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Ângelo Paraíso Martins


 

Medo de ser


Você tem medo de amar,
Medo de um dia perder,
Medo de não ganhar.

Não se arrisca nunca
Em se dar ao outro.
Anda na penumbra.

Quer ganhar em tudo,
Sem dar oportunidade
Para o resto do mundo.

Veste a vida de obséquios
A quem pode dar mais
E assim fica com os restos.

Resto de vida oprimida,
Resto de amor que não ama,
Resto de vida perdida.

Resto jogado aos abutres,
Que da podridão se nutrem.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Alessandro Allori, 1535-1607, Vênus e Cupido

Ângelo Paraíso Martins


 

Brilho da manhã


o sol da manhã que brilha,
Talvez só brilhe agora.
O futuro que esperas na trilha,
Talvez não venha, por não ser tua hora.

Portanto, só temos o sol desta manhã.
À tardinha ele irá embora
E não será respeitado o nosso afã
De amar ternamente esta manhã.

Não vês que tudo é passageiro?
Pensa na felicidade primeiro.
Depois, se quiseres continuar pensando,
Pensas no amor, o único sentimento verdadeiro.

Não deixes que a mesquinhez
Inunde teu mundo.
Abre a porta da felicidade
E deixa, serenamente,
Entrar o amor e a bondade!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Caravaggio, Tentação de São Tomé, detalhe

 

Ângelo Paraíso Martins


 

Um planeta agonizante


O Planeta agoniza errante.
A mãe natureza reclama
Na simplicidade de quem ama,
Dos sábios e ignorantes.

Mas, o Bicho Homem,
Com sua cobiça voraz
O planeta consome,
Sem vê o que deixa para trás.

As árvores derribadas.
Os rios poderes de poluição.
Dilaceram, como afiadas navalhas,
Devastando toda criação.

O Bicho Homem em seus dejetos agoniza
Na aspereza brutal de sua própria ira.
Leva a natureza, sua Mãe, à podridão
E seus valores jazem em decomposição.

A semente foi sabiamente plantada.
A árvore cresceu e foi cortada.
E agora, Bicho Homem consumista,
Como deter a natureza revoltada?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Leighton, Lord Frederick ((British, 1830-1896), Girl, detail

 

Ângelo Paraíso Martins


 

As dores do mundo


De um sofrer bem lá no fundo,
Cansado de lidar com o ser humano ruim,
Parece até que as dores do mundo,
Tão cruéis, caíram sobre mim.

Ainda sonho com o mundo que eu quis.
Sem homens perversos, nem tanta dor.
Algum lugar em que se possa ser feliz
Onde crianças e velhos tenham respeito e amor.

Este mundo de ilusões perdidas,
Onde todos procuram um pouco de paz,
Só existe na dor, na espera sofrida,
Buscando um pouco de guarida.

Somente o peso dos desenganos
Na agonia de ver passar os anos,
Sem nada encontrar que nos compraz,
Somente, as dores do mundo e nada mais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), A Classical Beauty

Ângelo Paraíso Martins


 

O óbvio do meu país


Não compliquem o óbvio!
Se o que na vida está posto,
É o que fala por si mesmo
E não está morto.
Só está pedindo realização
Onde não cabe mais discussão.
Reparem o pobre esfomeado:
É só colocá-lo à margem
Que ele morrerá depauperado.
Há que se acabar com o excesso
Dos detentores da riqueza
Para podermos discernir com nexo
A fome e a pobreza.
Complicar o que está posto
É fugir da solução.
É pescar no mar morto.
É o não querer do poder insosso.
É o não pensar dos loucos!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Andreas Achenbach, Germany (1815 - 1910), A Fishing Boat

 

Ângelo Paraíso Martins


 

Meus sonhos


Meus sonhos
são sonhos que não calam.
Se calados exalam
À sublime natureza
O quanto eles falam.

Meus sonhos
Quando juntado a outros,
Se multiplicam,
Parece que exortam
Sonhos já mortos.

Meus sonhos
Na ânsia de realizar,
Me pede clemência
Para exaltar
Até a demência
Que a paciência
Não soube expressar!

Ah! Meus sonhos , meus sonhos!
Se já não estão mortos
É porque a franqueza de sonhar
Me fez um menino
Franzino,atrevido,
Que até se fez refém
Do sonho que não veio.

Meus sonhos, mesmo assim,
Não param de sonhar.
Sonhar com a grandeza...
A imensa grandeza de amar!

 

 

 

 

 

 

17.04.2006