Adelmar Tavares
Trovas
Não sei porque, quando canto,
por mais alegre a canção,
tem uma gota de pranto
que vem do meu coração.
*
Eu vi o rio chorando
quando te foste banhar,
por não poder te banhando,
dar-te um abraço, e ficar...
*
Oh lindos olhos magoados,
de tanta melancolia...
- Da tristeza desses olhos
é que vem minha alegria.
*
Amar é obra perdida
mas, que dissessem, queria,
se não fosse amar na vida,
a vida, que valeria?!
*
As penas em que hoje estou,
disse-as ao Sol, - fez-se triste.
Disse-as à Noite, - chorou...
Disse-as a ti, e sorriste...
*
Não lamento a minha lida,
nem, pobre, choro os meus ais.
Quem tem um amor na vida,
tem tudo! Para que mais?
*
Vou vivendo a minha vida,
como Deus quer e consente.
- Sou como a folha caída,
levada pela corrente.
*
Trovas, - cantiga do povo,
alma ingênua dos caminhos,
de lavradores, cigarras,
mulheres, e passarinhos...
*
Para esquecer-te, outras amo,
mas vejo, por meu castigo,
que qualquer outra que eu ame,
parece sempre contigo...
*
Para de amor cantar mágoas,
foi que se fez o violão,
que a gente aperta no peito,
e encosta no coração...
*
Quem tiver amor, esconda,
faça por muito esconder,
que as coisas da alma da gente,
ninguém carece saber...
*
Só peço o dia em que eu morra
faça uma noite de lua,
todo troveiro descante,
todo violão saia à rua.
*
Quando eu morrer, levo à cova,
dentro do meu coração,
o suspiro de uma trova
e o gemer de um violão...
*
A morte não é tristeza,
é fim... É destinação...
Tristeza é ficar na vida
depois que os sonhos se vão...
*
Depois de mandar-te embora
foi que - cego! - percebi,
que eras a felicidade
que eu tinha em mãos, e perdi.
*
Bem sei que amar custa muito,
custa a vida querer bem,
mas custa o dobro da vida,
na vida não ter ninguém.
*
Oh linda trova perfeita,
que nos dá tanto prazer!...
- Tão fácil, - depois de feita...
tão difícil, de fazer...
*
Para definir o Poeta,
Só mesmo em versos defino.
- É um homem que fica velho,
com o coração de menino...
*
Minha Mãe, minha velhinha,
Deus te abençoe, e acompanhe,
porque uma Mãe neste mundo,
quanto mais velha, mais Mãe.
Poesias completas, 1958
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