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Albertus Marques 

Poussin, The Exposition of Moses

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


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Cláudio Feldman

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Poussin, Rinaldo e Armida

 

 

 

 

 

Albertus Marques



Pequena biografia


Albertus Marques (Rio de Janeiro RJ 1930). Pintor e professor. Forma-se em comunicação social pela Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, em 1975, da qual se torna professor e diretor até 1980. Integra os Movimentos Concreto e Neoconcreto, trabalha com livros-poemas, múltiplos poéticos, poemas elétricos e permutacionais, explorando novas linguagens e recursos tecnológicos surgidos na década de 60, e participa com Hélio Oiticica, Amilcar de Castro, Lygia Pape, entre outros, da exposição Neoconcreta, no MAM/SP, em 1961.

 

Poussin, Rinaldo e Armida

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Rinaldo e Armida

 

 

 

 

 

Albertus Marques


Estudos & Catálogos - Mãos,

de Soares Feitosa

 

Meu caro Soares Feitosa,                                    

Obrigado pelo envio do teu “Estudos & Catálogos – Mãos”, texto que é prefácio do livro “Recordel”, de Virgílio Maia.

Depois de muitas leituras, e enormes e profundas observações, a gente pensa, e com razão, que já leu tudo que podia ser bom, e já viu tanto que, no mundo de todos os mundos de cada um, nada há mais o que destacar.

Mas aí nos chega esse “Estudos & Catálogos”, e todas as criações, já criadas, ficam devendo ainda um pouco muito, em termos de contados, todos os sentimentos ficam sombreados pelo sentir forte de quem narra, e qualquer escrita fica comparada a menor, diante dessa autenticidade.

Sabe, Feitosa, todas as letras já estão mais do que conhecidas, pois é com elas que se gravam as palavras do nosso pensamento, as palavras todas já existem nos dicionários, pois são veículos da composição dos sentimentos. São os poetas, que fazem de qualquer letra um significado especial; são os poetas que dão às palavras – conhecidas, um valor maior, um valor além, fazendo com que suas significações virem “significâncias” além do léxico, com o sentimento, com a arte do uso, e o emprego da beleza. Poesia.

Com o “A”, da marca dos bois.

O A, da marca dos bois, não uma simples letra, está uma história, às vezes, muitas histórias. É uma outra leitura,para quem a sabe ler, e um tanto de vivência – muito especial -, um universo de “coisas” naturais, que se juntam, se conjugam, se completam.

Mas elas existem porque existem, e muita gente nem sabe. É preciso que alguém fale delas, mas tem que ser alguém que bem as entenda, e que esteja bem enquadrado, nesse mundo. E mesmo assim, se disser só, fica tudo parecendo pouco. É preciso alguém, que diga mais que o comum, que traduza esse comum para sua importância. É preciso um poeta. Um poeta narrador.

De vaca mais bonita, ao touro nomeado. Ferros de bois. E quem sabe das coisas, conhece os catálogos. Dos ferros, das águas, o catálogo dos leites. Coisas especiais, de queijos e coalhadas, seu fabrico, seus cuidados. Sua arte. A arte dos couros, o catálogo das cercas (“somos terras e cercas”).

E as mãos? As mãos que fazem, que dominam, que acessam, que distribuem seus cumprimentos. Mãos de tarefas. Como diz Feitosa, é um catálogo inesgotável e a poesia, a poesia de todas as coisas, em todas as coisas. A poesia de todas as mãos, de autenticidade de um Soares Feitosa. As coisas sempre foram, mas só as conhecemos quando alguém fala delas. Nos seus catálogos infinitos. Com a arte de dizer.

Essas mãos sempre se encontram, pois a poesia viaja qualquer distância, nos sentimentos ditados por um poeta. E os dizeres têm os seus catálogos; catálogos de beleza, de poesia. Que Soares Feitosa conhece bem, quando diz ”o mel não pode ser por demais espesso, nem muito fino, nem a farinha, peneirada, ou por demais caroçuda”.

Parabéns, Soares Feitosa, por toda essa poesia feita escrita, parabéns por essa exposição de autenticidade. Parabéns por esse “Estudos & Catálogos – Mãos” tão no ponto.  

pelas minhas mãos

passam poeiras intencionais;

nelas

sinto os pés

de outros quens,

suas gotas de suor

 

é satisfação

pingar-me sobre eles;

sinto mãos nas minhas mãos;

sujas de terras,

limpas de terra.

                                            Um abraço do Albertus.

 

 

 

 

Poussin, Rinaldo e Armida

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Triumph of Neptune

 

 

 

 

 

Albertus Marques


 

JOELHOS & MEL,

de Soares Feitosa  

 

Todo mundo que entende de mel, sabe que existem muitos, de muitas qualidades, com sabores diversos, e com tais características. Dependem dos sítios das colméias, das flores que fornecem o pólen, do tipo de abelhas, e até do modo de seu preparo. Quem entende, entende.

Mas não tem nada a ver com quem come. E até o mel de engenho, é uma questão de gosto, um entendimento diferente.

Com a farinha, acontece o mesmo. Por este Brasil afora, há farinhas e farinhas, que nem sempre são as do nosso gosto. Todas são diferentes. E o que é peculiar, o país inteiro fabrica farinha, mas ninguém, nenhum habitante, come a farinha de outra localidade que não a do seu costume. Nenhum nortista usa a farinha fina, fabricada no sul, e o pessoal do centro não se amarra naquela farinha caroçuda do Nordeste, ainda mais a da Bahia, amarelada, e a do Pará e Amazonas, grossas toda vida. Gostosas, como são chamadas, e queridas. Mas quem come farinha, gosta da sua, da sua terra, feita, naturalmente, do seu jeito, com a sua manha.

Mas quem entende de poesia, sabe mais. Conhece um mel, que não tem rótulo, nem fabricante conhecido. É de engenho, ou de fazenda. Geralmente, conhece esse mel desde a infância, e guarda o seu sabor no baú de lembranças das coisas gostosas, já vividas.

Quem entende de poesia conhece, entende, dessa farinha, que não é nem muito caroçuda, ou peneirada demais. Cheia de amor. Daquele amor natural, que não se chama, só se sente.

E são as mães que mais entendem desses gostos, de suas qualidades e quantidades. Desses méis, dessas farinhas. E tudo o que se diz, e o que se explica sobre, é pouco. É pouco e inútil. Pois não é uma questão de entendimento de ciências. É mais, de sentimentos.

Minha mãe fazia um bolo, que todos adoravam. Não tinha nome. Nem receita. Espalhava a massa no tabuleiro, que ia para o forno, e pronto. Quando saía, ainda quente, levava uma cobertura, de limão e açúcar. A qualidade do limão, o peso do açúcar. Nem ela sabia. O tabuleiro já estava torto e gasto, de tanto ir ao forno. E eu adorava aquela parte mais fininha, queimadinha. Quando lhe perguntavam epla receita, dizia, calma, que não sabia. Todos pensavam que ela estava escondendo o seu segredo. E estava. O açúcar tinha de ser peneirado, mão não muito. A farinha, idem. A manteiga era o que havia. Ovos, de casa. E tudo era mexido com uma colher de pau, idosa, como a receita. Com muito amor. Sem esquecer o fermento.

Soares Feitosa sabe desses entendimentos. E é tão feliz, que nem conhece o mel de engenho, e a farinha, nem muito peneirada, nem por demias caroçuda. E mais que isso, o ritual “mais, mãe”, “mais mel”.

Feitosa, ninguém pode entender essa receita. Só se tier tudo isso que você tem, que você conhece. Só se chegar a essa dosagem ideal, de amor, e de poesia. Sem esquecer o fermento da recordação.

Mas Feitosa entende. É poeta. E os seus joelhos, e os de sua mãe, não esquecem disso...E aí, se está muito perto de um entendimento total. Dos joelhos. E do mel.

 

Albertus Marques

            Com um abraço.

Poussin, The Triumph of Neptune

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

John William Godward (British, 1861-1922), Belleza Pompeiana, detail

 

 

 

 

 

Albertus Marques


 

Eu queria te amar, ainda mais

do que te amo. Eu queria

te ver mais, mais ainda do que

vejo. Eu queria. Te sentir

muito mais do que eu já sinto.

Eu queria

te querer, muito mais do que já

quero. Eu queria te viver

ainda mais do que já vivo.

Eu queria ter você, muito mais

do que já tenho. Eu queria

te buscar muito mais do que eu

já encontro.

 

E você, você não tem que

Fazer nada.

Apenas ser amada. A amada

que me ama.

 

John William Godward (British, 1861-1922), Belleza Pompeiana, detail

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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