José Nêumanne Pinto
Quando chove
Quando chove, danço só,
vestido de ouro, algas e escama,
sou peixe do Açude Velho,
navego pelo canal
nas bandas do Buraco da Jia,
nos tempos em que o lugar
não se chamava Rosa Mística
e era reduto de bandidos.
Passo pelo Ponto-de-Cem-Réis,
uma bicada de Rainha
na bodega de seu Aluísio,
defronte do posto de seu Gaston.
Quando chove,
deslizo rápido,
como os casais do Ypiranga,
carregadores da feira-livre
e empregadinhas do Alto Branco,
forrobodó, chula e lundu.
Se não chove, dá no mesmo,
patino na lama da Rua Boa,
escapo para as bandas de Esperança
e me escondo do amor divino
e da fúria dos homens
nos contrafortes da Borborema.
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