Márcio Catunda
Os milagres do Divino Mestre
I
Jesus, ao caminhar por Samaria,
clamores escutou de dez leprosos
que acreditavam que Ele os livraria
de seus duros estigmas tenebrosos.
Com pena, então, o Filho de Maria
mandou-lhes procurar os virtuosos
sacerdotes da lei, e nesse dia,
ficaram todos limpos, venturosos.
Mas regressou apenas um dos dez,
a dar-lhe graças e beijar-lhe os pés.
O Mestre viu que era um samaritano,
estrangeiro nas glebas de Moisés.
E ao constatar a fé do ser humano,
mostrou como são poucos os fiéis.
II
Quando Jesus chegava a Jericó,
a multidão parou para saudá-lo.
Um cego meditava triste e só,
mas ao ouvir do povo aquele abalo,
marchou, convicto e firme, como Jó
para louvar Jesus e abraçá-lo
e suplicar misericórdia e dó.
Diante das súplicas do seu vassalo,
humilde e tão sincero entre os judeus,
que ansiava por mirar-lhe o rosto santo,
o Mestre desvendou-lhe os olhos seus,
abrindo-lhe a visão como se um manto
saísse-lhe da fronte, e ele, com espanto,
dava louvores ao bondoso Deus!
III
Jairo chamou Jesus a toda pressa
para que lhe salvasse a filha única,
que à míngua perecia, e sem conversa,
partiu a Onipotência mediúnica.
Aflita, uma mulher toca-lhe a túnica
na multidão carente que o procura.
Quem pede ajuda? Indaga a seus discípulos.
Cai-lhe a devota aos pés, e tem a cura.
Já na casa de Jairo viu jazer
uma jovem exangue sobre o leito
e o seu desígnio decretou, perfeito.
Legando ao mundo o místico preceito,
mostrou Jesus amor, glória e poder
fazendo a moça morta renascer.
IV
A multidão com pedras ameaçava
a contrita mulher, que em seu quebranto,
as fraquezas humanas lamentava,
chorando cabisbaixa num recanto.
A cólera do povo era qual lava
que a ela provocava medo e espanto.
Assim, de atroz justiça, feita escrava,
Jesus a viu em convulsivo pranto.
"Na vida, quem jamais tenha pecado,
jogue a primeira pedra" - o Mestre ordena
à turba que partia em debandada.
Jesus falou então a Madalena:
"segue o teu rumo e leva vida honrada,
o meu juízo a ti não te condena".
V
Navegava Jesus com os pescadores
de uma margem à outra no alto mar,
os turbilhões do vento, com furores,
o barco sacudiam sem parar.
Em noite de tormentas e temores,
repousa o Mestre, quase a cochilar.
Transidos e assaltados de pavores
suplicam-lhe os discípulos pra os salvar.
Jesus ordena o vento serenar
e às águas determina mansuetude.
Grande calma reinou, grande quietude.
Perplexos Pedro e João como a chorar,
louvavam-lhe os poderes e a virtude
de dominar os temporais do mar.
VI
Meditava Jesus, junto a um recanto,
com alguns dos seus discípulos fiéis,
quando num súbito rumor de canto,
sentaram-se as crianças a seus pés.
E ao abraçá-las, com formoso encanto,
perguntou-lhes os nomes - eram dez
ou mais e elas sorriam tanto e tanto!
"Estes infantes são puros vergéis".
o Mestre afirma -- "são vergéis do céu!
da perfeita seara da Beleza.
Deixai que me procurem estas crianças.
De salvar-vos mantei as esperanças,
pois se tiverdes delas a pureza,
desvendareis do paraíso o véu!"
VII
Na aldeia dos gadarenos havia
um homem possuído por demônios,
pelos ermos a errar, sem companhia,
com os olhos desvairados e tristonhos.
Por que no seu delírio proferia
clamores tais, estranhos e medonhos?
Era um mistério, ninguém o sabia...
Ao ver o Mestre, despertou dos sonhos
da horrenda possessão que o estrangulava
e dos mil diabos com que se envolvia.
A legião imunda se rendia,
precipitada, qual ardente lava,
nos porcos atirados pelo abismo,
naquele formidável exorcismo.
VIII
Já Lázaro era morto no seu leito
e todos viam que morto jazia.
Jesus foi despertá-lo, e de tal jeito,
que o certo é que ninguém duvidaria
que embora morto já, no quarto dia,
seria erguido do sepulcro estreito.
Era Marta fiel ao Mestre, e o via
de Deus filho, imortal e sem defeito.
E ao vê-lo, a moça logo se apressara,
o rosto em pranto e a voz toda amargura,
e o seu poder, convicta, então proclama:
"Ó meu divino amigo!" - ao Mestre exclama.
Jesus, que amava Lázaro, então o chama,
e ele obedece, e sai da sepultura!
IX
Junto ao sepulcro inda Maria chorava,
sem encontrar o corpo de Jesus.
Dois anjos avistou, de branca luz
e apenas um lençol que ali restava.
E ouviu alguém que súbito falava:
Era o Senhor, de pé, vivo e sem cruz.
Ó maravilha que se apresentava
na figura do Mestre em Verbo e Luz!
Apareceu depois, no seu encanto,
aos discípulos, onde se escondiam
da vil perseguição dos fariseus.
De paz abençoou os filhos seus,
que arrebatados de grandioso espanto,
receberam do Mestre o Espírito Santo.
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