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Dagmar Pinto   

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia do autor:

  • Nascido em Nazaré das Farinhas, BA - (1903) - (1982)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Franz Xaver Winterhalter. Yeda

 

 William Bouguereau (French, 1825-1905), Reflexion

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Dagmar Pinto


 

"ABC"


-Paizinho,ouvi dizer que o sol não tem a luz
De uma carta de ABC.
Que as letras do alfabeto,
Que cabem todas na palma de minha mão,
Tão pequenina, brilham mais,muito mais,
Que um punhado de estrelas luminosas.
Ensina-me a ler paizinho.
Que histórias maravilhosas fluem dos lábios encantados
Dos meninos que passam para a escola .


-Filha,os meus olhos nevoentos
São como janelas fechadas de uma casa sem vida
Onde a luz não penetrou.


Dentro em mim só há trevas
E um vulcão a arder.
Eu nunca soube ler..


-Manda-me à escola paizinho.
Compra-me uma carta de ABC.
Eu quero que meus olhos claros
Sejam como janelas abertas
De uma casa bonita por onde penetre a luz,
Muita luz..


E grossas lágrimas correram silenciosas
Pela face errugada do homen rústico,
E ela as enxugou com as mãos inocentes
Mas soube compreender porquê...


("Diário da Tarde",Ilhéus,s/d.)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Dagmar Pinto


 

YAYÁ BAHIA MEU BEM


Poema de graça e ternura,


          ''YAYÁ BAHIA MEU BEM''


Água da fonte mais pura,
Que da alma lusa nos vem.


De tão real singeleza,
De jóias tão reluzentes,
Põe, de surpresa em surpresa,
Encantos na alma da gente.


Brasil, nas contas do Terço,
Portugal, devagarinho
Para embalar o teu berço,
Canta rezando o carinho.


E de estranha claridade
Toda selva se ilumina..
Ao signo da cristandade,
Desponta a terra-menina.


Recordas, para que vejas,
O passado, sem igual,
Na alma de tuas igrejas,
A glória de Portugal.


Ouve Brasil que doçura !
De Portugal, muito além,
Poema de graça e ternura,
''YAYÁ BAHIA MEU BEM''...


(Transcrito do livro 'Yayá Bahia meu bem'', coleção "Legendas dos Séculos", do pintor e historiador português JORGE MALTIEIRA, Ed.Lord S/A., Rio de Janeiro, 1968)

 

 

 

Ticiano, Flora

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Dalila Teles Veras

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Dagmar Pinto


 

Página esquecida


Olha: eu hoje pensei dizer-te em tristes versos,
Lindas coisas que trago aqui no coração!
Os meus sonhos de glória e de felicidade,
E os mil esplendores dispersos,
Ao sofrimento vão,
Do pôr-do-sol da minha mocidade.


A página mais bela e mais sentida,
Da velha história que renovas
Dentro desse romance, amor, que é nossa vida.


E fico a pensar,
Quais os versos melhores hei eu de escrever,
Na folha em branco desse livro aberto!


Mas, que importa, afinal, que eu nada deixe escrito?
De tudo que hoje possa te dizer,
Cousa alguma ouvirás, de certo,
Que os meus olhos já não te houvessem dito.


E qual nuvem de poeira a se elevar do chão,
A doirada ilusão se desfez muito breve,
Que a página melhor nunca se escreve
E morre sem nascer, dentro do coração!...


(Transcrito de " A POESIA ERA UMA FESTA" , de Nonato Marques, G.Co.Editora, Salvador-Ba., 1994.)

 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), Admiration Maternelle

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Maria Azenha

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jacques-Louis David (França, 1748-1825), A morte de Sócrates

 

 

 

 

Dagmar Pinto


 

Volúpia


Quinze anos. Mal despontam, insinuantes,
E cobertos de gaze transparente,
Despertando-nos um desejo ardente
Rígidos, seios alvos, tremulantes.


Tem nos olhos um brilho reluzente.
Vendo-os fitos em mim, claros, vibrantes,
Sinto invadir-me as carnes delirantes
A chama da volúpia, de repente.


Ah! se humano olhar a alma devassasse,
Talvez grande castigo me esperasse
Se descendesse de algum tronco régio.


Mas, o desejo da carne não reprime:
Se desejá-la constitui crime
Deixar de desejá-la é um sacrilégio.

 

 

 

Michelangelo, Pietá

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Rita Brennand

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Benjamin West, Death on a Pale Horse

 

 

 

 

 

Dagmar Pinto


 

Paisagem sertaneja


Grama verde solhando a rude estrada,
Lindo trecho da terra sertaneja;
A erva daninha se alastra e viceja
Sobre as ruínas da casa abandonada!


Além, o vulto de pequena igreja,
De florzinhas silvestres enfeitada,
Derrama no ar, a porta escancarada,
Tons de melancolia benfazeja.


Quebra o silêncio o cântico das aves.
O crepúsculo doce, à tarde, em suaves
Palpitações de luz colora o espaço.


E a aldeia, secular, silenciosa e erma,
Ergue o seu vulto de velhinha enferma
Para acolher a noite num abraço...

 

 

 

Rafael, Escola de Atenas, detalhes

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Edna Menezes

 

 

 

16.11.2005