Guilherme Scalzilli
Raízes de rima
Já ardem lacerantes, fundas azias,
cólera azeda, acre o cavernoso vento.
Ulcera abrasiva, a paz da poesia:
zinabre acerbo, estalante brotamento,
aftas burlescas salivam anti-ungüentos.
Contorce, flagrante, um louco esquecido,
vírgula arfada, falqueando o fetal medo.
Germina torpe o poema do límpido:
jogral pulsante, indefinível enredo,
seiva que degenera ante atrasos cedos.
Quem, então, nos supriria o vácuo quê
se luzes metódicas maculam de cima?
Somos, árvores de fartos frutos a ver,
as falhas, santas lascas, que o caule sublima;
chama funda, reféns do terreno reter,
em poços, por sólidas raízes de rima.
in Pantomima
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