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Gizelda Morais


 

Pela rua
 


Caminho pela rua...
quantos destinos cruzam-se comigo,
quantas vidas diferentes de outras vidas,
quantas faces diferentes de outras faces...
 


Vou passando por muitos
(enquanto eles também passam por mim)
e perscruto seus gestos, seus modos, seus olhares.
 


Vejo gente sorrindo,
vejo gente cansada,
gente altiva, gente humilde, gente triste...
não vejo alguém chorando,
mas, quanta gente choraria o pranto
guardado, se não fosse a vergonha
de chorar pela rua.
 


Na rua passa tudo, passam todos
passa a noite, o silêncio, o barulho,
até os mortos passam pela rua.
E suas casas, suas luzes, suas pedras
também olham, perscrutam e testemunham
a tudo e todos que passam
pela rua.
 

 

 

John William Godward (British, 1861-1922),  A Classical Beauty

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Regina de Souza Vieira

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Morte de César, detalhe

 

 

 

 

 

Gizelda Morais


 

Baladas do inútil silêncio
 


I


se há por quês
é porque não se cansam
as andorinhas de voar
 


nem os mágicos
de tirarem coelhos da cartola
 


e o tempo é o gesto
e o espaço um pedaço de pão
 


(Baladas do Inútil Silêncio - Salvador, 1962)
 

 

 

Henry J. Hudson, Neaera Reading a Letter From Catallus

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Edmilson Caminha

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Antigona,detail

 

 

 

 

 

Gizelda Morais


 

Quero o tato
 


Quero o tato
limpo como o espelho
quero o dólmen
e o anel
quero as alpargatas
para correr mundo
e a lança para cruzá-la no caminho
quero o fruto
colhido com a boca
e quero o amargo
pois também sou humano.
 

 

 

Ticiano, Flora

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Giselda Medeiros

 

 

 

 

 

 

 

 

 

John William Godward (British, 1861-1922), Belleza Pompeiana, detail

 

 

 

 

 

Gizelda Morais


 

Interrogações


Onde a clareza
a certeza
perdidas nesse momento?
será o sono o microfone
ou o medicamento?
por que me dói
tão físico o coração
se mesmo toda físico
não me dói a mão?
 


por que decorre desse grito
o grito atravessado
e na esteira dos planetas
navegam tantos nadas?
 


de onde veio
essa louca antevisão
de perceber o futuro
sem ter de hoje os cordões?
 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Grief of the Pasha

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Carlos Nejar

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Titian, Three Ages

 

 

 

 

 

Gizelda Morais


 

Viola de Gamba
 


Nossas mãos juntas
construirão gestos insuspeitados
nossos passos juntos caminharão
dobro dos caminhos
nossos corpos juntos
suportarão o peso das pressões
elevado ao quadrado
nossas mentes juntas
nossos pensamentos
nossos momentos
se esticarão como cordas
de viola de gamba
nos ouvidos dos séculos
 

 

 

Franz Xaver Winterhalter. Yeda

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Regina Sandra Baldessin