Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

 

 

 

 

 

João Vianney Cavalcanti Nuto


 

Sede


tenho sede –
e tenho água potável
– asséptica –
com exato teor de cloro


tenho sede –
e tenho água no copo
– doméstica –
e um peixe preso no aquário


tenho sede
tenho água
tenho sede


tenho água – e tenho sede que não passa –
tenho sede, tenho água – e sede urgente:
sede da chuva correndo nas calhas


tenho sede do arrojo das torrentes,
dos mares, dos rios – das águas correntes,
onde vagam navios, jangadas – peixes.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Entardecer, foto de Marcus Prado

 

 

 

 

 

João Vianney Cavalcanti Nuto


 

Marinha


verde que te quero azul
marinho – que te quero verde
vinho – que te quero mar...


a onda balança o barco
a onda me traz sargaços
a onda me arrasta o olhar...


azul marinho – e verde
vinho – de navegar:
tons ondulados – tons modulados


do azul do mar.
 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Cleópatra ante César

Início desta página

Cláudio Aguiar

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Goya, Antonia Zarate, detalhe

 

 

 

 

 

João Vianney Cavalcanti Nuto


 

Maré cheia


lua cheia
maré cheia
cheira a mar


de peixes
de ostras
de algas


e o brilho
das águas
à luz


de prata
da lua
da praia


na noite
de estrelas
cheira a mar


a brisa
na pele
nua:


maresia
nos poros –
arrepia:


cheira a mar
cheira a mar
cheira a mar
 

 

 

Crepúsculo, William Bouguereau (French, 1825-1905)

Início desta página

Dora Ferreira da Silva

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Thomas Cole (1801-1848), The Voyage of Life: Youth

 

 

 

 

 

João Vianney Cavalcanti Nuto


 

Peixes


peixinhos pululam na rede de arrasto
e espadanam enroscados nos sargaços –


estilhaços volúveis de mar e sol –
brilho de prata ferindo meus olhos:


brilho de pele curtida e suada
e de outros olhos feridos – de sal.
 

 

 

Bernini_Apollo_and_Daphne_detail

Início desta página

Jomard Muniz

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

João Vianney Cavalcanti Nuto


 

Peixe


este peixe é saboroso...
veio do mar? não,
do mercado


peixe très chic:
sem escamas,
sem espinhas,
sobre a toalha de linho


é saboroso este peixe –
mas... onde está o mar revolto,
que abalroa o costado
e inunda todo o convés?


este peixe é saboroso,
este peixe é nutritivo –
mas a fome continua a fisgar...


me dá só um bocadinho
de peixe em combate bravio –
me dá só um bocadinho
de peixe em peleja crua


prove um pedacinho, freguês!
está bem fresco, o pescado:
chegou hoje do alto mar –


este peixe é nutritivo...
embora meio pesado...
não estará muito salgado?
 

 

 

Ruth, by Francesco Hayez

Início desta página

Francisco Perna