Roberto Pontes
A que saiu do
cântico dos cânticos
A que sempre chega
Traz a fala morna e mansa
Sabe a prática lasciva do desejo.
Em seu corpo trigueiro vem o sol.
Está e não está na incerteza,
Mas tem do mormaço, sol a pino,
A magia da terra iridescente.
A que sempre chega
É o amor, o mito, vindo e partindo,
Aprisco e dor, mas feliz contentamento.
E são os ombros, são as ancas,
As virilhas, as nádegas sedosas,
Os pequeninos seios, o sexo mordente,
Os tesouros que só eu pude achar.
A que sempre chega
Escapou de um versículo do Cântico dos Cânticos
Enquanto Salomão se ocupava demais
Com a pastorinha Sulamita.
E até hoje ele a procura, desesperado,
Naquelas linhas.
Mas em vão. É muito tarde. Está comigo.
( In: jornal Diário do Povo. Teresina-PI, 27 abr. 1991)
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