Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

Henrique César Pinheiro

 

henriquecesarp@gmail.com

 

Thomas Colle,  The Return, 1837
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Conto/ crônica:


 

Poesia:

 


 

Crítica, ensaio, resenha e comentário:

 


 

Fortuna:

 


Uma notícia do poeta: 

Henrique César Pinheiro é Auditor Fiscal da Receita Federal, lotado em Fortaleza, CE, e está empenhado em congregar os poetas do fisco. [O editor do JP também é do fisco, auditor aposentado]. José Peixoto de Jr é outro do fisco, e mais uma porção de boas gentes de Brasil a dentro. Com opção pelo Cordel, Henrique César publica em:

Henrique César Pinheiro, foto de Soares Feitosa,

29.9.2007

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Regina Sandra Baldessin

 

Eleuda Carvalho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Allan R. Banks (USA) - Hanna

 

 

 

Caravagio, Êxtase de São Francisco

 

Henrique César Pinheiro

 


 

A FORÇA DA ÁGUA

 

A FNS, que se tornou Funasa; já foi Dneru – Departamento Nacional de Endemias Rurais; depois Sucan – Superintendência da Campanhas contra a Febre Amarela. As mudanças de nome dos órgãos, assim como de suas finalidades, sempre foram a tônica no Brasil. Mas isso é outra história.

Pois bem, meu pai foi funcionário do Dneru e depois da Sucan por muitos anos, onde se aposentou. Trabalhou no Ceará quase todo, sempre no combate a insetos e a roedores transmissores de doenças tropicais, como malária, febre amarela, esquistosomose, doença de chagas, peste, bulba e outras mais.

Naquela época, os guardas da malária, ou mata-mosquitos, como eram conhecidos, percorriam o estado todo em lombos de animais, com bomba e saco de veneno nas costas para “dedetização” de casa, quintais, sítios, chiqueiros o que precisasse. O veneno podia ser DDT, BHC ou Mil e Oitenta. Tão fortes, que anos mais tarde seria proibida sua utilização, dadas as seqüelas que deixavam nos locais onde eram usados. Dizem que onde se colocava um desses venenos seriam necessários cinqüenta anos para a recuperação do solo. Inclusive, nos Estados Unidos, já na década de 50, não se utilizavam mais, porém por aqui e pelo mundo continuaram sendo comercializados normalmente por muitos anos. Mas, deixa pra lá não é nosso assunto de momento.

Há vinte, trinta anos, os programas de saúde, como temos hoje, com médicos e dentistas, não existiam. Os guardas ajudavam em tudo que fosse possível, até em tarefas de enfermagem: aplicar injeções; fazer um curativo. Às vezes aparar meninos no lugar das parteiras, quanto estas não estavam presente, ou mesmo auxiliá-las se preciso.

Desta maneira, por onde passavam eram sempre muito bem recebidos, porque prestava ajuda inestimável às famílias mais necessitadas da cidade e do campo.

Os médicos das quebradas, sem maiores estudos, muitos analfabetos mesmo, quebravam o galho no que fosse possível.

Como quase todos os funcionários públicos brasileiros, os vencimentos eram baixos, além de serem pagos religiosamente atrasados. O pagamento de funcionários públicos em dias veio se normalizar anos mais tarde. E hoje, não restam dúvidas, neste aspecto evoluímos muito. Pois bem! As viagens eram sempre bem-vidas, porque as diárias eram de grande ajuda para completar o orçamento dos guardas, principalmente, para os que tinham família numerosa, o que não era raro. Como muitas vezes eles não pagavam hospedagem nem alimentação, pois quase sempre conseguiam acolhida nas casas de pessoas humildes do interior, que mesmo na sua pobreza, os recebiam de abraços abertos. Aí, para alguns, as diárias eram economia total. Para outros nem tanto, pois gastavam todas e mais alguma coisa com bebidas e raparigas. Outros até piores. Enfiavam-se nas casas de jogo e perdiam até o salário todo, junto com as diárias, no carteado, comprometendo até vencimentos futuros, ou seja lá o que fosse.

Um daqueles guardas, cachaceiro de primeira, quando viajava, as diárias só davam para tomar birita e raparigar. Numa viagem, o guarda-cachaceiro, ou o cachaceiro-guarda gastou as diárias com bebida e ficou na pior. Liso total, sem uma banda, como se diz no Ceará, ou sem um puto para se manter durante a viagem. Na pior. Fim do mês distante e o da viagem também, ficou sem saber o que fazer para se manter longe de casa e ainda ter que beber umas cachaças.

O cara ficou desesperado, além de liso, e doido para beber uma. Sem dinheiro e sem ninguém que custeasse uma cana para ele. Os colegas se recusando a emprestar-lhe dinheiro, não só pelas dificuldades de recebimento, se é que receberiam, além de não poderem porque, também, precisavam do dinheiro para as despesas, e a grana de todos era curto.

O guarda, biriteiro inveterado, não podia ficar sem beber um único dia. Coisa impossível. Além da tremedeira; o vício era grande. O sujeito ficou totalmente desnorteado. Sem saber o que fazer.

Passou a pensar em diversas soluções até achar uma: vender o veneno que seria utilizado na borrifação das casas e dos sítios, e assim conseguir dinheiro para biritar.

Encontrar comprador não foi difícil. Vendeu o veneno e pode beber à vontade.

No seguinte dia, foi trabalhar normalmente, satisfeito, sem tremedeira. Os colegas estranharam tamanha satisfação, mas deixaram de lado. Nem desconfiaram o que podia ter acontecido.

Começaram o trabalho diário. Cada um para seu lado. Biriteiro, como não tinha veneno para colocar na bomba, enchia-a somente com água e mandava ver. Passou o dia todo trabalhando assim.

Mas ao chegar num casebre para iniciar seu serviço, o guarda pediu ao dono da casa, um matuto curioso, água para encher a bomba. Matuto, bicho desconfiado. Depois de atender o pedido ficou observando o guarda preparar a bomba, na qual somente botou água e nada mais; nem um pingo de veneno.

Cabreiro, o matuto, não tinha visto o guarda colocar veneno na bomba, ficou só esperando o começo da “dedetização” da casa. Foi o guarda começar e o matuto perguntou-lhe:

- Seu guarda, o senhor não coloca veneno na bomba, não?

O guarda, sem nem pestanejar, respondeu:

- Não. Não precisa, esta bomba é moderna, uma invenção de americano e não precisa mais de veneno, o que mata é a força da água.

E continuou seu serviço normalmente.

 

 


 

BEIJO NA BOCA É FALTA DE RESPEITO

 

Para fazer liquidação de uma associação de poupança e empréstimo, uns colegas do antigo Banco Nacional da Habitação no Rio de Janeiro foram trabalhar em São Paulo. Como o trabalho iria se estender por vários meses, eles, para diminuir as despesas, resolveram alugar um apartamento em São Paulo.

Na capital paulista, permaneciam de segunda a sexta-feira à noite, quando voltavam para o Rio de Janeiro e passavam o fim de semana na Cidade Maravilhosa, voltando novamente para São Paulo segunda-feira de manhã. Isso se estendeu por muitos e muitos meses, até se completar inteiramente o trabalho, pois uma liquidação judicial se arrasta interminavelmente. Existem empresas nesse processo há mais de vinte anos e o trabalho ainda não foi concluído.

Mas voltado aos colegas do BNH, como era conhecido o Banco Nacional da Habitação. Eles por lá, além de alugar apartamento, arranjaram, também, uma senhora para tomar conta dos afazeres domésticos, principalmente, da limpeza do apartamento nos fins de semana. Tal senhora, na época, já passava dos sessenta anos.

Certo fim de semana, um deles, conhecido por Canalhão, devido a seu comportamento, como o próprio nome sugere, fez grande farra na sexta-feira e não pôde viajar para o Rio de janeiro. Ficou sozinho em São Paulo no fim de semana.

Sábado pela manhã, acorda, cheio de ressaca, e a senhora encarregada da limpeza já estava fazendo o trabalho dela. Quando ela o viu até se assustou.

Chamou-o pelo verdadeiro nome, e comentou sobre ele não ter ido para o Rio de Janeiro.

Então, ele explicou da farra, e que devido à ressaca ficara em São Paulo e somente no próximo fim de semana iria pra casa.

Conversa vai conversa vem, a senhora começa a se queixar de uma enxaqueca terrível que estava sentido. A dor era tão intensa que quase não estava agüentando trabalhar.

Ouvindo a conversa, Canalhão comentou que fizera um curso de relaxamento com uns orientais e se ela confiasse, ele poderia lhe dar umas massagens que, certamente, fariam desaparecer as dores. Mas, seria preciso plena confiança nele e no trabalho.

A velhota, não sei se por causa das dores, ou por confiança mesmo, aceitou de bom grado os préstimos de Canalhão, que imediatamente começou a massageá-la.

Massageia daqui, massageia dali. A velhota relaxa, e ele começa a tirar o vestido dela. Depois foi descendo mais a mão, até chegar nos peitos e os massageia também. Tira-lhe o sutiã. Tudo isso sem a menor resistência: aceitação total. Depois do sutiã, baixou mais um pouco e começou a massagear a barriga, depois as coxas e finalmente os pés.
Feita a massagem total, volta e começa massageá-la de baixo pra cima, e foi subindo até chegar e as mãos entre suas duas coxas, ou seja, na boceta da velhota mesmo.

Daí em diante desceu as calças dela, que não opôs a menor resistência e de nada reclamava. Achando aquilo tudo maravilho e muito excitante.

Lá pelas tantas, quando ele já havia massageado ela toda, ela empolgada; ele de pau duro, ela já sem as calças, não contou conversa: meteu a pomba na boceta da velhota, que foi ao êxtase.

Sentindo aquele pau duro todo dentro dela, a velha relaxou ainda mais. Acho que há tempo não via uma pomba entrando na sua boceta, ela num suspirou, abriu os olhos e disse:

- Seu fulano, pois o chamava pelo próprio nome, não pelo apelido de Canalhão, me dê um beijo na boca, pediu ansiosa.

- Canalhão, não sei o motivo, mas acho que não teve coragem de beijar a velha, olhou pra ela e disse:

- Dona Maria, beijo na boca é falta de respeito. E terminou de comer a velhota.

 

 


 

CHICO, CRIE VERGONHA

 

Em Baturité, cidade interiorana do Ceará, havia um cambista do jogo do bicho conhecido por Chico da Preta. Chico corruptela de Francisco e da Preta por causa de sua mãe. Solteirão, morava sozinho com dona Preta, uma senhora de idade bastante avançada. Ele, na época, já um quarentão.

Foi nosso vizinho por vários anos.

Bastante conhecido na cidade e um dos poucos a trabalhar com jogo do bicho naquele tempo. Ótima pessoa. Único defeito: a cachaça. Vício, que mal só fazia a ele mesmo e a mais ninguém.

Quando tirava o dia para beber, o expediente não terminava. As apostas no jogo só era encerradas depois do resultado conhecido, que era anunciado oficialmente através da Rádio Jornal do Comércio do Recife.

No dia seguinte aos porres do Chico, o banqueiro do bicho enfrentava uma confusão dos diabos, mas não pagava as apostas. Depois que contornava o problema, o Chico voltava a trabalhar normalmente.

Não sei como as coisas se resolviam, mas tudo dava certo no final. Porém, acho que os ganhadores, depois de certo tempo, concordavam em receber somente o valor da aposta feita e o caso era encerrado. E o Chico continuava seu trabalho sem problemas, pois, afora esses pequenos contratempos era mesmo querido na cidade. Um sujeito, como se diz, nem mel nem cabaça.

Acredito até que muitos jogavam só para terem o prazer de criar confusões; não tinham o mínimo interesse no dinheiro, porque já sabiam de antemão o resultado do jogo e que o prêmio nunca seria pago mesmo, porque agiam de má fé. Na cidade, todos sabiam das cachaças do Chico e dos problemas que surgiam dela em relação ao jogo do bicho. Tudo era mais molecagem do que mesmo vontade ou intenção de ganhar no jogo do bicho.

O banqueiro do bicho não queria nem saber, porque já conhecia, antecipadamente, o que acontecia quando o Chico bebia; não pagava as apostas e o Chico continuava sua vidinha. Mantê-lo no emprego era uma questão de caridade. Embora o ganho fosse pouco, era quase o sustento do Chico e da sua pobre mãe, que, inclusive, tinha que completar os ganhos do Chico com lavagem de roupas.

No dia que tomava um daqueles seus porres, o Chico chegava em casa e ficava sentado numa calçada em frente, fazendo trejeitos, ou como se diz aqui no Ceará, mungangos, até o sono chegar e ele entrar para dormir. Não perturbava ninguém. Simplesmente ficava ali bêbado, não sei se esperando o tempo passar ou melhorar do porre.

A pobre da dona Preta, vendo o filho naquele estado, não se cansava de reclamar tentando ajuda-lo a deixar a bebida. Dava-lhe conselhos. Xingava. Entrava e saía de casa para ver como ele estava. Trazia comida, chã, o que fosse para ver se ele melhorava e ia dormir. E para o filho deixar a cachaça fazia de tudo. Em vão.

Certo dia, ela não agüentando mais, saiu na porta da rua, pegou o Chico, que estava sentado no lugar de sempre, e começar a lhe dizer poucas e boas. Lá pelas tantas, depois de vários sermões, da velha, sem resultado, ela saiu com esta:

- Chico, crie vergonha!

O Chico que não se fez de rogado, rápido respondeu.

- Mãe, como vou criar vergonha, se o quintal está todo no aberto?

E no outro dia continuou na cachaça.

 

 


 

CONSERTO DE TV

 

Tinha um amigo, funcionário da antiga Teleceará, por trabalhar em telecomunicações, achava que entendia de conserto de aparelhos elétricos e eletrônicos. Assim, nas horas vagas, principalmente nos fins de semana, fazia bico consertando aparelhos de televisão.

Num sábado à tarde, saiu para consertar a televisão de uma senhora, no Bairro do Benfica, aqui mesmo em Fortaleza, numa travessazinha perto da antiga Escola Técnica Federal do Ceará.

Na realidade, o sujeito não era técnico coisa nenhuma; apenas curioso. Como disse, por trabalhar na Teleceará, quebrava o galho quando o defeito era uma coisa besta, tipo um fusível queimado, vamos dizer assim: uma fratura exposta, que qualquer leigo mais observador descobre.

Pois bem, nesse dia ele foi lá na casa de uma senhora bastante idosa, e acho que por isso pensou que o golpe seria fácil. Faria uma gambiarra qualquer, estava pronto o serviço e faturada uma grana. Depois era ir embora, curtir o resto do sábado: cachaça e mulher, com dinheiro no bolso.

Começou a trabalhar, no conserto de um aparelho de televisão Telefunken, preto e branco. O Aparelho devia pesar umas duas toneladas, muito antigo ainda era de válvula. Mexe para cá, mexe para lá, nada de conseguir consertar a televisão. Depois de muito tempo e muito mexer, a televisão começa a funcionar; precariamente mas funcionou. Como a imagem estava retorcida ele apelou para a antena.
Virou a antena para todos os pontos cardeais e nada. A imagem continuava retorcida e chuviscada. Sem saber mais o que fazer, apelou para o velho bombril - com suas mil e uma utilidades, que na realidade só conheço duas: um para lavar louça; prato; panela; outra ajudar na antena quando a imagem da televisão não presta, que colocou na ponta da antena tentando melhor a imagem. Isso também de nada serviu.

Finalmente, já desesperado socorreu-se de uma lâmpada fluorescente para improvisar uma antena. Dois fios foram amarrados nas extremidades da lâmpada, metidos na televisão no local destinado à antena. Não deu certo. A imagem continuava péssima. Por fim, sem obter sucesso, deixou a televisão do jeito que estava e apelou para malandragem.

Chama a senhora e diz:

- Pronto. O conserto terminou e a televisão está ótima. Consertada só no jeito, com se diz por aqui.

- A velhinha olha e comenta que a imagem está toda retorcida.

- Sem perder a esportiva, o técnico retruca: “Não. Este sujeito eu conheço, e ele é torto mesmo. Por isso a imagem aparece desta forma, mas logo, logo melhora.”

A coitada da velhinha se convence e paga o serviço.

O sujeito mete o dinheiro no bolso e sai. Quando chega na esquina ouve o chamado da coitada, que gentilmente pede para ele voltar e ver o que estava acontecendo.

Aqui vamos fazer um comentário para melhor entendimento do causo. Em décadas passadas proliferaram no Brasil os programas de auditórios, tanto nacional como local. Aqui mesmo no Ceará tínhamos vários imitadores de artistas nacionais. Um até se intitulava Chacrinha do Nordeste. A submissão aos centros mais adiantados é tão grande, que mesmo o Chacrinha verdadeiro sendo nordestino, o daqui dava demonstração de inferioridade, intitulando-se daquela forma, mas isso não nos compete agora. O causo é outro.

Portanto, voltemos ao nosso tema. Os programas proliferavam e outro programa local era o do Augusto Borges, com o Show do Mercantil, que era apresentado – se fosse hoje acontecia e não apresentado ou realizado, justamente nos sábados à tarde. Na hora que o sujeito disse ter consertado a televisão e comentou sobre o sujeito que aparecia na tela, era intervalo do programa.

O azar do técnico, foi o programa voltar antes dele ter sumido da vista da pobre senhora. Quando o programa voltou ao ar, a velhinha estava esperando para assistir e ao aparecer o Augusto Borges, de imediato ela se levantou, correu para a porta na tentativa de encontrar ainda o salafrário e vendo-o na esquina, chamou o rapaz de volta, que meio desconfiado veio ao encontro dela e ela lhe disse:

- Esse aí, e aponta para a televisão, é o Augusto Borges. Ele eu conheço e não é torto, não. Portanto, pode logo me devolver meu dinheiro, que você não sabe consertar é nada.

Meio envergonhado, pois antigamente mesmo as pessoas que viviam de aplicar golpes tinham vergonha, foi o jeito devolver o dinheiro e se mandar, antes que as coisas se complicassem mais.

 

 


 

CORNO É VOCÊ

 

Conheci um sujeito que trabalhava trazendo madeira de Belém para vender em Fortaleza. O sujeito era meio doido. Seu maior sonho, segundo ele mesmo contava, era criar uma menina desde pequena, e quando ela chegasse a certa idade se casar com ela. Coisa de maluco mesmo. Acho que era pra ter certeza que ninguém ia comer a menina antes dele.

Aqui, no Ceará, ele passava três, quatro meses sem ir em casa, vendendo e cobrando as vendas fiadas. Enquanto não recebia todo o dinheiro das vendas não voltava para o Pará.

Certa vez, demorou-se bastante aqui e deixou a mulher, com quem vivia em Belém, sozinha à mercê dos gaviões e ela aproveitou a deixa, já que o marido não dava notícias há meses, e arranjou um namorado.

Um marinheiro do Rio de Janeiro que desembarcaram em Belém e por lá ficou alguns meses, e esse tempo aproveito pra ficar comendo a mulher do doido do madeireiro.

Quando voltou para Belém ele tomou conhecimento do caso, inclusive ficou sabendo o nome do sócio. Mesmo assim não deixou a mulher e continuou vivendo com ela normal e tranquilamente.

Um belo dia, o telefone toca, ligação a cobrar, interrurbano ao meio-dia, e o madeireiro atende. A pessoa do outro lado da linha, uma voz de homem pede para falar com a mulher dele, madeireiro, que desconfiado, pergunta quem é que deseja falar com ela.

O sujeito se identifica e madeireiro logo concluiu que é o marinheiro.

Daí em diante travaram o seguinte diálogo.

- Madeireiro: Seu filho de uma puta, você não tem vergonha de ligar pra minha mulher, não?

- Marinheiro: Filho da puta é você, seu veado.

- Madeireiro: Veado é você! Vá tomar no cu!

- Marinheiro: Veado o quê? Seu corno!

- Madeireiro: Roxo de raiva e não tendo mais o que dizer com o marinheiro sai com essa: Corno o que seu, veado? Corno é você. Você comeu minha mulher só uma vez e eu como ela todo dia.

 

 


 

FESTA DE TÉRMINO DE CURSO NO IRACEMA – PULEI O MURO

 

No fim dos anos sessenta, início dos setenta, as festas dançantes de término de curso era a grande atração da cidade no mês de dezembro. Havia festas todos os dias. Do dia primeiro ao dia trinta e um de dezembro, de domingo a domingo, era festa por cima de festa. Os conjuntos, nome dado à época às bandas atuais, faturavam o mês inteiro. Às vezes, como o tempo era curto, com tantos colégios querendo festas, e sendo janeiro mês de férias, as festas se estendiam até janeiro.

Havia festa para cada curso que se terminava. Naquele tempo, os cursos eram: primário, ginásio, científico e superior. O primário não sei qual seu correspondente hoje. O ginásio e o científico, parece-me que correspondem aos ensinos médio e fundamental. Mas isso não interessa. O que interessa era que para todos os cursos terminados, exceto o primário, havia festas de formação. Patrocinadas pelos concludentes, como conhecidos os alunos que terminavam qualquer curso, com apoio dos colégios e das faculdades que se orgulhavam das comemorações.

Hoje em dia, parece que não existem mais tais comemorações, se existem é muito restrita, mas também pudera com o ensino brasileiro do jeito que vai, comemorar o quê? Mas deixa isso pra lá.

Quem gostava de festa podia escolher à vontade.Era só arranjar convite, depois de escolhida a festa, e estava quase tudo arranjado. Quase tudo, porque tinha apenas um ingrediente à parte; dor de cabeça de muitos. Um paletó. Como a maioria de nós, adolescentes, era lisa mesma, nem todos podiam comprar paletó, nos virávamos como podíamos. Pedia-se emprestado, comprando-se mais barato, de segunda mão, o importante era a festa. O traje, contanto que fosse paletó e gravata, era de somenos importância. Ninguém ligava. Alguns clubes mais exigentes só aceitavam passeio completo, ou seja, terno igual. Nada de blase, paletó e calça diferentes. Tinha um, o Clube de Regatas Barra do Ceará que, o mais exigente de todos, não aceitava paletó e calça da mesma cor com padrão diferente.

Na realidade, os convites era pura formalidade, como as festas era grátis, dava-se um jeito. Não havia aquela vigilância tão rígida. Na falta de convite, virávamos sócios atletas, ou seja, pulava-se o muro; quando não se conseguia convencer o porteiro a nos deixar entrar sem convite. Mas quase todo mundo entrava. Claro que tinha as exceções, ou seja, os clubes que eram mais rigorosos, mas sempre conseguíamos burlar a vigilância quando não estávamos dentro dos padrões exigidos, se a festa se pronunciava boa e valia a pena o sacrifício.

Dependendo do colégio, as festas eram umas mais concorridas que as outras. Claro. Isso porque, na época, na maioria dos colégios havia separação entre homens e mulheres. Poucos eram os colégios mistos, isto é, aqueles onde estudavam homens e mulheres num mesmo período, e esses eram sempre particulares. Os colégios públicos geralmente eram somente para homens, ou para mulheres. Digo geralmente, porque havia os colégios onde estudavam homens e mulheres, entretanto separados por turnos. Já os colégios religiosos eram específicos para homens, ou para mulheres, não havia nem mesmo divisão por turno.

O Colégio Justiniano de Serpa, hoje Escola de Ensino Fundamental e Médio Justiniano de Serpa, era conhecido por Escola Normal, colégio público somente estudava mulher. Diga-se de passagem, um dos melhores do Estado naquele tempo. Eram três turnos repletos de mulheres. Embora suas festas fossem divididas por turnos e turmas, ainda assim tinha mulher para dar no meio da canela. Imagine três turnos: manhã, tarde e noite, com no mínimo seis turmas por turno terminando o curso, e cada turma com aproximadamente cinqüenta mulheres, dava umas novecentas mulheres se formando. Por isso, era a festa de formatura mais concorrida da cidade. A juventude toda queria ir, só pensando na quantidade de mulheres na festa. Além das concludentes, as convidadas. A briga por um convite era feia, pois mesmo se dando um jeito como sempre dávamos quando não tínhamos convite, nas festas da Escola Normal isso se tornava mais difícil pela concorrência. Contrário das festas dos colégios masculinos, que poucos queriam ir, imaginando que só tinha macho. Às vezes a lógica se invertia, justamente pela imaginação da concorrência. Mas vamos em frente com o nosso assunto principal.

Mas devido à badalação da festa, aconteceu esta história. Pois bem, certo domingo à noite me encontrava em casa sem nenhuma pretensão de ir a festas, não sei bem o motivo do desânimo, mas não estava a fim de sair, coisa rara, pois não era muito do meu feitio passar o fim de semana dentro de casa. Invariavelmente, sábado, domingo e segunda-feira só chegava quase de manhã, vindo das festas. Normalmente, a não ser quando muito promissoras, não ia a festas de meio de semana. Mas naquele domingo estava sem ânimo, quando chegaram dois amigos de farra: Paulo e Carlos. O Paulo adolescente com eu, mais velho apenas um ano; o Carlos já maduro de uns vinte e dois a vinte e cinco anos. Farrista, tocador de violão, companheiro de vários anos de farra; o Paulo amigo de muitos anos, com que até hoje mantenho contato, também farrista, mas daqueles amigos que sempre tira proveito de uma oportunidade para se livrar de um bronca. Não mau caráter; esperto. Não é aquele cara que vai te meter numa fria, mas nunca em situação que não tenha maiores conseqüências. Contundo, se surgir um problema, e ele pudesse tirar o corpo de fora e deixar o teu, ele fazia na maior. Na realidade, a expressão correta para ele é “entregão”, como se diz na gíria, ou melhor, dedo-duro. O Carlos já faleceu há alguns anos.

Mas voltando aos meus amigos, eles me convidaram para ir à festa da Escola Normal que se realizaria no Clube Iracema. Aqui um aparte. O Iracema era um clube fechado, que funcionou em Fortaleza até meados dos anos setenta, hoje fica lá a Receita Federal. Muito bem freqüentado, que às sextas-feiras promovia uma tertúlia maravilhosa. Tertúlia era o nome dado aqui no Ceará às festas dançantes, sem cunho formal, ou seja, num término de curso, chamávamos a comemoração de festa, já uma festa sem qualquer finalidade específica, chamávamos tertúlia.

Mas voltado à história, como não estava muito disposto a ir à festa, disse aos meus amigos que não ia por não ter convite. Sem perda de tempo, e como sempre gostávamos de sair numa turminha, eles perguntaram desde quando falta de convite era empecilho. E não era mesmo. E de mais a mais acrescentaram: nós temos aqui um convite e uma carteira da imprensa. O Carlos fora ou era funcionário de um jornal aqui do Estado e tinha carteira de jornalista, era apresentar e entrava. Assim, só faltava um convite, o meu. E isso não seria tão difícil de se resolver. Lá a gente se virava. Convenceram-me, e fomos.

Quando chegamos ao Iracema, havia um carro parado e uns sujeitos se preparando para pular o muro. Aproveitei o embalo, e nem fomos atrás de outro convite, e pulei também. Cai num monte de cal. Não precisa explicar, paletó e calças pretas, como ficaram. Brancos totalmente. Do monte de cal, fui direto para o banheiro tentar me arrumar melhor; limpar as calças e o paletó.

Depois de dar um jeito na aparência, fui à luta. Procurar alguém para dançar. Arranjei logo uma concludente. Depois de dançar um pouco, e começar um namoro foi rápido.Assim, saímos para o lado da piscina. De vez em quando aparecíamos na mesa da família dela. Família, eram todos os parentes e aderentes reunidos numa imensa mesa para comemorar a formatura da garota, de quem sinceramente não lembro o nome, uma falha imperdoável, mesmo já fazendo tanto tempo.

Mas fazer o quê? A memória é assim mesmo, nos prega peças imperdoáveis.

Depois de passando algum tempo, bem tranqüilos, um namora gostoso, num local propício, longe dos olhares vigilantes da família, alguém bate nas minhas costas. Virei-me e dou de cara com uma garota. Estranhei, pois não a conhecia.

Mas ela foi logo perguntando

- “Teu nome é Henrique?”

- Sim, respondi.

- “ A Mazé mandou chamar você para dançar com ela, disse a garota.”

- Mazé? Quem é Mazé? Não conheço nenhuma Mazé.

- “Aquela que mandou um convite para você.”

- Piorou. Convite? Não recebi convite nenhuma! Como já tinha tomado umas, disse-lhe que para entrar no clube tive de pular o muro.

A menina se desculpou e foi embora.

Mais tarde, minha namorada também foi embora com os pais e eu fiquei só e, novamente, fui atrás de um par para dançar. Nisso dou de cara com uma velha conhecida das tertúlias no São João do Tauape, um bairro de Fortaleza, com quem tinha costume de dançar, de quem, entretanto, não sabia o nome. Mas isso eu explico: naquele tempo já havia o fico das tertúlias, mas um fico somente de se dançar, diferente do atual. Era muito comum nas tertúlias se encontrar as mesmas pessoas, e muitas vezes nos identificávamos dançando, e ficava somente naquilo de dançar. Às vezes, dançávamos com o mesmo par até terminar a tertúlia, sem conversa, somente dançando. No fim da tertúlia, era cada qual para seu lado, sem compromisso. Até o próximo encontro, ou melhor, à próxima tertúlia. E essa menina era uma das minhas companheiras de festa.

- Vamos dançar, convidei-a?

- Não, respondeu bem abusada.

- Porquê?

- Tu disseste há pouco que não me conhecias, mesmo eu tendo mandando um convite pra ti, e queres agora dançar comigo? Nada feito. Não vou.

- Ah! Tu és, a Mazé? Como poderia saber, se não sei teu nome e não recebi convite nenhum para esta festa? Como disse à tua amiga pulei o muro para poder entrar. Falar assim era a coisa mais natural naquela época, pois todo jovem se vangloriava de ter entrado em um clube qualquer pulando o muro. Era uma aventura.

- Mesmo assim, não vou dançar contigo, respondeu mais emburrada ainda..

Do lado, estava uma irmã mais velha dela, e nós nos conhecíamos, mesmo sem que eu soubesse o nome dela também. Contei-lhe a história e os detalhes. Ela olhou para a irmã e disse:

- Vai dançar com o rapaz. Ele tem razão. Como ia saber quem tu eras, se não recebeu convite para a festa?

Em obediência à irmã, ela foi. Dançamos o restante da festa.

Depois foi cada um para seu lado.

Mazé, contudo, morava perto da casa da namorada do Paulo, e tinha mandado o convite pra mim por ele. No dia seguinte, foi procurar o Paulo para tira a limpo aquele assunto, porque ele não havia me entregue o convite, e nisso contou o acontecido. Ele e como disse antes, esperto, procurou logo uma saída, e se saiu com essa:

- Quando tu mandaste chamar o Henrique, ele estava com alguma mulher?

- Estava. Respondeu a garota.

- Foi esse o motivo dele dizer que não te conhecia, mas claro que entreguei o convite. Ele ti conhece muito bem, e também sabe teu nome. Na hora para não ser atrapalhado inventou essa mentira de pular muro e de não te conhecer. Agora, depois que ficou só, a paquera foi embora, foi ti procurar.

A Mazé, saiu dali furiosa comigo. Passado alguns dias, encontrei-me com ela no Centro da cidade, para quem me dirigi. De imediato, quando me viu indo em sua direção, mudou de calçada, e ainda deu rabiçaca, termo antigo usado para mulheres, quando passavam por uma pessoa que não gostavam, e viravam a cabeça com força para o lado contrário da pessoa com quem não queriam falar.

Depois disso, nunca mais ela falou comigo. E eu fiquei sem entender nada, até porque naquela noite a coisa tinha evoluído mais entre nós dois.

Na primeira oportunidade quando encontrei o Paulo, contei o acontecido, inclusive falei do convite. Ele, como disse não perdia a oportunidade de se sair bem, mas assim como contara a história lá dizia do outro lado também, tinha essa vantagem não negava o que fazia, e me disse:

- Ora, eu ia bem dizer que tinha ficado com o convite para ela ficar com raiva de mim. Aí me contou o diálogo narrado antes.

 

 


 

INJEÇÃO DE BENZETACIL

 

Os meios de transporte entre algumas cidades do interior ainda são muito precários, dada a qualidade dos transportes e das próprias estradas. Hoje não prestam, imagine há trinta, quarenta anos. Nem estrada havia, quanto mais transporte. As estradas, em sua maioria, eram de barro batido, quando chovia ficavam intrafegáveis, além dos atoleiros, não tinha acostamento, sinalização, enfim nada. Asfalto? Só nas BRs e em algumas estradas estaduais e das mais importantes.

Ir e voltar do Pacoti a Baturité, a trinta e poucos quilômetros de distância, levava-se quase um dia inteiro. O pior não era o tempo gasto, mas arranjar transporte. Na maioria das vezes feito em cima do lombo de animais. Um ou outro carro de praça, geralmente, Jeeps e caminhões mistos, os famosos e velhos pau-de-arara com boléias maiores onde se acomodavam os passageiros mais abastados. A pobreza ia mesmo era em cima da carroceria, sentada em tábuas duras sem o menor conforto e sem qualquer segurança. Proteção? Eram próprios peitos e as próprias cabeças mesmo.

Estes meio de transporte ainda é muito comum nos dias de hoje, principalmente nas cidades onde há romaria e serve também no transporte de aluno para localidade cujo acesso é quase impossível.

As cidades, bastante atrasadas, ofereciam condições de vida muito precárias a seus habitantes. A maioria dos negócios geralmente era realizada nas cidades maiores. Certas mercadorias somente se encontravam na capital. Bancos, apenas em meia dúzia de cidades do interior do Estado. Nossa cidade não dispunha de agência bancária, coisa que só muito recentemente foi inaugurada.

Funcionários públicos federais, que recebiam pagamentos pelo Banco do Brasil, tinham que se deslocar de Pacoti até Baturité, ou até Maranguape. Um dia inteiro de trabalho era perdido só recebimento dos ordenados.

Numa dessas viagens de Pacoti a Baturité, os guardas da malária, como eram conhecidos os funcionários do antigo DNERUR – Departamento Nacional de Endemias Rurais -, hoje FUNASA, tiverem de pernoitaram em Baturité e aproveitaram para fazer uma farra.

Fora para o Putiú, ou melhor, para o 2, conhecido cabaré da cidade. Por lá começaram a beber e a farra se estendeu até altas horas da noite e eles resolveram dormir ali mesmo com as meninas do cabaré. Todos de porre.

Raia o dia, acordam apavorados sem saber onde estavam, e vendo que tinham dormido no cabaré ficam desesperados para irem embora. Como todos eram casados, a maior preocupação era explicar para a noite fora de casa.

O carro ter dado o prego, coisa comum naqueles tempos, poderia servir perfeitamente de álibi. Perderam o transporte seria outra. Alguém se perdeu dos demais e não queriam voltar sem ele, seria outra. As justificativas podiam ser e eram muitas, bastava combinarem. Isso era o de menos. A maior preocupação poderia ser as conseqüências de uma trepada no cabaré, o que invariavelmente na época acontecia sem preservativos, eram as doenças venéreas, que iam desde um simples “chato”, certo tipo de piolho que só habitam as regiões sexuais masculinas e femininas, a uma sífilis, passando por uma gonorréia, ou por um cavalo de crista ou até mesmo de buraco, dentre outras menos cotadas. Hoje seria o caos. A AIDES está por aí mesmo. E foi só o que aconteceu com um deles! Dois dias depois da farra, o cacete do sujeito amanheceu pingando. Esquentamento – gonorréia – dos brabos.

Desesperado o sujeito procurou o farmacêutico da cidade, como de hábito, devido ao grande conhecimento daquele profissional e até mesmo porque não existiam médicos para atendimentos normais e, principalmente, a casos como aquele. A receita, a velha e boa Benzetacil de um milhão e duzentas mil unidades, que para o caso era tiro e queda. Não se fazia nem exame para saber o tipo de doença, que era detectada somente pelos sintomas já dava o diagnóstico. Hoje não. É tudo moderno. Qualquer doença tem que ser feito o exame para se saber o tipo de antibiótico. Mas, no passado existiam poucos medicamentos e serviam para tudo.

Resolvido o problema de saúde do guarda. Surge outro maior e bem pior. O tal guarda, no dia seguinte à viagem, antes de detectar a gonorréia, tinha transado com a mulher que estava grávida de três meses.

Voltou à farmácia e contou para o farmacêutico, que de imediato receitou, também, Benzetacil para a mulher.

Aí, veio o desespero. Como dar o remédio à mulher sem contar o problema. Ficou imaginando a maneira e não via qualquer saída. Voltou a falar com o farmacêutico que foi taxativo: ou ela toma ou vai ter gonorréia também e com possíveis conseqüências para o feto. O guarda, que também entendia um pouco também de alguns tipos de doença, pois uma de suas funções era atender casos graves naquelas localidades mais remotas do estado, onde às vezes era obrigado a aplicar injeções e fazer outros pequenos trabalhos de enfermagem, ponderou que a Benzetacil também poderia afetar o feto. É um risco disse o farmacêutico.

No caminho de casa o guarda foi pensando, e encontrou uma solução que talvez desse certo.

Acostumado a aplicar injeções, ao chegar em casa foi logo esterelizando o aparelho, ou seja, como não havia seringas descartáveis, os aparelhos de injeção tinham de ser fervidas para se desinfetar, foi fervendo o aparelho e dizendo para a mulher, na tentativa de justificar o que estava por fazer:

- Minha filha, passei na farmácia agora e conversando com o farmacêutico, ele recomendou umas vitaminas para você. Coisa nova, muito boa. Especialmente para mulheres que já tiveram mais de um filho. Recomendável para evitar problemas de desnutrição tanto para a criança, como para a mãe.

- Que negócio de vitamina é esse? Eu não vou tomar nada de remédio, porque estou me sentindo muito bem, respondeu a mulher!

O guarda, no entanto, sem dar a mínima para o que ela dizia, continuou a esterelizar o aparelho. Terminado o serviço, sem permissão dela e sem que ela notasse, já que estava na cozinha preparado o almoço, de surpresa ele aplicou-lhe a injeção.

Depois foi só aguarda o nascimento da criança para ver o resultado.

Meses depois nasceu o terceiro filho do casal. Uma menina.

Segundo ele a mais bonita e mais forte da família. Sem nenhum problema de saúde, sem qualquer seqüela da Benzetacil.

 

 

 

Manoel de Barros

 

Augusto dos Anjos

 

 

 

 

 

 

 

 

16.11.2007