheza. E beleza!
Eu
li seu "papé" no trepidar do ônibus, na avenida Marginal
do sujo Tietê, não numa rede às margens de algum rio que corra
devagar e limpo. Assim, minha leitura é bem diferente da de alguém
que passou pelas experiências que você conta. E se quer saber:
achei tudo muito lindo.
Um
abraço
Gilberto
Jr [da cidade]
Leontino Filho
Estimado
amigo
Soares
Feitosa,
felicidades.
Recebi, sim, na quarta-feira, ESTUDOS & CATÁLOGOS - MÃOS.
De pronto, agradeço-lhe pela gentileza da remessa. Li, com
entusiasmo e interesse, o seu precioso prefácio
(quase-livro-ensaio-total) para RECORDEL, obra do poeta
Virgílio Maia, autor que muito admiro, pelo talento e pela grande
inventividade artística.
Seu
texto MÃOS, em brevíssimas palavras, nos oferece o pão
abençoado da poesia, e nos aponta para a maior das utopias: o
encontro do sertão com o mar, encontro esse que desnudará toda a
beleza do universo.
Parabéns
pela esmerada poesia que emana das páginas de MÃOS, um
verdadeiro tratado de amor à arte.
Louvo,
também, o nascimento das Edições Cururu, que outros saltos
lu-minosos aportem por estas redondezas. Mais uma vez, muito grato
pelo carinho da remessa.
Dê
notícias, sempre que puder. Receba o abraço fraterno do amigo
Leontino
Filho
Álvaro Seiça Neves
Feitosa,
Um
bater de coração primordial, semelhante a uma batida dentro do
útero, apoderou-se quando recebi castanho envelope e dobrado na
minha caixa de correio.
Estudos
& Catálogos - Mãos -
impressionado. A poeira e a fadiga do gado transportaram-me para um
planalto de origens - carne-couro a chocalhar dentro de mim. Mãos.
Mãos como vasilhas abertas à criação! Tudo parece tão perfeito
assim. A questão da serifa não deixa de ser menos inquietante -
existirá a desejada sapata debaixo de cada um de nós?
Mas,
sobretudo, fica a promessa de um Recordel anunciado, espero!
No final, a renovação é sempre a continuação no ciclo pródigo
da vida - "as mãos dos novos hão de garantir as nossas mãos.
Por sobre, sempre por sobre; assim tem sido." Lembra-me a
infância da amizade pura, mãos ensinando amor...
Um
convite - Edições Cururu... Teria todo o gosto em
participar, diga-me se, caso tenha lido Hidra, gostaria de a
ver publicada em Cururu?
Abraço
grato,
Álvaro
Nota
do editor:
Edições
Cururu publicará,
inicialmente em adobe.pdf, o livro Hidra, do poeta Álvaro
Seiça Neves.
Dom
Soares Feitosa
Recebi
seus Estudos casados com os Catálogos mas
principalmente as Mãos. Sempre que vou à casa do meu avô,
entro em contato com as mãos dele, que permanecem latejando nas
cadeiras, na mesa e nas portas
Li
seu trabalho como quem bebe um copo de garapa de cana e depois lambe
os beiços. O seu texto não deu "raposa"!
"Raposa" é uma gastura que a gente sente quando bebe
muita garapa sem colocar limão. Mas é preciso ter cuidado com
limão, pois se cair um pingo que seja no parol azeda tudo e não
dá rapadura que preste.
Sim,
"xixilar" é faltar fogo na fornalha. Você é o poeta que
não "xixila".
José
Batista de Lima
Luciano Tosta
Caro Soares,
Depois de parado no meu escritório
durante alguns dias, finalmente li o tal "papé". Li e
gostei muito.
Gostei
de como você compõe a realidade através da
fragmentação, como
conecta o tempo, a paisagem e a linguagem, e de como tira-se vida
puríssima como o ar deste teu Ceará ou da minha Bahia destas
linhas.
Aí
está um Brasil ainda desconhecido de muitos; um Brasil que tem
memória com cheiro, gosto, cor e força, até para
"ferrar".
Eu,
que escrevo daqui das "estranjas", duma América que não e
"nuestra", como queria o cubano José Marti, muito menos
"nossa", como, iludidos, pensam alguns dos muitos
brasileiros que hoje habitam esta Nova Inglaterra onde estou,
mas sempre "deles", senti saudade de casa, do meu Brasil.
Senti
no seu texto tambem uma certa inquietação e lembrei-me de Pessoa,
mas não o do Guardador de Rebanhos, pois seus bezerros,
cavalos, burros e jumentos, mesmo "dóceis", tem a
vitalidade insuperavel de nossa terra e nosso povo, mas sim do seu
tardio e fragmentado "Livro do Dessassossego". Então,
depois deste prefácio, que venha o resto da sua angústia, saudade,
história! E será bem-vindo!
Abracos,
Luciano
Tosta