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Aníbal Beça


 

4 Cantares Bacantes

 

"Siglos de siglos hace que vas de mano em mano
Desde el ritón del griego al cuerno del germano."

Jorge Luis Borges



Bacante I

O mar lava a concha cava
e cava concha lava o mar,
como a língua limpa lava
tua concha antes de amar.
Delírio da estrela d'alva:
mistério da preamar
vinda e volta abrindo a aldrava
da concha do paladar.

Oh minhas parcas de mel!
Eu me afogo em mar de vinho
na espera de algum batel.,

Sou cantador de cordel:
estórias sabor marinho,
bacantes da moscantel!
 

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Thomas Colle,  The Return, 1837

Aníbal Beça



4 Cantares Bacantes


Bacante II


Canto a lira dissonante:
como custam meus cantares:
os cantochões dos solares
mais remotos que um levante.
Tua branca primavera
lança-perfume dos ares
profundo nácar dos pares
nas verdes ramas da hera.

A cigarra morta canta
tua tarde de passagem
que a voz do bronze levanta

louvores a teu passeio
de gazela: leve aragem
ao coração, meu anseio!
 

Próximo canto

   

 

Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova. 1864.

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Alphonsus Guimaraens Filho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Leighton, Lord Frederick ((British, 1830-1896), Girl, detail

Aníbal Beça


 

4 Cantares Bacantes


Bacante III


Leite de mulher amada
é como lua crescente
tetas de mel saliente,
feito de uva rosada.
Mais belo em sua nascente
rio de torrente domada;
solo de fruta doirada
delírio vivo de crente.

Por bebê-lo, hei renascer,
no olor de ouro buquê:
vinho suave de beber.

Bom na Germânia, porque
de origem, nas videiras
ouve-se a uva crescer!

 

Próximo canto

   

 

Velazquez, A forja de Vulcano

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Millôr Fernandes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), Reflexion, detail

Aníbal Beça



4 Cantares Bacantes


Bacante IV


São Mateus bebo teu verbo
conjugado na tintura.
semi-breve partitura
na regência d'um Efebo.
Ocarina chora uvas
esmagadas no sermão
e esconde no coração
gotas vermelhas de chuvas.

Um pombo pousa na taça
evangelho vivo de asas:
traz ao bico, verde salsa.

A boa nova rascante
que me entra pela boca
doce beijo da amante.
 

   

 

Michelangelo, Pietá

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Vicente Franz Cecim

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Morte de César, detalhe

Aníbal Beça



Dez Haicais para os Olhos da Amada


do encontro
teus olhos chegam
dança que não destrança
aos sons que almejam.

do carinho
Teus olhos traçam
nesse tão largo afago
curvas que abraçam.

da paixão
teus olhos ardem
ao lume qual perfume
brasas que espargem.

do amor
teus olhos brilham
entre luas azuis e nuas
a paz que trilham.

da entrega
teos olhos choram
em prece que enaltece
os salmos que oram.

da doação
teos olhos formam
das ázimas lagrimas
rios que ao mar tornam.

do cotidiano
teus olhos cantam
em temor ao desamor
males que espantam.

do desejo
teus olhos vibram
herpehos de desejos
no olor que aspiram.

do prazer
teus olhos quebram
momento e alumbramento
os tons que celebram.

do ciúme
teos olhos fitam
na ronda o meneio da onda
o mar que atiçam.

   

 

Um cronômetro para piscinas

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Cussy de Almeida