Urariano Mota
Nota biográfica
Urariano Mota é natural do Recife. Publicou contos em Movimento,
Opinião, Escrita, Ficção e demais publicações alternativas, na época
da ditadura. Muitas “menções honrosas”depois, publicou o romance Os
Corações Futuristas, cuja paisagem humana e física é a ditadura
Médici, no Recife. Tem inédita uma novela policial, O Caso Dom
Vital, que possui tema e enredo censurados por editoras. Nela,
critica cruelmente o ensino em colégios brasileiros.
Tem contos, crônicas e artigos publicados em lugares que vão da
Europa ao Brasil. No entanto, é quase absolutamente desconhecido no
Recife. Em dúvida, consulte-se o Google, que nada informa sobre
outro estranho fenômeno: Urariano Mota é um escritor novo, na idade
de 54 anos.
Escreve em português, sempre. Ora com raiva, ora com indignação, ora
com ironia, ora com um coração sentimental, frouxo, de deixar os
olhos rasos d’água. Isto quase sempre acontece quando lembra as
pessoas a quem ama ou amou, pessoas cuja infelicidade ele não
extinguiu, pessoas para as quais não compensam linhas de prosa. À
semelhança do personagem Samuel, do romance Os Corações Futuristas:
“Nesse dia Samuel descobriu uma nova faceta em sua mãe. Depois do
enterro, ao voltar para casa, e ver os cômodos ocos, como sempre
acontece quando uma casa perde um dos seus moradores, ela lhe disse:
O que você quer comer? Vamos tratar de comer. A partir de hoje o meu
filho é quem manda.
E abraçou-o. E chorou, sentida, desvalida e calorosamente, como a
Maria dos seus oito anos. Samuel percebeu, no íntimo, que as
lágrimas da sua mãe caíam sobre o ombro dele como as lágrimas de uma
mulher infeliz que encontrou o seu amor. Ele a sentiu em seu peso e
sua graça, graça pela solidariedade que o invadiu, peso no entanto
por saber que não poderia suportar tamanha esperança.” |