Universalíssimo
Poeta So-ares Feito S/A,
És deste planeta?
ou vieste de outro universo [dimensão] galáxia superior,
intracardíaca, cérebromeridionáltica? Sim, pois esse
poder de dar vida às palavras e fazer Cururus saltar para
dentro da gente sem estourar as glândulas venenosas e nos
ferir mortalmente, com certeza é um truque mágico novo! [que
o diga os buracos negros da vida ou vegetação] [Imagine,
isso só para ditar a razão do nome da editora, e tu tens
que me empurrar sapos, ainda mais cururus, goela abaixo?]
Me senti tal qual o super-homem atingido por sua inegável
arma de destruição de sua própria massa muscular e ocular
e... a fatal criptonita. Até porque não precisa me dar
aulas de cururus, eu os conheço muito bem! Coloquei um no bolso
uma vez, um cururu espirrou seu veneno nos meus olhos, lá
em Pernambuco, perto de Caruaru, e eu quase fiquei cego de um
ouvido... outra vez chutei um, sem querer, é, claro! [se eu
não disser assim, já, já, vem o greempeace me aporrinhar...
mas não adianta mais, o chute tá patenteado e já
foi copiado até por holliwood.]
Ainda outro dia coloquei
um
dentro das calças do meu amigo Luiz Dicosa, espie só se isso
é brincadeira! Um dia vi um à beira da Lagoa das Negas, lá
na feitoria dos leal, hoje Agricolândia, conversando com uma
pedra [ veja só! ] e quanto sentimento dentro da couraça horripilante
e inchatória do danado! A
pedra ficou tão comovida [com a feiúra do bicho, é claro!] que
lhe deu de presente uma lagartixa que havia “capturado” enquanto
a tal tomava o seu costumeiro banho de sol, e, agradecido
o dito cujo cantou o resto da noite, bem... quase...
até ser encontrado e apresentado a uma jibóia que passeava
por ali, e eu na beira da lagoa pescando, piscando pro
meu amigo Ivan, [ o terrível ] que acabara de fisgar uma traíra,
apontei para a cena que se desdobraria a seguir, dito e
feito. Tchau e bênção!
Até
hoje não esqueço
o
cantá do sapo,
[
o sapo cururu ],
na
madrugada,
do
meu sonho nu...
canto
que não
se
entende e não
se
sabe se é mesmo
...ou
é o som do
próprio
estômago
digerindo
a vida
da
outra que se foi,
ou
rindo à toa de
barriga
cheia,
[
como fazem os
mendigos
ou as
dentuças
hienas ]
caçoando
da triste
e
derradeira sorte
lagartixóide,
sem
amenos
pensar
no
seu próprio
(i
n) f e l i z
d
e s t i n o .
[feliz
é quem
feliz
se vai]
|
Esse
Estudos & Catálogos – Mãos, que me enviaste [junto com o
sapo cururu] é de uma profundidade intragaláctica e na verdade
eu gostaria de nesse momento pegar o primeiro jegue aéreo
rumo ao Ceará, mãos no bolso, à toa, à toa e ter a oportunidade
de sentado numa preguiçosa [feito Pantaleão, falo
da cadeira, é claro!] à beira do oroz ou mesmo no Não Me
Deixes, [se nos deixassem] quem sabe até naquela casinha do
saudoso Patativa do Assaré, [que completa o cenário perfeito
da visão] que eu vi na televisão, ou em Londres [tem
algum bairro com esse nome por aí?] onde tu nunca fostes
e muito menos eu,[o mais longe que eu estive foi em Nova
Iorque, interior do Maranhão] tete a tete, tecer os comentários
a respeito deste fenomenal pré – fácio será saber que
a obra é tal e qual [eu nunca vi uma carroça puxando os bois!].
Mas, como diria Saint Exupéri, “ só se ver bem com o coração,
o essencial é invisível aos olhos.” Por isso é preciso
viver, sentir, saber; Fica mais fácil compreender tudo
buscando dentro do baú cerebral chamado saudade a essência
do material feito, cheirado, cuspido, beijado, chupado,
imaginado, sabido, sonhado [...] à distância do tempo
que se foi e que não volta mais para a alegria de todos os
defuntos, é claro! Eu
digo isso porque agora, com tua escrita, é que compreendo o
porque daquele ferro quente, em brasa, [como um vulcão a queimar
o próprio corpo e derreter a alma] com o cabo de sabugo
de milho, [pobre visconde de sabugosa!] que papai usou em
duas vaquinhas que tinha [sonhando em ser fazendeiro, ô coitado!]
e que aquele cheiro de macaco sapecado inté hoje não
me sai da memória e depois ele me disse que tinha estudado
até a 4ª série!
Agora sim, me ficou tudo muito
claro:
A professora [que pagou o pato] foi a vaca, que serviu de
quadro negro [ até porque ela era malhada ] e o abcedário, o
ferro em brasa; Onde já se viu... aprender a ler nos bois ferrados!
Que estudo sofrido! Pra quem? Me
fez recordar também que toda vez que os vaqueiros iam buscar
os bois na mata, para faze-los passar para a barriga da
gente, os bichos vinham piados e encaretados e para nós, crianças,
era uma festa e eu, meu irmão, meus primos e meus amigos
subíamos nas árvores [pés de juá, taturubá, Maria mole,
unha de gato(?) nos mourões das cercas, mas só nos de jacarandá
e até nos pés de rama de bezerro] ou ficávamos atrás
dos postes,etc, para passar pela aventura de ver os bois
correndo bem perto e sentir aquela emoção, simples travessura
de menino...
Um dia lá
vêm os vaqueiros com uma rês
encaretada descendo pela estrada principal, recém-inaugurada
e ao lado da estrada, perto da casa de seu Bruno haviam
colocado um pilar de concreto com a placa [dessas que os
governantes colocam para dizer eu sou o bom e vocês os idiotas
que me colocaram aqui para eu me dar bem], bom, fato é
que meu irmão achou de se esconder atrás dessa bendita placa
e eu subi num poste da rede de energia, quando vi a coisa
apertar, pois a rês vinha na direção do pilar, gritei para
o meu irmão sair e ele, que é teimoso que só o cão, daquela
vez atendeu e correu para a casa do seu Bruno e não deu
outra a rês veio certeira e bateu no pilar, foi pedaço pra
todo lado e rês pro outro e os vaqueiros não tiveram outra
opção a não ser fazer o serviço sacrifical ali mesmo, eu
fui espiar e agora que já sei ler em boi é que descobri o que
significava aquelas letras MC ferrada na rês: Morte Certa,
se meu irmão tivesse ficado lá atrás daquele pilar! Agora,
tá doido! Ficar lembrando de bois, queijos, dela... beija-flor,
azulão, galinhas...Ah! meu garnizé! Faça isso não...
me corri água dos dois ói. Tem pena deu...
O
cheiro da roça queimada
O
cheiro do campo em flor
O
cheiro do melão rachado
O
cheiro do milho verde
O
cheiro do arroz no cacho
O
cheiro do meu curral
O
cheiro da terra molhada
O
cheiro da mata que traz
O
cheiro da minha amada.
(Que
há tempos não cheiro mais.)
|
Pra
não dizer que não falei das cercas... Sorri muito, eu é que
conheço as cercas modelo Piauí, [ formado na Universidade Agricolândense
de Cercas Vivas & Mortas ] mas, sorri da tentativa
das cercas de evitar os bacoris, eita leitõezinhos insuportáveis!
Nem com canga, meu irmão!
Quem sabe um pedaço
de
arame espetado no focinho, para não cavar e passar por baixo
da cerca! Mas, confesso que prefiro as de Piracuruca, das
pedras justapostas, mais pro modelo Oriente Médio, sem arames
que cortam a paisagem e as coisas da gente...[quem tem entendimento,
entenda.] talvez por admirar tremendamente as pedras.
Pedras
& Pedras
Os
muros são pedras
prédios
são pedras
e
as
casas
também
e
o coração dos homens vai vivendo,
no
dia-a-dia
das
pedras.
Pedras
de cimento no concreto
armado
(amado)
da
vida
ou
vegetação
porque
são muitos sons e
todos
os
sons vêm como pedras
nos
ouvidos sensíveis da razão.
Qual?
A
de ter até as imagens como pedras...
se
eu tivesse três
apenas
delas (preciosas) eu não
ladrilharia
uma rua, pra quê?
Já
tem tantas ladrilhadas... ficaria rico!
como
o
pato,
estava
com
ouro no papo... eu nunca ouvi falar dessa
doença!
Mas,
pedras, elas
estão
em todos as partes: até nos rins...!
As
pedras são como as rosas.
Todas
têm
coração!
Eu
ouvi o coração de uma bater. Quando?
Quando
um vulcão a estava derretendo...
|
[by
Palmeira Solitária, 2ª edição, ano 2000,SP] É,
meu velho, tudo em cima. Pés de juá, de taturubá, meus pés de
Maria mole, até num pé de unha de gato um dia [de noite, caçando,
na espera] eu subi. E o medo da onça! Vixe Maria, Deus
me livre. Tem que viver, ser, estar, pra poder ter autoridade
na matéria e a autoridade repousa sobre a razão.
Como
bem dissestes, o catálogo das mãos é inesgotável. Isso aqui
no nosso planeta e donde viestes, como é?????????
P.S.
Amei
o material. poderei comentar dos sapos e dos livros-três pequenos
enigmas, o que o tempo há de querer? e das pequenas alegrias
posteriormente, pois no momento tenho que viajar ao exterior,
vou ao Piauí, não sei se ouvistes falar nesse país...
mas é vapt-vupt!
Diga-me,
virás à São Paulo na Bienal Internacional do livro?
Marília Gonçalves
Estudos e catálogos —
mãos, palavras, âmago do dia, elevação de luz, você adeja
poeta, pé fincado na terra, terra de promessas e de
colheitas perenes não posso deixar de lembrar,
Ramalho Ortigão em As farpas quando alude a mãos que
prestam e mãos que não prestam, as sua multifacetadas mãos, a
verter a pura água da poesia que magnífica gestação desse parto
constante onde sua realidade se traduz em obra sempre.
Maria
Helena Néri Garcez
Caro
amigo Soares Feitosa,
Socorro-me de duas almas, meio-gêmeas minhas, para
principiar esta nossa conversa: António Nobre e...
Noel Rosa.
Manuel,
tens razão. Venho tarde, Desculpa. Do que se segue a este
primeiro alexandrino de Anto, já não me valho. Mas valho-me do
Noel, quando disse: Se um dia passo bem, dois e três passo
mal... Isso é muito natural! E
assim vai o meu híbrido
mas sincero pedido de desculpas pelo atraso desta. Muita coisa no intermezzo
e difícil de
explicar...
Saúdo, com alegria, as
Edições Cururu ! Quanta coisa bela e criativa! O Jornal
de Poesia já
seria o suficiente para minha
admiração. Mas você não pára, vai além. E isso é bom.
Como dizer que gostei imenso de seu texto Mãos,
prefácio do Recordel de Virgílo Maia, se
não dizendo mesmo assim: gostei imenso de seu texto Mãos!
Ele me transporta para um outro espaço, contexto, experiências e
vivências que nunca puderam ser minhas, esta paulistana urbaníssima
e desvairada que sou!!! Gostei, tanto do texto quanto da foto do
Menino de 10 anos que se constituiu daquele viver... No campo, tão
próximo aos bichos, partilhando de tantos rituais...
Só me afligiu, confesso, a matança do porco, como me
afligiria também a dos bois,
ovelhas, cabras e até
a das
galinhas, se você as contasse. Quando nisso penso,
consolo-me, então, de ser urbana, mesmo se exasperada pelo
super ruído dos helicópteros
e das motos que agora, neste preciso momento em que
escrevo, estão a congestionar
céus e ruas e
a metralhar-nos os nervos...
Abraço
amigo,
Maria
Helena Nery Garcez
Renata
Pallottini
Meu
caro Soares:
Você
sempre arranja pra gente uma alegria nova. Deus te abençôe e às
tuas Mãos!
Beijo
da
Renata
Erika
Jane
SOARES
FEITOSA
Receber
o teu presente foi como ouvir música clásssica em noite insone. Tuas
palavras têm cheiro de flor de umburana e um gostinho unico de
umbu!
Obrigada
por fortalecer a minha esperança nas letras e palavras...
E
espero um dia poder compartilhar os meus rabiscos com você e todos
aqueles que vivem a
poesia...
Mais
uma vez obrigada e aguardo contato.
Erika
Jane
Leônidas Arruda
I
Recebi “Estudos & Catálogos – Mãos”.
Li tudo de cabo a rabo sem tomar fôlego.
Vi a manhã montada no lombo do burro.
Ou-
vi o aboio da tarde?
Vi o poeta costurando o couro do tempo
com agulha de ponta rombuda.
Remendando a vida
como quem remenda camisa rasgada.
Transformando a morte de cada dia
em vinho do Porto.
Matei e arre!matei a sede
bebendo literatura na coité.
Senti o cheiro da terra nua.
O fortum do esterco e da urina
nas unhas encravadas do pé-de-garrafa.
Voei nas asas da palavra solta
da língua-de-sogra
e montei no dorso do verbo fácil
do reino animal.
II
SO-
ares feito-
SA
derrubando muros farpados
e cercas cabeludas.
Abrindo porteiras e portas
para retirantes apressados.
Escancarando janelas
para os campos da vida
onde alviverde floresce
o pendão da esperança
quase morta de tanto tremular
no peito pontudo do mastro varonil.
Vi crianças morrendo de fome
na esperança de serem salvas
pelo pão do céu – em outra vida.
Vi bichos andando com pés de roseira.
Pássaros aprendendo a voar
com as jangadas cearenses.
Mulheres com cabelo de milho verde.
Homens deixando rastros de pés-de-chumbo.
Deitei na rede de embalar sonhos
e sonhei com páginas viradas
pela contramão do tempo
- todas com brasão oficial -
- marca-d’água e fé pública -
e as impressões digitais dos dedos de Deus.
Vi gênesis acontecendo na palma da mão
e nas linhas da palavra (a)feto.
Vi o embrião de Deus pulando corda
no cordão umbilical do universo.
Lí a caligrafia dos vegetais ao pé da letra.
Ouvi o galo cantar na garganta dos “gg”.
Vi a seca correndo nas pernas dos “ss”.
As cabras berrando com todos os “rr”.
A chuva caindo nos pingos dos “is”.
III
Agora vamos tomar uma cachaça com limão
e tirar gosto com farofa de bunda de tanajura.
Para-
béns de todos
e a felicidade geral da nação
cê
FICA
para (en)cantar o Brasil do avesso.
Goiânia/GO, madrugada do dia 27.04.2004.