Edmilson Caminha
Francisco
Carvalho na glória dos oitenta
Entre as muitas “comemorações literárias” de 2007, destacam-se os 80
anos, completados em 11 de junho, de Francisco Carvalho, cuja obra
engrandece a poesia cearense e honra a literatura brasileira. De
1966, com “Dimensão das Coisas”, a 2004, com os poemas escolhidos
das “Memórias do Espantalho”, são quatro décadas de criação da
melhor qualidade, nacionalmente reconhecida em 1982, quando o Prêmio
Nestlé de Literatura saiu para “Quadrante Solar”. Tímido, não foi o
poeta a São Paulo, receber as homenagens a que tinha direito: achou
por bem continuar em Fortaleza, na rotina modesta de secretário do
Conselho Universitário da UFC.
No centenário da
publicação de “Dom Casmurro”, tomou Carvalho como desafio o soneto
do qual Bentinho não faz mais do que o primeiro verso (“Oh! flor do
céu! oh! flor cândida e pura!”) e o derradeiro (“Ganha-se a vida,
perde-se a batalha”). E compôs não apenas um, mas dez sonetos
primorosos, bela homenagem à sedutora Capitu do romance de Machado.
Repudia, porém, a etiqueta de sonetista, “uma das muitas palavras
obscenas da língua portuguesa”, como afirmou um dia. Prefere ver-se
por lente mais incomum: “Toda grande poesia tem alguma relação
dialética com o silêncio. O homem pode até conviver com o ruído
feroz das sociedades tecnológicas. Mas terá de recolher-se ao
silêncio para se reencontrar consigo mesmo, com a sua
interioridade.”
Essa, talvez, a
explicação da silenciosa homenagem com que a imprensa de Fortaleza
comemorou os 80 anos de Francisco Carvalho. Pouco importa: lembrado
ou não, Francisco Carvalho é um grande, um luminoso poeta, cuja obra
nos enche de beleza e emoção. Como escreveu Machado de Assis, “essa
a glória que fica, eleva, honra e consola”.
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