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Izacyl Guimarães Ferreira


 

Poemas do Mar


 

Guanabara


Na infância o mar crescia entre gaivotas,
se abria em botos.
Mergulho e salto de pergunta o mar.


Entre o cais e o arquipélago
as fronteiras da aventura.
Conspiração de arraias e relâmpagos,
barra adentro oceanos navegados.


Quinta,Séptima,Imbuhy:
convés de sonhos,
noturnos túneis sem proa nem popa,
parece que era o mar que se movia.


(Impossível não cantar
a Cantareira:
vagares tão femininos de barca
em águas transatlânticas de esquadras.)


Na infância o mar salgava entre domingos.
Mar aberto,mar fechado,
baía. Espaço entre as ilhas,escalas,
primeira lição de tempo.


(Rio, 1968)

 

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Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Plaza de toros

Izacyl Guimarães Ferreira



Mare nostrum


Esse é um mar que vai,que é ido.
Mais que visto,investido,mergulhado
mar de espaço,mar sem margens.


Esse é o mar que foi,que é sido.
Mais que olhado,sofrido,navegado
mar de março,mar de viagens.


É o mar que tenho,que é tido.
Mar velho,recebido entre mil ventos,
lenhos,lanças,cruz de panos.


É um mar que leio,que é lido.
Escrito mar medido entre outros verbos,
alta voz de mil arcanos.


Esse mar em que nasço e sou nascido.


(Lisboa,1973)
 


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William Blake (British, 1757-1827), The Ancient of Days

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Nilto Maciel

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Bathsheba,

Izacyl Guimarães Ferreira


 

Verbete


Mar nenhum,de enseada ou de oceano.
Isento de metáfora e de símbolo.
Se de ouvido na concha resgatada,
mar sem céu,sal,circunavegação.
Revisto na retina ou onde chegue
um mar não contemplado é mar sem água:
mar pensamento,longe vizinhança
nos horizontes fechados da serra.
Mar da palavra mar e de seus ecos
amorosos na língua e no poema.


(São Paulo,1974)
 

 

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William Bouguereau (French, 1825-1905), Admiration Maternelle

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Sânzio de Azevedo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Velazquez, A forja de Vulcano

Izacyl Guimarães Ferreira



Rambla


Mirante. Ribeira em linha
paralela ao horizonte
que adiante se adivinha
devagar,na distração
do caminhante.
Passarela,patamar.


Longe um verde se desenha
e frisa a água
que se empenha por azuis,
onde outro verde se inunda
e se reduz
no fio extremo do mundo.


Essa avenida margeia
a cidade e o pensamento.
Por horas cheias
fluímos juntos
nossos pequenos assuntos
- ócios,memórias,inventos.


Essa avenida marinha,
orla indivisa,
essa avenida
volta a ser a minha rua
- à beira-vista,
saída que continua.


(Montevidéu,1988)
 

 

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Michelangelo, Pietá

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Floriano Martins

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Izacyl Guimarães Ferreira



Atlas marítimo


Fernando Pessoa escreveu
que o mar sem fim é português.
Que muito de seu sal
são lágrimas de Portugal.


Rafael Alberti,
marinheiro em terra,
perguntou se o mar
alguma vez parava
para ouvir seus versos.


João Donato disse
que todo mar é um.
Mediterrâneo,Caraíbas,
Guanabara,Sepetiba,
recôncavos do Atlântico,
nosso mar comum.


Mas
no mínimo branco da espuma,
no refletido azul de acúmulo,
nos vitalícios verdes
(no chumbo e prata e negro e ouro de Camões)
o mar não se repete nunca.
Único e múltiplo,
recomeçando sempre
é mar de Valèry,é mar de Ulisses.


Desde aqui - orla,finisterra,litoral,
a terra inteira é beira-mar.


(Bogotá,1998)
 

 

Poesia Temática

   

 

Rafael, Escola de Atenas, detalhes

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Cristiane França