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Líria Porto

liria@uai.com.br

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia da autora:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bernini_Bacchanal_A_Faun_Teased_by_Children

 

William Blake, Death on a Pale Horse

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Líria Porto


 

Da última vez
 

 

eu te queria
quero-te ainda...

meu coração fogareiro
ao ver-te tão sorrateiro
faz canção de bem-te-vi
e ao som de um bolero
no laço do teu abraço
vira flor de sabugueiro
cheiro de mato
capim bravo...

com a sede do deserto
pede água
chega perto
rodopia
tem vertigem
tem inocência de virgem
recebe a ti
todo
inteiro...

não desmaiei
eu morri...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Rubens Sanzio de Turbino, Transfiguração, detalhe

 

 

 

 

 

Líria Porto


 

Insônia


a boca escancarada da noite
os urros do silêncio
as teclas mudas...
não tilintam os cristais
não estilhaçam a vidraça
os amantes não sussurram...
não há sinos de igreja
o mundo acabou
o relógio dorme
e o tempo não passa...
onde estão os latidos
os galos
os gritos
os olhos do sol?

na cama imensa
só este corpo exausto
o vazio da tua ausência
e os mil anos dessa noite
que me engole
que me vomita...

 

 

 

Bernini_The_Rape_of_Proserpina_detail

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Eduardo Lacerda

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

Líria Porto


 

Predestinados


nas teias
nas brenhas
nas entranhas
o mistério
o destino
a sina...

eu não mais te esperava
esculpiste sozinho
a tua vida
e cá estamos nós
olhos nos olhos
bebendo do mesmo copo
na mesma esquina...

 

 

 

Franz Xavier Winterhalter, retrato de Roza Potocka

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João de Deus Souto Filho

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Judgment of Solomon

 

 

 

 

 

Líria Porto


 

Respingos


e quando a chuva caía
eu ia com a enxurrada
ia beirando a calçada
descia junto com a flor
e ria a risada d'água
aquela alegria d'água
brincava que era a flor
mas depois sentia frio
lembrava-me então do rio
da flor que o rio levou
e os meus olhos choviam
eu era como a enxurrada
fui ficando poça d'água
que o tempo choveu
chorou...


 

 

 

Rubens_Peter_Paul_Head_and_right_hand_of_a_woman

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Sérgio Sant'Anna

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Rebecca at the Well

 

 

 

 

 

Líria Porto


 

Anomalia

 
essa cidade medusa
execrável como os medos
ódios misérias injúrias
a megalópole se expande
assusta igual o demo

essa cidade monstro
tão cruel quanto a fome
abocanha mastiga cospe
tal fôssemos bagaço de cana

essa cidade infortúnio
avilta destrói tritura
transforma tudo e todos
em disforme pasta urbana

 

 

 

Crepúsculo, William Bouguereau (French, 1825-1905)

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Zemaria Pinto

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Winterhalter Franz Xavier, Alemanha, Florinda

 

 

 

 

 

Líria Porto


 

Desassossego


a desconfiança a dúvida
não se saber do amanhã
a vida sem corrimão
o medo a causar angústia
dores de cabeça úlceras
não resolvem não adiantam
só quando o agora surge
aparecem soluções


escapam de quaisquer planos
as certezas do futuro
que então os dias fluam
cada coisa cada uma
tem a dimensão que damos

 

 

 

Ticiano, Salomé

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R Roldan-Roldan

 

 

16.10.2006