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José Carlos A. Brito

zecabrito3@yahoo.com.br

Thomas Colle,  The Return, 1837

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Alguma notícia do autor:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Culpa

 

Um cronômetro para piscinas

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Morte de César, detalhe

 

 

 

 

 

José Carlos de A. Brito


 

José Carlos A. Brito - Nascido em 10 / 05 / 47, radicado em São Paulo desde 1978, iniciou sua produção poética nos anos 60, com publicações na revista Atualidade (RJ). Deixou a poesia lírica nas décadas de 60-70, quando se engajou na luta social contra a ditadura militar. Exilado por motivos políticos na França, Espanha e Portugal, exerceu uma criação eventual e dispersa, que nos anos 90 foi reunida no livro “O Dia em que Secou a Inteligência” com a apresentação do poeta e bispo Pedro Casaldáliga. No mesmo período, publica “Raízes”, livro-agenda, com sonetos e poesia social, e fotos de João Ripper. Em 2004 lança o livro “O Nascimento do Mundo”, conferindo prêmio de publicação da Editora Taba Cultural (RJ) e “Sonetos do Amor Quebrado” que lhe conferiu primeiro prêmio pela Academia Internacional Il Convívio da Itália. Fez publicações em edição particular e limitada dos livros: “ Poemas para Desenhos Eróticos de Rodin”, “Adão e Eva e O Deus Arrependido”, “Manual de Explosivos”, “Memória de Luz e Treva” e o de poesia infanto-juvenil: “Priscila de Luz Atômica”.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Alessandro Allori, 1535-1607, Vênus e Cupido

 

 

 

 

 

José Carlos de A. Brito



Se arrependimento matasse...


Deus:
(dirigindo-se ao Demônio)


- Tu sempre foste um ser esquerdo
Tão sinistro e tão sagaz.

Não consegues entender a luz
Da tentativa de paz.

E tiveste medo de meu Reino
Que veio para impor-se à treva.

De quem é a impostura
E o absurdo da guerra?

É minha ou tua?

Foste inimigo da cruz
Que era meu segredo
E meu desejo de tortura

Para obter perdão de Eva.

Demônio:

- Sou reverso de tua máscara reprimida
Sim, sou sombra de tua cruz
A personificação de teu amor
(Escondido)

O reverso da Luz
A tua irresistível paixão
Ao corpo da mulher
Que o teu inconsciente quer
(O interior perdido)

Sou isso:

A destruição
Da máscara do paraíso
Artificial de tua obra

A natureza mortal
De um verdadeiro orgasmo
Em forma de cobra.

Deus:

Fiz-me de carne no corpo de Adão
Fui a própria claridade
Surgida da manhã

Para entender o seu tesão
Transformei-me
Em serpente sedutora

E, ao estar em tudo, fui a maçã.

Era eu o feminino e o sorriso
A caricia do orvalho
E da fina aragem

Fiz-me em corpo
Da mulher que amei
E acordei sozinho no Paraíso

Abandonado por essa imagem
Do sonho que criei.

Foi tão onipotente minha idéia
De ser o unilateral do todo
- O absoluto bem e a tragédia -

Que meu Paraíso acabou
Frustrado em lodo,

Pois, no fundo, amava Eva.

Demônio:

Foste um Deus
Também do lado idiota
Cujo símbolo
Tem sido teu decreto:
A bondade hipócrita,

A propaganda da verdade
Contra mim (ilusório inimigo)
Nascido de teu amor secreto
E sensual fluido.

Mas sou o verdadeiro ser
De tua libido.

Deus:

Porém fui a trajetória
Inevitável da humana raça
Consegui transformar
O meu desejo secreto
Em sua graça.

Se me tivesse arrependido
No inicio,
Haveria
Ausência de desgraça
E evitaria esse suplicio.

Mas o mundo teria sido
Um cometa
Ou ponto abandonado
Como qualquer planeta
Que habita a seu lado.

Sendo do Sol apenas
Um vazio frontispício
Da terra. Seu alter-ego sem mal,
Mas sem oficio.

Demônio:

É verdade que o sabor
Da sabedoria
Custa-nos o sacrifício
Do bem e do mal
E o ímpeto patológico
De tua ira eventual

Somos esse sinal
De um amor frustrado
E sua profunda metástase

E hoje
Se arrependimento matasse
Já teria há muito tempo
Acontecido
O Juízo Final.

Mas se baixares à terra
Ainda poderás
Descobrir Eva.

Sem anunciações
E sem alarde.

Deus:

É provável

Que seja tarde.
 

 

 

 

Albrecht Dürer, Mãos

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William Blake (British, 1757-1827), Christ in the Sepulchre, Guarded by Angels

 

 

 

 

 

 

 

 

Da Vinci, La Scapigliata, detail

 

 

 

 

 

José Carlos de A. Brito


 

Dubiedade divina


No inicio dos tempos do grande processo
Deus era um ser que vivia sem sexo
E desse destino se lastimava.

Do perfume exalado de seu paraíso
Descobriu dois seres sem muito juízo:
Um casal despido em beijos se amava.

Assumiu um ar fingido de fera
Mandou os amantes ao exílio da terra
E com muita malicia criou o inferno.

Aos seres, criou-lhes sentimentos de culpa
E de seus pecados, pagassem-lhe multa
Rogando à bondade de um pai eterno.

Com medo da morte viviam os seres
E logo passaram a evitar seus prazeres
Que o Demônio, esperto, assim importava.

Cobriu-se de orgasmos o fundo do inferno
Destinados, na terra, para o Ser eterno,
Pacotes que a igreja fiel enviava.

No céu, as virgens andavam histéricas,
Por falta de sexo viviam famélicas
E nem de consolos Deus lhes falava.

Deus calava-se a tanta demanda
Descia ao inferno, nos fins de semana,
Beber os orgasmos que o Demo lhe dava.
 

 

 

 

A menina afegã, de Steve McCurry

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Titian, Noli me tangere

 

 

 

 

 

 

 

 

Ingres, 1780-1867, La Grande Odalisque

 

 

 

 

 

José Carlos de A. Brito


 

À memória de Sodoma e Gomorra


Ao norte da atual mesmice eterna
Havia sedutoras cidades encantadas.
Por almas de prazer eram habitadas;
Fontes de néctar e rios de esperma.

Gomorra incendiava a luz do dia,
Transformando desejos em mania.
Sodoma extraía, com látegos de dor,
De estranhos orgasmos, o sabor.

Quando guerreiros cederam às amantes,
O deus mídia arrasou-as com moral,
Só salvando arrependidos e farsantes

E quem olhasse para trás virava sal.
Certas almas cobriram-se de história
Preferiram ser de sal e ter memória.
 

 

 

 

Michelangelo, Pietá

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Maria Consuelo Cunha Campos

 

 

 

 

 

 

 

 

Caravagio, Tentação de São Tomé, detalhe

 

 

 

 

 

José Carlos de A. Brito


 

Dores misturadas com estrelas
À Ayat Akhras (menina bomba palestina)


Não foi por anomalia de serotonina
Que Sócrates suicidou-se com cicuta
Nem a bomba, explosão da heroína,
Transformada em exercito de luta.

Mil pedaços de mensagem explodida
Estrelas do Big Bang que trouxe a vida.
Misturados aos despojos da menina
Vão as dores de judeus na Palestina.

De seus cortes chora homem e medita,
Uma mãe chora a perda dessa filha,
Outro anjo sonha ser bomba-bendita.

Navegam mais destroços pra essa ilha
Que é formada por pedaços palestinos
E o sangue israelita de seus meninos.
 

 

 

 

Velazquez, A forja de Vulcano

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Eloí Elisabeet Bocheco

 

 

 

 

 

 

 

 

Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova, detail

 

 

 

 

 

José Carlos de A. Brito


 

Alma
A Willian Blake


1
De etéreos dedos
E mãos aladas
Sobre meu corpo

- Morto vivente -

Que guarda as águas
Absorvidas
De um rio louco,

(Sob aparência
De coisa nua
De um insepulto)

Você foi anima
Surgida em fogo:
Teu manto oculto.

2
As tuas chamas
Que me acenderam
Um breve riso

Não te consomem
Com a paixão;
São frontispício.

3
Tu não tens alma
Pois só tens vida;
A que eu tinha.

Se tenho a morte
A vida é tua
Tu (alma) és minha.

4
De ti eu tenho,
Vindo da chama,
Um leve sopro

E por ser morto,
Não tenho amor;
Está em teu corpo.
 

 

 

 

Um esboço de Da Vinci

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Giselda Medeiros

 

 

11/05/2005