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Soares Feitosa, dez anos

 

 

 

Estudos & catálogos — mãos

 

 


 

 

Dos leitores

 

Camilo Martins

 

Universalíssimo Poeta So-ares Feito S/A,

És deste planeta? ou vieste de outro universo [dimensão] galáxia superior, intracardíaca, cérebromeridionáltica? Sim, pois esse poder de dar vida às palavras e fazer Cururus saltar para dentro da gente sem estourar as glândulas venenosas e nos ferir mortalmente, com certeza é um truque mágico novo! [que o diga os buracos negros da vida ou vegetação] [Imagine, isso só para ditar a razão do nome da editora, e tu tens que me empurrar sapos, ainda mais cururus, goela abaixo?] 

Me senti tal qual o super-homem atingido por sua inegável arma de destruição de sua própria massa muscular e ocular e... a fatal criptonita. Até porque não precisa me dar aulas de cururus, eu os conheço muito bem! Coloquei um no bolso uma vez, um cururu espirrou seu veneno nos meus olhos, lá em Pernambuco, perto de Caruaru, e eu quase fiquei cego de um ouvido... outra vez chutei um, sem querer, é, claro! [se eu não disser assim, já, já, vem o greempeace me aporrinhar... mas não adianta mais, o chute tá patenteado e já foi copiado até por holliwood.] 

Ainda outro dia coloquei um dentro das calças do meu amigo Luiz Dicosa, espie só se isso é brincadeira! Um dia vi um à beira da Lagoa das Negas, lá na feitoria dos leal, hoje Agricolândia, conversando com uma pedra [ veja só! ] e quanto sentimento dentro da couraça horripilante e inchatória do danado! A pedra ficou tão comovida [com a feiúra do bicho, é claro!] que lhe deu de presente uma lagartixa que havia “capturado” enquanto a tal tomava o seu costumeiro banho de sol, e, agradecido o dito cujo cantou o resto da noite, bem... quase... até ser encontrado e apresentado a uma jibóia que passeava por ali, e eu na beira da lagoa pescando, piscando pro meu amigo Ivan, [ o terrível ] que acabara de fisgar uma traíra, apontei para a cena que se desdobraria a seguir, dito e feito. Tchau e bênção!

 

Até hoje não esqueço

o cantá do sapo,

[ o sapo cururu ],

na madrugada,

do meu sonho nu...

canto que não

se entende e não

se sabe se é mesmo

...ou é o som do

próprio estômago

digerindo a vida

da outra que se foi,

ou rindo à toa de

barriga cheia,

[ como fazem os

mendigos ou as

dentuças hienas ]

caçoando da triste

e derradeira sorte

lagartixóide, sem

amenos pensar

no seu próprio

(i n) f e l i z

d e s t i n o .

[feliz é quem

feliz se vai]

 

Esse Estudos & Catálogos – Mãos, que me enviaste [junto com o sapo cururu] é de uma profundidade intragaláctica e na verdade eu gostaria de nesse momento pegar o primeiro jegue aéreo rumo ao Ceará, mãos no bolso, à toa, à toa e ter a oportunidade de sentado numa preguiçosa [feito Pantaleão, falo da cadeira, é claro!] à beira do oroz ou mesmo no Não Me Deixes, [se nos deixassem] quem sabe até naquela casinha do saudoso Patativa do Assaré, [que completa o cenário perfeito da visão] que eu vi na televisão, ou em Londres [tem algum bairro com esse nome por aí?] onde tu nunca fostes e muito menos eu,[o mais longe que eu estive foi em Nova Iorque, interior do Maranhão] tete a tete, tecer os comentários a respeito deste fenomenal pré – fácio será saber que a obra é tal e qual [eu nunca vi uma carroça puxando os bois!]. 

Mas, como diria Saint Exupéri, “ só se ver bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos.” Por isso é preciso viver, sentir, saber; Fica mais fácil compreender tudo buscando dentro do baú cerebral chamado saudade a essência do material feito, cheirado, cuspido, beijado, chupado, imaginado, sabido, sonhado [...] à distância do tempo que se foi e que não volta mais para a alegria de todos os defuntos, é claro! Eu digo isso porque agora, com tua escrita, é que compreendo o porque daquele ferro quente, em brasa, [como um vulcão a queimar o próprio corpo e derreter a alma] com o cabo de sabugo de milho, [pobre visconde de sabugosa!] que papai usou em duas vaquinhas que tinha [sonhando em ser fazendeiro, ô coitado!] e que aquele cheiro de macaco sapecado inté hoje não me sai da memória e depois ele me disse que tinha estudado até a 4ª série! 

Agora sim, me ficou tudo muito claro: A professora [que pagou o pato] foi a vaca, que serviu de quadro negro [ até porque ela era malhada ] e o abcedário, o ferro em brasa; Onde já se viu... aprender a ler nos bois ferrados! Que estudo sofrido! Pra quem? Me fez recordar também que toda vez que os vaqueiros iam buscar os bois na mata, para faze-los passar para a barriga da gente, os bichos vinham piados e encaretados e para nós, crianças, era uma festa e eu, meu irmão, meus primos e meus amigos subíamos nas árvores [pés de juá, taturubá, Maria mole, unha de gato(?) nos mourões das cercas, mas só nos de jacarandá e até nos pés de rama de bezerro] ou ficávamos atrás dos postes,etc, para passar pela aventura de ver os bois correndo bem perto e sentir aquela emoção, simples travessura de menino... 

Um dia lá vêm os vaqueiros com uma rês encaretada descendo pela estrada principal, recém-inaugurada e ao lado da estrada, perto da casa de seu Bruno haviam colocado um pilar de concreto com a placa [dessas que os governantes colocam para dizer eu sou o bom e vocês os idiotas que me colocaram aqui para eu me dar bem], bom, fato é que meu irmão achou de se esconder atrás dessa bendita placa e eu subi num poste da rede de energia, quando vi a coisa apertar, pois a rês vinha na direção do pilar, gritei para o meu irmão sair e ele, que é teimoso que só o cão, daquela vez atendeu e correu para a casa do seu Bruno e não deu outra a rês veio certeira e bateu no pilar, foi pedaço pra todo lado e rês pro outro e os vaqueiros não tiveram outra opção a não ser fazer o serviço sacrifical ali mesmo, eu fui espiar e agora que já sei ler em boi é que descobri o que significava aquelas letras MC ferrada na rês: Morte Certa, se meu irmão tivesse ficado lá atrás daquele pilar! Agora, tá doido! Ficar lembrando de bois, queijos, dela... beija-flor, azulão, galinhas...Ah! meu garnizé! Faça isso não... me corri água dos dois ói. Tem pena deu...

O cheiro da roça queimada

O cheiro do campo em flor

O cheiro do melão rachado

O cheiro do milho verde

O cheiro do arroz no cacho

O cheiro do meu curral

O cheiro da terra molhada

O cheiro da mata que traz

O cheiro da minha amada.

(Que há tempos não cheiro mais.)

 

Pra não dizer que não falei das cercas... Sorri muito, eu é que conheço as cercas modelo Piauí, [ formado na Universidade Agricolândense de Cercas Vivas & Mortas ] mas, sorri da tentativa das cercas de evitar os bacoris, eita leitõezinhos insuportáveis! Nem com canga, meu irmão! 

Quem sabe um pedaço de arame espetado no focinho, para não cavar e passar por baixo da cerca! Mas, confesso que prefiro as de Piracuruca, das pedras justapostas, mais pro modelo Oriente Médio, sem arames que cortam a paisagem e as coisas da gente...[quem tem entendimento, entenda.] talvez por admirar tremendamente as pedras.

Pedras & Pedras

Os muros são pedras

prédios são pedras

e as

casas também

e o coração dos homens vai vivendo,

no

dia-a-dia das

pedras.

Pedras de cimento no concreto

armado (amado)

da vida

ou

vegetação

porque são muitos sons e

todos

os sons vêm como pedras

nos ouvidos sensíveis da razão.

Qual?

A de ter até as imagens como pedras...

se eu tivesse três

apenas delas (preciosas) eu não

ladrilharia uma rua, pra quê?

Já tem tantas ladrilhadas... ficaria rico!

como o

pato, estava

com ouro no papo... eu nunca ouvi falar dessa

doença!

Mas, pedras, elas

estão em todos as partes: até nos rins...!

As pedras são como as rosas.

Todas

têm coração!

Eu ouvi o coração de uma bater. Quando?

Quando um vulcão a estava derretendo...

[by Palmeira Solitária, 2ª edição, ano 2000,SP] É, meu velho, tudo em cima. Pés de juá, de taturubá, meus pés de Maria mole, até num pé de unha de gato um dia [de noite, caçando, na espera] eu subi. E o medo da onça! Vixe Maria, Deus me livre. Tem que viver, ser, estar, pra poder ter autoridade na matéria e a autoridade repousa sobre a razão.

Como bem dissestes, o catálogo das mãos é inesgotável. Isso aqui no nosso planeta e donde viestes, como é????????? 

P.S.

Amei o material. poderei comentar dos sapos e dos livros-três pequenos enigmas, o que o tempo há de querer? e das pequenas alegrias posteriormente, pois no momento tenho que viajar ao exterior, vou ao Piauí, não sei se ouvistes falar nesse país... mas é vapt-vupt!

Diga-me, virás à São Paulo na Bienal Internacional do livro?

 

 

Texto comentado

&

Outras opiniões

&

Página do autor

 

 

Marília Gonçalves

Estudos e catálogos — mãos, palavras, âmago do dia, elevação de luz, você adeja poeta, pé fincado na terra, terra de  promessas e de colheitas perenes não posso deixar de lembrar, Ramalho Ortigão em As farpas quando alude a mãos que prestam e mãos que não prestam, as sua multifacetadas mãos, a verter a pura água da poesia que magnífica gestação desse parto constante onde sua realidade se traduz em obra sempre.

Um abraço amigo

Marília Gonçalves

 

 

 

 

Maria Helena Néri Garcez

 

Caro amigo Soares Feitosa,

Socorro-me de duas almas, meio-gêmeas minhas, para principiar esta nossa conversa: António Nobre e...  Noel Rosa.

Manuel, tens razão. Venho tarde, Desculpa. Do que se segue a este primeiro alexandrino de Anto, já não me valho. Mas valho-me do Noel, quando disse: Se um dia passo bem, dois e três passo mal... Isso é muito natural!  E assim vai o meu  híbrido mas sincero pedido de desculpas pelo atraso desta. Muita coisa no intermezzo e  difícil de explicar...

Saúdo, com alegria, as  Edições Cururu ! Quanta coisa bela e criativa! O Jornal de Poesia  já seria o suficiente para  minha admiração. Mas você  não pára, vai além. E isso é bom.

Como dizer que gostei imenso de seu texto Mãos, prefácio do Recordel de Virgílo Maia, se  não dizendo mesmo assim: gostei imenso de seu texto Mãos! Ele me transporta para um outro espaço, contexto, experiências e vivências que nunca puderam ser minhas, esta paulistana urbaníssima e desvairada que sou!!! Gostei, tanto do texto quanto da foto do Menino de 10 anos que se constituiu daquele viver... No campo, tão próximo aos bichos, partilhando de tantos rituais...

Só me afligiu, confesso, a matança do porco, como me afligiria também a dos bois,  ovelhas, cabras e até  a  das galinhas, se você as contasse. Quando nisso penso,  consolo-me, então, de ser urbana, mesmo se exasperada pelo super ruído dos helicópteros  e das motos que agora, neste preciso momento em que escrevo, estão a congestionar  céus  e ruas e  a metralhar-nos os nervos...

Abraço amigo,

Maria Helena Nery Garcez

 

 

 

Renata Pallottini

 

Meu caro Soares:

Você sempre arranja pra gente uma alegria nova. Deus te abençôe e às tuas Mãos!

Beijo da

Renata

 

Erika Jane

 

SOARES FEITOSA

Receber o teu presente foi como ouvir música clásssica em noite insone. Tuas palavras têm cheiro de flor de umburana e um gostinho unico de umbu!

Obrigada por fortalecer a minha esperança nas letras e palavras...

E espero um dia poder compartilhar os meus rabiscos com você e todos aqueles que vivem a poesia...

Mais uma vez obrigada e aguardo contato.

Erika Jane


 

Texto comentado

&

Outras opiniões

&

Página da autora

 

Leônidas Arruda


                      

I
Leônidas Arruda

Recebi “Estudos & Catálogos – Mãos”.
Li tudo de cabo a rabo sem tomar fôlego.
Vi a manhã montada no lombo do burro.
Ou-
      vi o aboio da tarde?

Vi o poeta costurando o couro do tempo
com agulha de ponta rombuda.
Remendando a vida
como quem remenda camisa rasgada.
Transformando a morte de cada dia
em vinho do Porto.

Matei e arre!matei a sede
bebendo literatura na coité.
Senti o cheiro da terra nua.
O fortum do esterco e da urina
nas unhas encravadas do pé-de-garrafa.

Voei nas asas da palavra solta
da língua-de-sogra
e montei no dorso do verbo fácil
do reino animal.

II

SO-
       ares feito-
                        SA
derrubando muros farpados
e cercas cabeludas.
Abrindo porteiras e portas
para retirantes apressados.
Escancarando janelas
para os campos da vida
onde alviverde floresce
o pendão da esperança
quase morta de tanto tremular
no peito pontudo do mastro varonil.

Vi crianças morrendo de fome
na esperança de serem salvas
pelo pão do céu – em outra vida.
Vi bichos andando com pés de roseira.
Pássaros aprendendo a voar
com as jangadas cearenses.

Mulheres com cabelo de milho verde.
Homens deixando rastros de pés-de-chumbo.

Deitei na rede de embalar sonhos
e sonhei com páginas viradas
pela contramão do tempo
- todas com brasão oficial -
- marca-d’água e fé pública -
e as impressões digitais dos dedos de Deus.


Vi gênesis acontecendo na palma da mão
e nas linhas da palavra (a)feto.
Vi o embrião de Deus pulando corda
no cordão umbilical do universo.

Lí a caligrafia dos vegetais ao pé da letra.
Ouvi o galo cantar na garganta dos “gg”.
Vi a seca correndo nas pernas dos “ss”.
As cabras berrando com todos os “rr”.
A chuva caindo nos pingos dos “is”.

III

Agora vamos tomar uma cachaça com limão

e tirar gosto com farofa de bunda de tanajura.
             
Para-
         béns de todos
e a felicidade geral da nação

FICA

para (en)cantar o Brasil do avesso.


    Goiânia/GO, madrugada do dia 27.04.2004.         

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

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