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Leonel Delalana Jr

 

ldelalana@yahoo.com.br

Andreas Achenbach, Germany (1815 - 1910), A Fishing Boat
 

 

 

 

 

 

 

 

 

Albrecht Dürer, Mãos

Poesia:


 

 

Crítica, ensaio e comentário:

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Fortuna crítica:


 

Uma notícia do poeta: 

LEONEL DELALANA JÚNIOR  na Agenda da Tribo de 2004 a 2008 e na Germina – Revista de Literatura e Arte: http://www.germinaliteratura.com.br/leonel_delalana_jr.htm

http://www.germinaliteratura.com.br/advert_erot.htm

O resto é puro fazimento. [2007]

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Culpa

 

 

 

Velazquez, A forja de Vulcano

 

Tiziano, Mulher ao espelho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Riviere Briton, 1840-1920, UK, Una e o leão

 

 

 

 

 

Leonel Delalana Jr


 

SEIS CIRÚRGICOS

 

 

 

alguma coisa fede na beleza plástica dos dentes brancos

alguma coisa no farol sem circo para irem embora

alguma coisa fede, sob

 


 

 

o céu da boca goteja salivas

ásperas amargas salgadas

 

lágrimas ácidas dilacerando

língua palavras esôfago

 

vontade imensa do grito

qualificar-se em voz.

 

 

 

 

definitiva

 

um meteorito

um vírus

uma pedra

uma bala perdida

uma fasciite necrotizante

um fascista no poder.

 

 

a olho nu

a vida passou

pela

vida

à vista desarmada

 

foi-se embora

sem mais ver.

 

 

um brasil dentro de instantes

 

de estantes caladas

em grito de urgência.

suspendido

agredido

comedido diante da tevê

crendo com tamanha que o amanhã será outro nível de consciência

 

 

 

 

 

 

abrir as ventas

escancarar o riso

olhos mansos

ouvidos de um cão

voz pouca sem alarde

precisa singular

 

se necessário for

as veias

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Winterhalter Franz Xavier, Alemanha, Florinda

 

 

 

 

 

 

 

 

Um esboço de Leonardo da Vinci, página do editor

 

 

Micheliny Verunschk

 

 

A Poesia de Exatidões de Leonel Delalana
 

 

Uma poesia precisa. É assim que melhor se define o trabalho poético do paulistano Leonel Delalana Júnior. Seu livro de estréia, ainda inédito, Anatomia (topográfica & cirúrgica), revela um olhar preciso e mão firme, de quem não tem medo do risco e do corte. São poemas que exigem do leitor a atenção desperta pois que trabalham com imagens numa rapidez de flash fotográfico que muito agrada aos entusiastas de Ítalo Calvino.

 

Nesse trabalho em que agrega rapidez e precisão, o poeta age como se roubasse do real pequenos objetos, fraturas de momentos, coisas que sobram do olhar panorâmico e que, embora pareçam mínimas à primeira vista, são em tudo potência, possibilidade de explosão.

 

falo pêlos cotovelos

& bocas

 

enquanto o sol

subjuga as palavras adormecidas

em algum canto escuro qualquer.

 
 

Soco. Granada. Máquina de comover. A poesia de Leonel Delalana é também suspensão. Desejo interrompido, uma ausência que se alonga como um fio entre a vida e a morte, o gozo e o anti-gozo.

 

não tente escrever

em minha mente

 

não tente

 

folha

em branco

ou

origami

 

flor

cavalo

mesa

 

chega

não tente

não quero mais.

 
 

A primeira parte do livro, que se denomina topográfica, abre veredas para uma abordagem mais íntima, uma cartografia de desejos medidos, desbravados, conhecidos palmo a palmo. Humor, ironia e olhar sensual, quando não perverso, sobre objeto e palavra são instrumentos que orientam esse percurso. Mas não há excessos. Não há senão a limpidez da palavra domada. E não diria aqui domesticada, pois resta nela aquele tanto de ferocidade necessária à boa poesia.

 

tio zaqueu e o menino laiu

 

laiu menino malvado enfiou sem dó a chapeleta inchada uma naja vupt!

no fotoscópio de tio zaqueu

 

o olhinho de porco do tio zaqueu ficou em flor

mas pegou gosto

 

ô menino bruto esse laiu, que falta de respeito

 

indignou-se tio zaqueu com o olho em flor

já piscando em outras paragens

 
 

A segunda parte, apropriadamente chamada de Cirúrgica, lança um olhar sobre o mundo. Antes, disseca relações e situações do cotidiano, da política, aquela maior da qual não há como fugir. O poema de abertura adverte: alguma coisa fede na beleza plástica dos dentes brancos/ alguma coisa no farol sem circo para irem embora/ alguma coisa fede, sob. Sem panfletarismos, o poeta levanta os tecidos apodrecidos e revela os tumores:

 

vestem-se as mais belas roupas

em cima de cadáveres

comem-se os mais refinados pratos

em cima de cadáveres

fazem artes conceituais

em cima de cadáveres

legislam em cima de cadáveres

viajam ao redor do mundo

rodopiando em cima de cadáveres

& os cadáveres renascem cadáveres

como fênices macabras

dançando à luz do seu eterno retorno

da sua podre nudez invisível.

 
 

e ainda:

 

carrego o bronze

do meu

país

 

de norte a sul

leste

oeste

 

a proteção do

redentor

 

largas

apunhaladas

nestas costas de mula.

 
 

E assim, segue a Anatomia de Delalana, alma e vísceras expostas. Rigor em forma de poesia da melhor qualidade. 

 


Micheliny Verunschk, poeta pernambucana radicada em São Paulo. Lançou Geografia Íntima do Deserto, Landy, 2003. Mantém o blog http://www.ovelhapop.blogspot.com

Página inicial da autora

 

   
 
Culpa

 

Alphonsus Guimaraens Filho

 

 

 

 

 

 

 

10.10.2007