Militante feminista e literária, a
escritora Nilze Costa e Silva lança hoje
seu novo livro, “Fortaleza Encantada -
crônicas sobre a cidade de Fortaleza”
Conversas
com a cidade, crônicas afetivas trocadas
ao longo dos últimos cinco anos, algumas
publicadas. Fechando a semana de
comemorações do aniversário da capital
alencariana, a escritora Nilze Costa e
Silva restabelece o diálogo com a
Fortaleza de conquistas e derrotas
sociais, com a Fortaleza que a recebeu
aos dois meses, vinda de Natal para uma
comunhão irredutível.
A infância
foi na Praia de Iracema.
Especificamente, na Rua Dragão do Mar.
Tão mudada Rua Dragão do Mar, que hoje
abriga o Centro Cultural onde sua
ex-vizinha devolve à cidade, na noite de
hoje, suas novas impressões literárias.
“Mudou totalmente, tinha muitos
armazéns, zona de prostituição... Mamãe
me proibia de passar em frente, de
qualquer forma”, conta a hoje militante
feminina, coordenadora do Núcleo de Ação
e Valorização da Espécie Humana (Nave) e
também integrante do Fórum de Mulheres
Cearenses. Apesar dos avisos, a
realidade de outrora, como a de hoje,
não deixou de se entranhar na escritora.
Fortaleza
do bem e do mal. “Minha obra sempre se
volta para a cidade, sua população e sua
história”, considera Nilze Costa e
Silva. “Somos um povo diferente de todo
mundo, um povo que elege o bode Ioiô
como seu representante tem um humor que
ameniza um pouco as adversidades. Somos
pobres, mas somos pessoas afetivas,
entusiasmadas”. Um povo cuja história,
mesmo involuntariamente, acaba fazendo
parte de seu cotidiano. “Em cada
crônica, reflito sobre isso”.
Passeio urbano
Nilze
recorda, por exemplo, da antiga cadeia
pública, onde hoje está a Encetur.
“Lembro que os presos jogavam latinhas
pedindo esmola. Hoje, vi que a situação
é ainda pior no presídio feminino Auri
Moura Costa”. A autora de “Mazelas da
Casa de Detenção” é lembrada na crônica
em que Nilze sugere que os próprios
operários da cadeia, por volta de 1877,
podem ter caído atrás de suas grades.
Além de Auri, Nilze cita outras
personagens femininas da construção da
cidade, em uma das últimas crônicas, de
caráter mais ensaístico: “Mulheres que
atuaram na nossa história”. Nomes como
as abolicionistas Maria Tomásia e
Bárbara de Alencar, a voluntária da
Guerra do Paraguai Jovita Feitosa e
ainda a jornalista e poetisa Francisca
Clotilde.
No roteiro
sentimental, histórico e engajado de
Nilze, sob as bênçãos de epígrafes de
cearenses que também escreveram sobre o
tema, referências felizes e
desencantadas sobre outros bairros onde
morou e ainda sobre a Praça José de
Alencar, a Santa Casa de Misericórdia,
“primeiro hospital público de Fortaleza,
concluído em 1857 pelo boticário
Ferreira, intendente da época”; o
Restaurante Estoril e a Ponte Metálica;
a avenida Dom Manuel “dos blocos de
Carnaval”; a Cidade da Criança; a Escola
Normal; o Passeio Público “com seus
mártires sem bustos ou estátuas”; e
ainda a Praça da Estação, sob o olhar da
mendiga Vassoura, e a Beira-Mar, já
cantada em verso por Ednardo...
Por sinal,
há uma seção dedicada às letras de
canções ligadas à cidade: Ednardo, é
claro, comparece ainda com “Longarinas”,
“Padaria Espiritual”, “Passeio Público”e
“Terral” . Mas há também lugar para
Taiguara (“Maria do Futuro”), Belchior e
Fagner (“Mucuripe”), Carlos Barroso (“No
Ceará é Assim”) e ainda Thomás Lopes,
autor do hino de Fortaleza. “Mas na
crônica ‘Beira-Mar’, falo sobre a
situação dessa área nos últimos anos,
com suas meninas prostituídas e os
meninos que fazem arte com carvão no
calçadão”. Cidade de (a)mar e de
lágrimas. (HN)
Serviço: Lançamento do livro
´Fortaleza encantada - crônicas sobre a
cidade de Fortaleza´, de Nilze Costa e
Silva. Hoje, 19h, na Livraria Livro
Técnico do Centro Dragão do Mar.
Apresentação do poeta Dimas Macedo. O
livro estará à venda por R$ 20,00.