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Romério Rômulo
pontes, ouro preto
as pontes que martelo e que atormento
carregam uma espécie de ungüento
que vila rica deixou em cada delas.
o sujo, o não calado, o renitente
perderam a vida, a mão, a língua, o dente
por discordar do que havia sobre elas.
quantos soberbos sobre as pontes disfarçaram
suas viagens de quem nasceu do ouro
e o ferro em apetite aguçaram.
tiveram, em pindorama, estes senhores
que carregar na consciência, se a tiveram,
o grito amargo das dores que causaram!
(de
quantas pontes vive ouro preto?)
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1.
o ouro era praga e insolência.
quando pensava-se alguém em insolvência.
o diabo cabia-lhe no corpo
e seu corpo satânico era o dobro.
2.
na corte destes joões, marias, outros
cercados de ditames destes reis
4 eram 5. e os 5 eram 6.
tiradentes : seu corpo dissolvia!
(séc. 18, v. rica) |
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minha ouro preto é feroz
como o corpo que se mata.
de luzes não reveladas
de astros não-todo-ditos
de falas secas na noite.
cidade de inconfidências
e revezes
ouro preto, esfarelada
de chuvas e mãos varadas
por turbulências e pragas.
(per augusto) |
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ouro preto, minha
vou consultar
os remendos da pele da cidade.
vista sua alma, seu corpo,
já lhe sei das mazelas.
quando olhada,
seu fígado se mostra lavrado por tenazes
de homens insensíveis.
sequer sua moldura foi mantida.
cães, sem ofensa aos cães,
trataram-na como boi morto
a ser comido em voracidade.
pouco lhe sobrou dos caminhos.
cabe saber, se rôta,
sua pele não é descartável.
cabe saber, se quebrados,
seus órgãos mantêm vida
a ser recomposta.
e saber, ao final,
se as mãos escravas que a montaram
terão os olhos daqueles que a habitam.
(per augusto) |
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afastem-se os cordéis, arranquem-se os cordões.
a vilania sempre surge em ouropéis
nos arremates turvos, equações
rudimentares da vida, distorções
de falas, pedras, pragas e bordéis.
o dente, simulacro de uma voz
carrega sobre si as multidões.
e se elas se atrevem entre nós
é que carregam, por nós, certos senões.
as vozes aspergidas, sussurradas,
cabem e andam em puros borbotões,
vicejam e estarrecem madrugadas
entre novelas, estorvos e canhões.
(brasil, em ouro preto, corte)
(per augusto)
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o ato de nascer em cada ponto
carrega uns navios, umas flores,
todos os atos, breves, só completam
o ano do seu turnos já rasgados.
quantos de nós se sabem nestes rios,
se o fino odor do mundo se deslava
no corpo ao nascer do próprio ato?
quando nascer é tanto, que se diga
de só nascer se ato completado
por força de saber-se o incompleto.
(pontes)
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há urubus que passam no meu corpo
de ruas de ouro preto.
cada uma se revela estado de um mapa
que ruma pelo caos e ruma
por olhos do dezoito. há muito,
quebro estas ruas, estas voltas soltas,
num ar aonde o ouro, por oculto,
se fez em revoltas resolutas.
(per augusto)
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casa dos contos. ponte.
saída de cláudio pela vida
tangente, da escada, razão pura,
esquecida independência fraterna.
esconsos de affonsos, das vilas
que veneram o monarca da hora,
tangido pela força do vento
vazada em liberdade pela escada,
o corpo de cláudio é montanha!
(per augusto)
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marília. ponte, mulher.
mulher e ponte, ambas por gonzaga.
se disser que marília é aziaga
estou perdido em largos do horizonte.
vista de mim, marília, ensandecida,
estagnada em musa proibida,
pelo rigor da corte, gonzaga, se sabe,
nasceu dela, ela lhe pôs a vida.
quando gonzaga, em frutos d’além mar
outra marília viu, e dela fê-la prenha
se recordava, atroz, desta marília
que vila rica fez, e certo, venha
a fazê-la ancestral da lira louca
que gonzaga imprimiu, qual um pastor
de rebanhos, grosseiro relator
de todas as marílias que não viu.
gonzaga foi. marília não partiu!
(pontes: marília)
(per augusto)
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(ao affonso ávila)
ponte azulada. contos.
pela casa espalham documentos
tal e qual fossem eles os ungüentos
salvadores de cláudio na escada.
como affonso dedilha sua lira
pelos esconsos flagrados de escravos
a multidão em repulsa solta uns bravos
rugidos que incendeiam aquela pira
molhada de luz. soubesse eu dos versos
de cláudio na manhã em que morreu
diria aos ditames do reinado
cláudio é eterno: o rei enlouqueceu!
condenaria o rei a varrer pedras
e brumas da vila de sempre. em seu reinado
as pragas o teriam mutilado!
(ponte: contos)
(per augusto)
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cabeças. ponte aziaga.
santos dummont à direita é uma praga
que deixa multidões na incerteza.
se a bomba que relincha nas cabeças,
zona e curral, avião levados às pressas
vê a morte em terror, toda a beleza
do vão dos corpos queimados, uma sorte
de absurdos gêmeos, uns quilates
de metais raros, sondados pelos vates.
por modernas incursões hiberna
do verso, este terrível acessório,
que faz da vida, morte. morte eterna!
(ponte: cabeças)
(per augusto)
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e tudo volta à terra
como terra, sempre!
(fecho, per augusto)
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