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Alceu Wamosy

 

Thomas Colle,  The Return, 1837

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:

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Nilto Maciel

 

Adriano Espinola

 

 

 

 

 

 

 

Da Vinci, La Scapigliata, detail

 

 

 

 

 

Alceu Wamosy


 

Duas almas
 

Ó tu que vens de longe, ó tu, que vens cansada,
Entra, e, sob este teto encontrarás carinho:
Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho,
Vives sozinha sempre, e nunca foste amada...

A neve anda a branquear, lividamente, a estrada,
E a minha alcova tem a tepidez de um ninho,
Entra, ao menos até que as curvas do caminho
Se banhem no esplendor nascente da alvorada.

E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,
Essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,
Podes partir de novo, ó nômade formosa!

Já não serei tão só, nem irás tão sozinha.
Há de ficar comigo uma saudade tua...
Hás de levar contigo uma saudade minha...


 

 WAMOSY, Alceu. Poesia completa.

Alves Ed.: IEL: EDIPUCRS, 1994. p.143

 

 

 

Marcia Theophilo

 

Renata Palottini

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Alceu Wamosy

 


 

Ária Antiga

Chora o orvalho da luz sobre a rosa do dia
que se fecha. O jardim todo lembra um altar
para o qual sobe o incenso azul da nostalgia,
e onde os lírios estão de joelhos, a rezar.

Tu cantas para mim. Tua voz, triste e mansa,
vem trazendo, a gemer, dos confins da lembrança,
qualquer coisa de velho, onde a vida se esfume.

Quando a voz adormece um fantasma desperta.
A tua boca é como uma rosa entreaberta
que a saudade acalante e o passado perfume.

E essa velha canção que o teu lábio cicia,
no momento em que a tarde adormece no olhar,
enche o meu coração de uma vaga harmonia,
de um desejo pueril de ser bom, e chorar...
 

 

 

Leontino Filho

 

José Carlos A. Brito

 

 

 

 

 

 

 

 

John Martin (British, 1789-1854), The Seventh Plague of Egypt

 

 

 

 

 

Alceu Wamosy

 

 

 


Eterna tarde

 

 

A tarde vai morrer, calma como uma santa,
num êxtase de luz infinito e divino.
Há nas luzes do céu qualquer coisa que canta,
com músicas de cor, a tristeza de um hino.

Tudo, em torno de nós, se esbate e se quebranta.
Em nossos corações, como um dobre de sino,
e esperança agoniza; e a alma, triste, levanta
suas trêmulas mãos para o altar do destino.

Não é somente a tarde, a eterna moribunda,
que vai morrer, e espalha esta mágoa profunda
no nosso olhar, nas nossas mãos, na nossa voz...

É uma outra tarde — que nunca há de ser aurora
como a do céu será amanhã — que morre agora,
triste, dentro de nós...



 

Coroa de sonho: poemas (1923).

In: FILIPOUSKI, Ana Mariza. Alceu Wamosy.

Porto Alegre: IEL, 1989. p.32-33. (Letras rio-grandenses)

 

 

Manoel de Barros

 

Floriano Martins