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Antônio Miranda

antoniomiranda49@hotmail.com

 

Poesia


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 

 

 

 


 

Fortuna: 

 

 


 

 

Alguma notícia do(a) autor(a):

 

Antônio Miranda

Thomas Colle,  The Return, 1837

Floriano Martins

 

Antônio Massa

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Maria Georgina Albuquerque

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Winterhalter Franz Xavier, Alemanha, Florinda

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ana Peluso

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Victor Mikhailovich Vasnetsov, Rússia, 1848-1926, The Knight at the Crossroads

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Rosane Villela

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Riviere Briton, 1840-1920, UK, Una e o leão

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Astrid Cabral

 

 

 

Antônio Miranda


 

ANTEPASTO

 

 Tudo o que o Poeta escreve

está resumido

numa única palavra: Solidão.

 

 

Escrever é distanciar-se do mundo

para poder entendê-lo

é uma forma de morrer.

 

 

Viver é outra coisa

ainda que alienada.

 

 

Eu trocaria mil rimas

por uma noite de amor.

 

 

E trocaria um belo poema

sobre a fome

por um singelo prato de comida.


 

 

 

ANTES DE NASCER, EU OUVIA

 

Antes de nascer, ouvia e gravava,

sem entender: gritos, buzinas, canções.

Sem consciência do mundo, eu gravava.

 

Sons em movimento, eu inteligia?

era o alimento que vinha, ou tardava,

anunciado pelos passos, predizia?

 

Eu me saciava e não sabia, mas

havia, sim, havia, o esperar, e

uma certeza de que algo viria.

 

E eu me alimentava, sem comer;

sem saber, eu me satisfazia.

E ouvia, sim, eu ouvia e entendia.

 

Faço a regressão, vou em busca

do entendimento que não tinha,

mas sabia, sem saber, eu sabia.

 

Tento decifrar o que ficou gravado.

Não sei o que é, Mas o que não sei

molda tudo o que sei, e o que serei.

 

Minha mãe triste, — eu sentia!—,

minha mãe aflita estampada

em minhas entranhas, mãe-filho.

 

Ainda estamos juntos, depois da ida

num eco sem som, decifrando sons

extintos, indeléveis, tatuados na memória.

 

Memória física, em códigos que

eu não domino, que me domina.

Como Champolion, tento entender-me. 

[21.09.2008]

 

 

 

EM MONASTIR

 

Das muralhas de Monastir

percebo séculos de enfrentamentos

vastidões sem fim

e nenhuma remissão.

 

Muçulmanos e cristãos

numa investida sem concertação

até os confins da terra

até os fins dos tempos.

 

Estão filmando O Nazareno

e figurantes árabes se vestem como judeus

e açoitam o divino descendente.

 

O produtor inglês, depois, entrega cheques à multidão

que invade o super-mercado

no milagre da multiplicação dos pães.

 

[23/06/06]

 

NOTA

Monastir é uma cidade histórica da Tunísia, onde Antonio Miranda esteve de férias em 1975. Parte das filmagens da citada produção “bíblica” teve lugar junto às muralhas da cidade. O termo concertação não está dicionarizado mas expressa bem o que o autor pretende dizer quanto à necessidade de diálogo e acerto entre as civilizações. A foto mostra o autor na referida cidade.

 

 

 

SUICÍDIO DE MAIAKÓVSKI

 

 

os jornais me espreitam

anunciando minha despedida:

anúncios! eu-havido

 

 

em nota funerária= rodapé:

(letras mínimas!)

 

 

o passamento, passa tempo

os jornais me observam

já na véspera, vespertina

— jamais, nunca, ninguém.

 

 

morte anunciada nos jornais

o poema antecipa a morte

em suicídio ou despedida

 

 

“Fechem, fechem os olhos dos jornais!” [*]

 

 

É no poema que me recolho

encolho

olho

o.

 

 

Vou ao meu funeral, cantando. 

 _____

[*] Trecho de “A Mãe e o Crepúsculo Morto pelos Alemães” (1914), de Vladimir Maiakóvski, em tradução de Haroldo de Campos).

 

 

MAIAKOVSKIANAS

 

1

 

Preso às palavras

como o Cristo na cruz:

pregos, pregos, palavras.

 

Palavras-vértebras

que me sustentam

— vivem de mim.

Nelas eu vivo.

 

 

 

2

 

Crânio-arquivo:

versos

ventríloquos

vertendo a alegria.

 

 

 

3

 

Ódio ao burguês!

 

Aqui, seguro,

e o escuro porvir.

 

 

 

4

 

“Bananas-ananás!”

Juízes em prontidão

degustam frases

sentenciam alíneas

e vociferam incisos.

 

Sem futuro,

diante do muro.

 

 

 

5

 

Meus versos de cesura e

esta conjura de burocratas

contra o verso libertário.

 

“Sem forma revolucionária

não há arte revolucionária!”

 

 Não desço ao povo

— que o povo ascenda

e me entenda.

 

Contra a poesia estacionária

prisioneira do verso marmóreo

e incorpóreo!

 

 

 

6

 

Céus de letras rebuscadas

e horizontes de arame-farpado.

 

Que o verso-aríete

rompa o vazio do discurso

oficial. Que o poema-pua

avance sobre as redações do dia.

 

Ao “poder das rimas imprevistas”. [*]

 

_____

[*] Verso de Maiakóvski no poema “Escárnios”, de 1916, em tradução de Augusto de Campos e Boris Schnaiderman.

 

 

 

 

 

O CASAMENTO

 

O noivo veio a cavalo.

Não tinha parentes nas redondezas.

 

Recebeu a menina depois dos ofícios

(do sacrifício no altar)

como quem recebe uma encomenda

e enganchou-a na garupa

para uma viagem de incômodos

e soluços.

 

 

Via-a como um fardo

que agora deveria alimentar

e servir-se dela como esposa.

 

 

Ela sentiu a gravidade de seu desterro.

 

 

 

 

 

CÍRCULOS

 

o círculo inclui

o quadrado que

inclui o triângulo

em que me incluo

 

 

das altas esferas

que incluem os

planetas em que

a terra, em que

Brasília, em

que eu

que

— circulo e me

circuns

(e)screvo

 

[Brasília, 1/4/2008]

 

 

   
Xenia Antunes

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Adelaide Lessa

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Notas sobre a escritura de

Antônio Miranda

 

 

 

 

 

 

He estado leyendo los “Versos Itinerantes”, que desde Venezuela has tenido la generosidad de dedicarme tan afectuosamente, y te felicito, una vez más, por el verdadero sentido poético que trasuntan. A través de ellos, el rico paisaje amazônico llega al lector, con su fascinación espléndida, con sus infinitos matices, captados por un poeta que une el Don de ver al de expresar, con estructuras muy de nuestro tiempo.

MANUEL MUJICA LÁINEZ (Argentina)


 

Autor con una consistente y aguda faena que se muestra en los más de cuarenta títulos publicados, es un hombre asaltado por las mil preguntas de su tiempo. Precisamente esta vasta producción revela una ávida inquietud intelectual y una dinámica expresiva insaciable.

(...)A él lo caracteriza una percepción sagaz, una mirada sumamente lúcida, un deslumbrante sentido común. ¿Es posible hacer poesía desde la lucidez? ¿No se ha dicho siempre que los poetas tienen algo de locura, de intuición sobrenatural, de avivado subconsciente? Todas estas son suposiciones y mitos. No es que esos elementos no conformen determinadas poéticas y las asistan para alcanzar sus mejores luces. Pero la lucidez es también un conducto de poesía. Es el instrumento por el cual el poeta puede orientarse mejor en la realidad y descubrir aquello que es esencial, auténtico y trascendente.

 

MANUEL GARCÍA VERDECIA (Cuba)


 

Corroboro, até mesmo por empatia, a leitura de Pérez-Laborde, e a ela adiciono outros olhares, ao apontar as singularidades de sua poesia: a transitoriedade pelos cânones e ismos sem se permitir amarras ou um paideuma estanque, o direcionamento poético totalizante, a reflexão metafísica, o jogo dos eus em função da alteridade, a brasilidade edênica/exótica/endêmica e crítica, a artitude oximoresca pessoana de fingir “ser otimista para salvar-se da ruína”; a desconstrução na esteira derruidizante de um Antoine Compagnon em “O demônio da teoria”: “não há mais lugar para a autoria” (Despertar das águas); a visão pan-ica a envolver um maniqueísmo sublime, inquietante; a ousadia lingüística em função de uma consciente irreverência poética; a “pluridimensionalidade expressionista que caracteriza muitos de seus poemas”; as reflexões metatextuais que dessacralizam a poesia na própria poesia, donde poder ser ela “uma perversão sublime” (Per ver sos).

 

MÁRCIO ALMEIDA (Brasil)


 

Como os decía, Antonio Miranda es un anti-poeta dispuesto a dinamitar las convenciones. Desdeña el poema presuntamente perfecto, geométrico, cartesiano. A menudo sus textos rescatan escenas breves, trazadas a machetazos, a pinceladas breves, impresionistas. Escenas interrumpidas, en la línea de lo que en los últimos años viene denominándose la “fragmentación del discurso”. Fragmentos de realidad que se superponen entre sí, entrecruzando diversos registros idiomáticos. Puede desplazarse desde el lenguaje más culto a la lengua más popular, por ejemplo. O utilizar versos que se acercan al versolibrismo para luego escribir un poema muy trabado formalmente, repleto de delicadas asonancias internas. Por eso afirmo que sus libros son interesantes: porque están vivos, en continua ebullición a los ojos del lector.

 

EDUARDO GARCÍA (Espanha) | Prêmio Nacional de Crítica de Poesia 2009

     

 

   
Elizabeth Marinheiro

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Edna Menezes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

6.7.2005